Na noite desta terça-feira (4), Júlia Andrade Cathermol Pimenta, suspeita de matar o empresário Luiz Marcelo Ormond com um brigadeirão envenenado, se entregou à polícia e foi presa. Ela estava foragida desde o dia 22 de maio, quando prestou depoimento. Um vídeo publicado pelo g1, mostrou o momento em que ela chegou na 25ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro.
No dia do depoimento, o delegado responsável pelo caso disse que ainda não havia base legal para a prisão. “Naquele momento não [tinha base legal para prendê-la]. Porque ela não estava em flagrante e até aquele momento nós estávamos procurando a autoria e entender o que tinha acontecido“, esclareceu Marcos Buss.
As autoridades acreditam que Júlia tenha recebido ajuda para se esconder na Região dos Lagos. Ainda na terça-feira, a advogada confirmou que a suspeita se entregaria. A mãe e o padrasto dela, Carla Cathermol e Marino Leandro, também prestaram depoimento ontem. Eles chegaram à 25ª Delegacia de Polícia por volta das 19h e foram ouvidos em salas separadas.
Os depoimentos, no entanto, estavam marcados para as 15h. Como eles não compareceram voluntariamente ao local, foram conduzidos por agentes de Maricá até o Rio. Já a suspeita chegou com a cabeça coberta por um capuz, acompanhada aparentemente pela advogada. Assista:
Suspeita de matar namorado com brigadeirão envenenado se entrega à polícia pic.twitter.com/M6ZUsZf8sl
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) June 5, 2024
O caso
Em 20 de maio, os vizinhos sentiram um cheiro forte vindo do apartamento de Júlia Pimenta e Luiz Marcelo, no Engenho Novo, e chamaram os bombeiros. O empresário foi encontrado, sem vida, no sofá de casa. Seu corpo já estava em estado avançado de decomposição. A perícia revelou que ele teria falecido entre três a seis dias antes da descoberta.
A teoria é que a vítima ingeriu um brigadeirão envenenado feito pela companheira. Entretanto, até o momento, um laudo conclusivo sobre a causa da morte não foi divulgado. A suspeita de envenenamento ganhou força depois que imagens do dia 17 de maio vieram à tona. No registro, o empresário aparece carregando o doce, cerca de três dias antes de seu corpo ser encontrado.
O remédio Dimorf, à base de morfina, teria sido comprado pela suspeita com receita médica no dia 6 de maio. Em depoimento nesta segunda-feira (3), um funcionário da farmácia afirmou que viu Júlia sair de um carro alto, prata, pelo banco do carona, antes da compra. Os representantes da farmácia apresentaram um documento interno que comprova o pagamento de R$ 158 pelo medicamento. Segundo o portal g1, eles prometeram levar a receita à delegacia em “uma próxima oportunidade”.
A Polícia Civil também pediu medidas cautelares para detectar as movimentações financeiras de Júlia. De acordo com o delegado, ela se apropriou de bens e de quantias em dinheiro da vítima. “Já recuperamos alguns bens da vítima, o automóvel da vítima, devo me preocupar com a localização das armas, que podem ou não estar na posse da Júlia”, destacou o policial.
As suspeitas sobre o envolvimento de Pimenta surgiram durante o interrogatório. Até então, a polícia não considerava a possibilidade de homicídio, mas de morte suspeita. No entanto, a postura da mulher ao falar sobre o falecimento de seu ex-parceiro foi descrita como “extremamente fria”, o que alarmou as autoridades.
A mulher chegou a rir ao relatar detalhes da convivência com o companheiro. “Ele me comprou um buquê. Aí eu falei assim: ‘Tu não tem que me comprar nada que eu não sou sua mãe'”, disse ela na ocasião, com um sorriso no rosto. Após o depoimento, foi solicitado mandado de prisão à Justiça.
As informações obtidas durante a investigação sugerem que o crime teria sido motivado por questões financeiras. “Nós temos elementos que a Júlia estava em processo de formalização de uma união estável com a vítima. Mas, em determinado momento, o que nos parece, é que a vítima desistiu da formalização da união”, pontuou Marcos Buss. “Então isso até robustece a hipótese de homicídio e não de um latrocínio, puro e simples, porque o plano inicial me parecia ser realmente eliminar a vítima depois que essa união estável estivesse formalizada”, completou.
As autoridades também descobriram que Júlia adquiriu medicamentos de uso controlado dias antes da morte do empresário. Após a prisão da cigana Suyany Breschack, também suspeita de envolvimento no caso, a teoria de envenenamento se consolidou ainda mais. “Ela me disse: ‘Não estou mais aguentando esse porco, esse nojento, eu vou matar ele'”, contou a mulher em depoimento.
Suyany e Júlia teriam se conhecido quando a suspeita buscou os serviços espirituais da profissional. “Ela pedia sempre banho, limpeza, descarrego para ele [Luiz Marcelo] não descobrir que ela estava fazendo programa, para mãe não descobrir que ela estava fazendo programa”, revelou.
Ao longo da relação, Júlia teria acumulado uma dívida de quase 600 mil reais com a mulher que se apresenta como cigana. “Há elementos que indicam que a Suyany foi a destinatária de todos os bens do empresário após a morte dele”, afirmou o delegado.
Em sua versão, Suyany confirmou que Júlia teria assassinado Luiz Marcelo com o medicamento Dimorf, moendo a droga no brigadeirão. Elas teriam conversado logo após o crime, quando Júlia levou o carro da vítima como pagamento de parte da dívida. No veículo, foram encontrados objetos como um computador e armas legalizadas, todos no nome do empresário.
Victor Ernesto de Souza, ex-namorado de Suyany, foi preso por receptação após receber o carro de Luiz Marcelo. O advogado da cigana, Cleison Rocha, se manifestou após a prisão: “A Suyany trabalha com cartas e búzios e a Júlia era cliente dela. A Suyany é inocente e não tem a ver com os fatos criminosos em questão”.