Record e Igreja Universal tomam atitude após diretor ser acusado de assédio sexual por jornalista

Márcio Santos foi afastado da sua posição dentro da Record e da Igreja Universal do Reino de Deus

A Record TV e a Igreja Universal do Reino de Deus afastaram Márcio Santos das suas funções. A informação foi confirmada nesta terça-feira (28) pelo Notícias da TV. O diretor de Recursos Humanos da emissora está sendo acusado pelo jornalista Elian Matte de assédio sexual no ambiente de trabalho. De acordo com a publicação, Santos foi visto pela última vez na empresa na semana passada.

Ao colunista Gabriel Vaquer, do F5, a Igreja Universal afirmou que não permite a presença de funcionários ou voluntários investigados pela polícia. “O vínculo do senhor Márcio com a Universal era simplesmente de voluntário. Não tendo a Universal, assim, controle da vida privada de qualquer um dos milhares de voluntários que tem. Desde que soube do ocorrido, a Igreja o afastou da missão de voluntário, até que as investigações sejam concluídas”, declarou a instituição.

A depender do andamento das investigações policiais, o diretor deverá continuar trabalhando na Record por mais um ano, até a emissora decidir se ele seguirá no cargo ou será desligado da empresa. O mesmo aconteceu em 2019 com o jornalista Gerson de Souza, que recebeu acusações de assédio sexual de 12 mulheres que trabalhavam junto com ele na redação. Ele foi proibido de trabalhar por um ano e, em outubro de 2020, foi demitido.

Relembre o caso

O diretor de Recursos Humanos da Record, Márcio Santos, foi denunciado pelo jornalista Elian Matte por assédio sexual no ambiente de trabalho. A denúncia foi registrada na Polícia Civil de São Paulo no dia 14 de novembro. O comunicador, que é roteirista do programa “Câmera Record”, apresentado por Roberto Cabrini, revelou que a situação começou com convites de Santos para ele ir até a sua sala de reuniões.

De acordo com a revista Piauí, no boletim de ocorrência há descrições feitas por Matte de como os pedidos insistentes feitos pelo diretor aconteciam. Após receber três chamados para ir até a sala, sendo o último para um conversa mais pessoal, a interação entre os dois migrou para o WhatsApp. A partir daí, Santos passou a enviar mensagens supostamente com o teor sexual.

O jornalista disse que respondia as mensagens com medo de ser demitido. “São pedidos insistentes para sair e, apesar das minhas negativas, continuou com conversas em que pergunta o tamanho do meu órgão genital, em que diz que tem ciúme doentio por mim e que precisa de ajuda médica”, alegou ele em trecho do documento obtido pelo Notícias da TV.

“Eu até cedi por um período, tinha medo de cortá-lo e ser dispensado. Mas tudo piorou quando começou a usar a estrutura da TV para me monitorar”, falou. Segundo o roteirista, Santos chegou a enviar fotos suas feitas através das câmeras de monitoramento as quais só diretores da empresa tem acesso.

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Em uma das vezes, o diretor aproximou a câmera do volume da calça do jornalista e questionou sobre o tamanho órgão genital do funcionário. “Fez isso diversas vezes. Reclamou que eu não retribuía pornografias, reclamou que eu só o enrolava, pois não topava sair com ele”, declarou.  Em uma das mensagens, Santos chegou a pedir para que Matte não chegasse perto do carro dele no estacionamento, pois o sequestraria. Em outros momentos, chegou a a mandar dois presentes, um tênis e um perfume, colocados em cima da mesa do jornalista na redação.

A situação ficou tão intensa que Matte apresentou sintomas da síndrome de burnout, distúrbio que causa estresse e esgotamento físico em situações de trabalho desgastante. Ele procurou a clínica médica oferecida pela Record, que confirmou o diagnóstico. Todavia, a médica que atendeu o jornalista alterou o atestado pouco tempo depois com receio de ser demitida.

“Ela me afastou, me diagnosticou com burnout. Uma semana depois, me enviou várias mensagens dizendo que foi ameaçada pela direção e precisava me enviar um novo atestado modificado, pois era proibido na emissora o diagnóstico de burnout. Estou com os atestados alterados. Houve quebra do sigilo médico, alguém do RH ameaçou a médica”, relatou ele.

O roteirista chegou a contar a situação para Antonio Guerreiro, o vice-presidente de jornalismo da Record, como uma maneira de pedir ajuda. Ele teve uma reunião com Clovis Rabelo, diretor de estratégias e conteúdo de jornalismo, e Fabiano de Souza, gerente de produção executiva de jornalismo, ambos amigos de Santos.

Matte disse que na ocasião se sentiu intimado de compartilhar detalhes do ocorrido. Por isso, ele decidiu falar com Luiz Claudio da Silva Costa, presidente da Record, por meio de e-mail, mas nunca teve resposta. A última tentativa do jornalista foi o contato com Edinomar Galter, diretor jurídico, que o aconselhou a fazer um boletim de ocorrência.

Procurado pela revista Piauí, Santos negou as acusações. Ele disse que sabia “por cima” sobre a denúncia de assédio sexual, afirmou ser vítima de uma mentira e que tudo não passou de “brincadeiras”. Sobre uma das fotos que enviou com sunga e com o órgão genital ereto, ele alegou que a imagem foi tirada de contexto.

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O diretor também se pronunciou sobre o uso das câmeras de circuito interno para tirar fotos de Matte. “Eu estava brincando, até porque ele tirava foto minha do celular. Assim como eu tirava [fotos pelas câmeras da empresa], uma única ou duas vezes, dizendo que ‘tô vendo você passando’”, falou. Segundo a publicação, dentro da Record o assunto é tratado com “medo e silêncio”.

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