As investigações sobre o assassinato da estudante Melissa Campos, de 14 anos, dentro de uma sala de aula em Uberaba, Minas Gerais, apontaram que o crime foi planejado por dois colegas de classe, ambos com a mesma idade da vítima. A Polícia Civil e o Ministério Público do estado apresentaram os resultados da apuração em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (20), destacando que a motivação não foi bullying, misoginia ou qualquer desentendimento anterior, mas, segundo os investigadores, inveja e escolha aleatória.
De acordo com o delegado Edson Moreira, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) à revista Veja, o principal autor confessou, em conversa informal, que sentia inveja da colega. “Ele já a conhecia há muitos anos, mas não havia um relacionamento afetivo entre eles”, afirmou.
Edson frisou que o crime não está ligado a desafios da internet ou a um plano maior. “Foi um crime frugal. Foi um plano de adolescentes de 14 anos que, por mais abjeto que seja, foi estancado naquele momento. Não há risco de uma reiteração da conduta”, ressaltou. Para ele, não há indícios de envolvimento de terceiros: “O crime foi cometido por dois adolescentes. Um executor e um partícipe apenas”.
Já o delegado Cyro Moreira, também da Polícia Civil, afirmou ao UOL que Melissa foi escolhida ao acaso. Segundo ele, a jovem foi atacada de surpresa após receber um bilhete com uma “sentença de morte”. “O autor tomou a vítima de surpresa, desferindo um golpe de faca no seu coração. Antes, entregou a ela uma sentença de morte em que informava que ela seria condenada à morte por estrangulamento, mas acabou usando uma faca”, detalhou.

A investigação descartou a existência de uma lista de vítimas ou a intenção de cometer um massacre. “Havia um plano que partia principalmente da mente do primeiro envolvido. Ele queria uma vítima específica, que foi escolhida no dia. Por isso, afirmamos que não existe uma lista [de vítimas]. O que houve foi o planejamento de um ato infracional análogo ao homicídio”, completou Cyro.
Imagens das câmeras de segurança registraram Melissa lendo o papel segundos antes do ataque. A primeira versão divulgada pela imprensa afirmava que a arma do crime teria sido uma tesoura, mas a informação foi corrigida posteriormente. Após o ataque, o agressor saiu da sala andando e foi localizado horas depois, na rodovia AMG-2595, com apoio de uma denúncia anônima.
A faca foi encontrada cravada em uma árvore. O adolescente confessou o crime e apontou o envolvimento de um segundo colega, que foi apreendido dois dias depois. Ambos estão internados provisoriamente em um centro socioeducativo.
Relembre o caso
Melissa foi morta na manhã do dia 8 de maio, dentro da sala de aula do 9º ano, no Colégio Livre Aprender, em Uberaba. Ela foi atingida por um golpe de faca no tórax enquanto lia o bilhete entregue por um dos adolescentes. Um professor da escola, que também cursa o 10º período de medicina, tentou socorrê-la até a chegada do Samu, mas a jovem não resistiu.
O crime foi presenciado por colegas, incluindo a filha do músico Chaene da Gama, da banda Black Pantera. “Foi uma cena horrível. Eu com 41 anos nunca vi uma cena dessas. Minha filha tem 13. O ódio é uma coisa terrível, as crianças estão sofrendo”, disse.
A tragédia causou grande comoção na cidade. A Prefeitura de Uberaba decretou luto oficial de três dias e a prefeita Elisa Araújo destacou a importância do diálogo e da escuta ativa com os adolescentes: “A adolescência é uma fase complexa, cheia de desafios. E nossos jovens precisam sentir que não estão sozinhos”.
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O Ministério da Educação enviou psicólogos especializados em crises para apoiar as escolas da cidade. As atividades no colégio foram suspensas por tempo indeterminado. A escola também afirmou que está prestando apoio psicológico à comunidade escolar.
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