Na quinta-feira (17), Jordélia Pereira Barbosa, de 35 anos, foi presa suspeita de envenenar um ovo de Páscoa. O crime resultou na morte de uma criança de 7 anos e deixou outras duas pessoas em estado grave, no Maranhão. Segundo informações do g1, a mulher percorreu cerca de 384 km — de Santa Inês, no Vale do Pindaré, até Imperatriz, no sudoeste do estado — para cometer o crime. Horas antes, ela chegou a promover uma falsa degustação de trufas de chocolate.
De acordo com a Polícia Civil do Maranhão, Jordélia embarcou em um ônibus interestadual por volta das 0h30 da quarta-feira (16), saindo de Santa Inês, e chegou em Imperatriz ainda pela manhã. Lá, se hospedou usando um crachá falso.
As investigações apontam que Jordélia se passou por uma mulher trans, utilizando o nome falso de Gabrielle Barcelli ao fazer a reserva em um hotel. Para justificar a ausência de documentos oficiais, alegou estar em processo de retificação de gênero. Como forma de identificação, apresentou crachás falsos de uma suposta empresa de gastronomia na qual afirmava trabalhar.

Degustação
Para dar credibilidade à sua história, ela realizou uma suposta degustação de trufas de chocolate nas proximidades do local de trabalho de Mirian Lira, uma das vítimas. Segundo as autoridades, Jordélia chegou a mostrar bilhetes — que se acredita serem falsificados — com feedbacks de supostos participantes da degustação. Um deles dizia: “Uma sensação incrível, uma explosão de sabor”.

Na tarde de quarta-feira (16), por volta das 15h, ela foi flagrada por câmeras de segurança, disfarçada com peruca preta e óculos escuros, em uma loja de chocolates em Imperatriz. No local, comprou um ovo de Páscoa que, segundo as investigações, teria sido o mesmo usado no envenenamento da família. O presente foi entregue na residência de Mirian por um motoboy, ainda naquela noite.
O ovo vinha acompanhado de um bilhete com a mensagem: “Com amor, para Mirian Lira. Feliz Páscoa”. Em entrevista à TV Mirante, a irmã de Mirian, Naiza Santos, relatou que a vítima recebeu uma ligação logo após o recebimento do presente. “Ela só recebeu a ligação, a voz era de uma mulher, perguntando se ela tinha recebido o ovo de Páscoa. Ela disse: ‘Recebi sim, quem é?’. E a mulher no telefone disse: ‘Você vai saber quem é’. E desligou e não disse nada”, contou.
Três pessoas da mesma família comeram o doce. Luís Fernando, de 7 anos, filho de Mirian, foi o primeiro a apresentar sintomas. O pai do menino — ex-marido de Mirian — foi chamado e levou o filho ao Hospital Municipal de Imperatriz (HMI). A criança chegou a ser entubada, mas não resistiu e morreu horas depois, ainda na quinta-feira (17).
A mãe, Mirian, e a filha mais velha, Evelyn Fernanda Rocha Silva, seguem internadas em estado grave e entubadas no mesmo hospital. Ambas também consumiram o ovo de Páscoa. A perícia está analisando o chocolate para confirmar a presença de substâncias tóxicas e determinar a causa da morte do menino.

Na mesma quarta-feira (16), às 23h50, Jordélia foi vista novamente por câmeras de segurança no hotel onde se hospedava. Nas imagens, aparece deitada em um sofá, mexendo no celular. Já na madrugada de quinta-feira (17), por volta das 2h30, ela deixou a cidade em um ônibus intermunicipal com destino a Santa Inês.

O crime
A Polícia Civil do Maranhão montou um quebra-cabeça a partir de imagens de segurança, registros de compras e depoimentos de familiares e testemunhas, o que permitiu chegar até Jordélia. Ela foi interceptada assim que desceu do ônibus em Santa Inês e presa em flagrante. Com ela, os policiais apreenderam duas perucas, restos de chocolate em bolsas térmicas e uma passagem de ônibus. Todos os itens foram anexados ao inquérito como provas.

Segundo o delegado Ederson Martins, adjunto operacional da Polícia Civil e responsável pelo caso, os indícios apontam que o crime foi cuidadosamente premeditado. A motivação, segundo ele, teria sido ciúmes e vingança, já que Jordélia é ex-companheira do atual namorado de Mirian.
Durante o depoimento, Jordélia admitiu ter comprado o chocolate, mas negou ter colocado veneno no produto. A Justiça decretou sua prisão preventiva na sexta-feira (18), e ela deverá ser transferida para o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.
O delegado-geral da Polícia Civil do Maranhão, Manoel Almeida, afirmou que todas as evidências apontam Jordélia como autora do crime. “A gente pode dizer, com o que já colhemos até agora, que temos elementos suficientes para apontar essa autoria para essa pessoa que foi presa. Agora a gente vai esclarecer os detalhes. Que veneno foi esse, o tipo, isso a perícia vai apontar, para que possamos robustecer a nossa investigação e apresentá-la ao Judiciário”, declarou.
Amostras do chocolate foram encaminhadas ao Instituto de Criminalística, e o laudo deve sair em até 10 dias. Também foram solicitadas análises do sangue das vítimas e dos produtos encontrados com a suspeita.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques