A socialite de 88 anos de Copacabana, que estava desaparecida desde o fim do ano passado, revelou mais detalhes sobre a relação com seu ex-motorista. Regina Lemos Gonçalves concedeu entrevista ao “Fantástico” e afirmou ter ficado presa por 10 anos em seu apartamento luxuoso no Edifício Chopin, no Rio de Janeiro.
Viúva e sem filhos, a idosa herdou uma fortuna bilionária quando o marido morreu, há 30 anos. Fazendeiro e empresário, Nestor Gonçalves chegou a ser dono do parque gráfico que produzia os baralhos Copag. Regina era bastante conhecida por realizar festas extravagantes, mas deixou de ser vista nas áreas comuns do prédio nos últimos 10 anos.
Os amigos e vizinhos ficaram preocupados com o sumiço e fizeram uma denúncia anônima ao Ministério Público do Rio, em maio de 2022. No documento, obtido pela programa dominical, eles afirmaram que tentaram em vão, nos últimos meses, entrar em contato com a socialite, inclusive por telefone. No entanto, era o ex-motorista que sempre atendia as ligações. Quando o contato era pessoalmente, ele apresentava “negativas evasivas” e alegava “doença” para não falarem diretamente com Regina.
Na reportagem, a idosa disse que estava “ótima” e afirmou que o ex-motorista a isolava. “Eu vivia sem poder ter contato com ninguém, ficava em cativeiro. Ele é apenas um chofer e um chofer sem condições“, disse ela. Regina contou que contratou o ex-motorista em 2010, entretanto, ele afirmou à Justiça que começou a trabalhar com a socialite antes. Ainda, ele declarou que vivia um relacionamento amoroso com a idosa. “Mas é uma audácia! Um atrevimento, eu nunca admiti isso“, rebateu Regina.
No entanto, o “Fantástico” exibiu uma escritura declaratória de constituição de união estável, registrada em 2021. Na época, o ex-motorista estava com 50 anos e Regina com 85. O documento informou que ambos se encontravam “em pleno uso e gozo de suas faculdade mentais“, principalmente a socialite. Dois atestados psiquiátricos também foram apresentados como comprovação.
O documento diz que “em caso de eventual incapacidade mental, completa ou parcial, transitória ou definitiva“, de um dos dois, “deve ser nomeado como seu curador e representante legal o outro em detrimento de quaisquer outros porventura existentes“. A declaração, ainda, teria sido gravada em vídeo. Regina, por sua vez, não se lembra de ter assinado a união estável.
Família e amigos se pronunciam
Carlos Queiroz, analista de TI e sobrinho de Regina, contou que achou “estranho” o relacionamento da tia com o ex-funcionário, após a morte de Nestor. “Por causa da idade dela, ela tinha feito um pacto. Depois que meu tio morreu, ela disse que nunca mais iria casar. Ela era apaixonada por ele, ele era tudo pra ela. Eu achei muito estranho“, disse ele.
Álvaro O’Hara, estilista e amigo de Regina, também comentou sobre a relação e afirmou que a socialite vivia sob o efeito de remédios. “A Regina jamais ia se envolver com uma pessoa como ele. O nível da Regina… Não é que eu a coloque como uma pessoa melhor que todo mundo. É que não se comunica essa história, ela sempre o teve como o funcionário“, declarou. “Uma pessoa coagida, drogada, dopada, com medo. Se mulheres jovens, atuantes na internet, sofrem esse tipo de assédio e ficam anos sendo maltratadas por homem, imagina uma senhora da Belle Époque, uma mulher romântica, clássica e que só teve um homem a vida inteira?“, acrescentou.
Laudos médicos
Em 2022, em resposta a uma notificação da família, que pedia notícias da idosa, foi apresentado outro laudo que afirmava que ela estava bem mentalmente. A resposta foi assinada tanto pela socialite quanto pelo ex-motorista. Em dezembro do ano passado, o-ex-funcionário entregou à Justiça um terceiro laudo médico psiquiátrico, que dizia que Regina estava com “quadro demencial avançado” e “déficit cognitivo grave, o que a incapacitava para a prática dos atos da vida civil“.
