O “Fantástico” deste domingo (25) esmiuçou o caso da ex-diretora do Instituto Philippe Pinel, Mara Faget, acusada de manipular seus pacientes para aplicar golpes financeiros. Segundo relatos de vítimas, ela chegou a pedir dinheiro durante as consultas, e fez com que uma família a ajudasse com um total de R$ 800 mil.
Uma mulher procurou a psiquiatra em 2014 para tratar uma compulsão por compras. Ao jornalístico, a paciente contou que Mara usava as sessões de psicanálise para relatar supostos problemas pessoais, como doenças na família e dificuldades financeiras. “Eu fui ficando com confusão mental. Minhas primas perceberam que havia algo errado. Aí foi que eu falei: ‘Bom, a Mara me pediu dinheiro e está em cima de mim“, revelou.
Conforme a paciente, Mara alegou que o marido dela estava doente e que o plano de saúde não cobria as despesas. “Ela me pediu dinheiro dentro da consulta de psicanálise. Eu comecei com cinco mil, depois ela foi pedindo“, disse a vítima, que chegou a fazer empréstimos que somaram R$ 92 mil. “Eu fiquei tão insolvente. Fui morar de favor na casa da minha prima“, lamentou.
A mulher implorou para a psiquiatra pagar as dívidas, mas nunca recebeu o dinheiro. O caso foi parar na polícia, e Mara acabou indiciada por crime de estelionato. No início deste ano, dez anos depois do primeiro empréstimo, Mara reconheceu a dívida de R$ 90 mil e fez um acordo judicial para pagá-la de forma parcelada. “É um sentimento que dá muita vergonha da gente cair em um golpe desse“, desabafou.

Segundo a reportagem, a paciente não foi a única a levar um golpe da psiquiatra. Mais oito vítimas apontaram um padrão no comportamento de Mara e acabaram cedendo aos pedidos dela. Uma mulher, filha de uma paciente, revelou que a psiquiatra conseguiu um total de R$ 800 mil através das consultas e de um romance com outra integrante da família.
“Começou a tratar minha mãe em casa. E, nessa época, iniciou um relacionamento amoroso com a minha irmã. A partir daí, ela começou a pedir dinheiro inicialmente para minha mãe e, depois, já sem minha mãe ter conhecimento, começou a pegar dinheiro via minha irmã, manipulando a minha irmã“, falou. Conforme o relato, Mara usou a morte de um suposto marido “muito rico” para pedir os empréstimos.
Segundo a filha da paciente, a psiquiatra ainda fez um diagnóstico errado ao afirmar que a mãe tinha Alzheimer. “Levei a outros psiquiatras. Ela fez vários outros testes e não era Alzheimer. O quadro dela era só depressão e já estava em tratamento“, disse a mulher. Em 2017, a Justiça determinou que Mara pagasse R$ 950 mil reais para a família, mas até agora nada foi pago pelo fato de bens em nome dela que poderiam ser penhorados não terem sido localizados.
As denúncias contra a médica levaram o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) a cassar o registro dela em 2021. Ainda assim, ela continuou atendendo pacientes em seu consultório no Leblon, agora se apresentando como psicanalista, profissão que não exige diploma médico.

Laren Aniceto, jornalista e ex-paciente, descobriu a cassação do registro de Mara e decidiu investigar o passado da médica. Ela entrevistou 38 pessoas ligadas à psiquiatra e transformou a apuração em seu trabalho de conclusão na faculdade de jornalismo. “Ela pode convencer qualquer pessoa daquilo que ela quer como se as pessoas fossem marionetes“, opinou.
Segundo Laren, mesmo sem registro, Mara emitiu recibos de serviços médicos e o carimbou com seu número no CRM. Para o dominical, o Cremerj informou que uma pessoa com registro cassado não pode exercer a medicina no país, nem se apresentar como médica ou prestar algum serviço da área médica. “Se assim fizer, configura-se como exercício ilegal da profissão, tratando-se de um ato criminoso“, declarou.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro disse que a “ex-funcionária Mara Faget foi exonerada do cargo de diretora em 2018, e desde janeiro de 2023, não tem mais nenhum vínculo” com o Instituto Pinel. Em nota, o advogado da psiquiatra afirmou que “as acusações são levianas e carecem de qualquer respaldo fático ou jurídico“, que “ela jamais atuou como médica sem ter o registro” e que “não tem qualquer condenação judicial por estelionato“.
Veja a reportagem na íntegra:
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