“Ele queria dizer que eu já não falava coisa com coisa. Estava completamente, isso ou aquilo… Eu falei: ‘É um desaforo muito grande’“, disse a idosa, que, em seguida, falou como conseguiu escapar do ex-motorista. “Eu resolvi fugir. Resolvi pôr um final nisso. O dia que eu fui procurar a casa do meu irmão, falei, cheguei, eles assustaram. Eu havia emagrecido mais de 30 quilos. Tava osso puro“, revelou.
Após fugir, Regina foi para o apartamento de um irmão, também em Copacabana. Um funcionário do edifício, localizado na Rua Djalma Ulrich, afirmou que Regina ficou abrigada no local por dois meses. A família contou que ficou “horrorizada” com o estado de saúde dela e entrou com um pedido de proteção para ela. A Justiça concedeu a medida protetiva no dia seguinte, afirmando que o ex-motorista precisa ficar, no mínimo, 250 metros longe da idosa.
“Quantas mulheres com a idade dela passam por situações parecidas com ela? Então significa que ela é duplamente vítima. Ela é vítima por ser mulher e vítima por ser idosa. Então é muito difícil às vezes a palavra da vítima nessa idade ser realmente reconhecida. E ela fala com toda grandeza o que ela passou“, disse Beatriz Abraão de Oliveira, advogada de Regina.
No dia 6 de janeiro, o ex-motorista conseguiu sair do apartamento, segundo os porteiros, assim que viu a polícia chegar ao local. Ele declarou, ainda, dias depois, que Regina só saiu de casa porque teve um “surto decorrente de seu estado frágil e de confusão mental“. Mesmo com a medida protetiva, ele também conseguiu o direito de ser o curador dela, e o poder de administrar todo o patrimônio da socialite, assim como previsto na união estável.
Patrimônio, herança e testamento
Segundo a família, Regina possui centenas de apartamentos, terrenos e mansões. Em um condomínio em São Conrado, na Zona Sul do Rio, ela é dona de 4 casarões. A socialite afirmou que o ex-motorista controlava sua vida financeira há muitos anos. “Não deixou um tostão. Ele pegava o meu… Meus documentos, ia ali cartão de crédito, ia gastando, gastando“, disse ela.
A defesa de Regina relatou que há provas de que o ex-funcionário “dilapidou o patrimônio”. Os parentes também revelaram que tentavam afastá-lo desde 2016. Ainda de acordo com os familiares da idosa, a herança deixada por Nestor, morto em 1994, foi de cerca de 500 milhões de dólares, ou seja, dois bilhões e meio de reais, segundo a cotação atual.
Além de raras esculturas e obras de artistas consagrados, como Pablo Picasso, o apartamento no Edifício Chopin ainda guardava 15 milhões em joias, pedras preciosas e barras de ouro, em sete cofres que foram esvaziados no período em que ela ficou fora da moradia. “Eu conhecia todas as joias dela. Sumiu tudo. Ela tinha riviera de rubi. Sumiu tudo. Van Cleef, Bulgari, Cartier, peças valiosas, diamante, chocolate, dourado, coisas raras. Não tem mais nada, nada“, lamentou O’Hara.
Dois testamentos foram produzidos para controlar o patrimônio. O primeiro beneficiava somente o ex-motorista. O segundo, feito este ano, dividia a herança entre o irmão de Regina e o sobrinho dela. A divisão dos bens também vai ser decidida na Justiça. Para o futuro, a socialite contou que deseja ver o show de Madonna, na praia de Copacabana, com as amigas. Além disso, ela pretende tirar as películas da janela que deixam o apartamento escuro. “Quero voltar a ser feliz. Porque pra mim tudo é festa“, finalizou.
A socialite Narcisa Tamborindeguy, que era vizinha de Regina, também participou brevemente da reportagem. “Maravilhosa, poderosa, livre, leve e solta!“, celebrou Narcisa, ao entrar no apartamento com seu jeito efusivo. “Vamos para o show da Madonna, eu e a Regina“, anunciou ela, enquanto a amiga dava risada. “Eu fiquei muito preocupada, porque eu te ligava e ela não atendia o telefone, ninguém mais sabia da Regina. Ela desapareceu durante dez anos, né, Regina?!“, confirmou Narcisa.
O ex-motorista e o advogado dele não se pronunciaram sobre o caso. Entretanto, ele concedeu entrevista ao Metrópoles e disse que todas as acusações são falsas. Saiba mais detalhes, clicando aqui. Veja a entrevista completa:
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