ouça este conteúdo
|
readme.ai
|
O turista Jorge Alex Alves Duarte, de 54 anos, morreu na manhã deste domingo (16), após passar mal enquanto subia as escadarias do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. O vigilante, que visitava a cidade pela primeira vez, sofreu um mal súbito e recebeu os primeiros socorros de sua nora, Melissa Schiwe, que é enfermeira. No entanto, o atendimento médico no local estava fechado naquele horário, o que gerou críticas da família e levou o Procon-RJ a interditar temporariamente o acesso ao monumento.
Jorge, que era morador de Canoas, no Rio Grande do Sul, estava acompanhado de seu filho, Alex Magalhães Duarte, e de Melissa. Segundo a família, o trio havia subido o Corcovado de van e, ao iniciar a caminhada pelas escadas até o monumento, Jorge passou mal repentinamente e caiu. Melissa percebeu rapidamente que se tratava de uma parada cardíaca e iniciou os primeiros socorros.
“Comecei a gritar pra todo mundo no parque ‘é parada cardíaca’”, contou a nora da vítima ao g1. Ela realizou massagem cardíaca por cerca de cinco minutos, até que outras pessoas se aproximaram para ajudar, incluindo um funcionário de uma loja local e o padre João Damasceno, da capela do Cristo Redentor.
Segundo Melissa, o desfibrilador só foi levado ao local após seu pedido, mas, naquele momento, Jorge já não esboçava mais reação. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou às 8h13, cerca de 34 minutos depois do mal súbito, e constatou o óbito no local.
Ver essa foto no Instagram
O caso ganhou repercussão porque, no momento do incidente, o posto médico no Alto Corcovado estava fechado. A concessionária Trem do Corcovado, responsável pelo funcionamento do local, informou que a equipe de socorristas só começa a trabalhar a partir das 8h, horário em que o primeiro trem chega ao topo do Corcovado. Como Jorge e sua família subiram de van, eles chegaram antes desse horário.
Já o ICMBio, órgão federal que administra o Parque Nacional da Tijuca, onde fica o Cristo Redentor, alegou que a responsabilidade pelo atendimento de emergência é da concessionária. “A manutenção e o pleno funcionamento do posto de primeiros socorros são de responsabilidade da empresa concessionária Trem do Corcovado, conforme previsto no contrato fiscalizado pelo Instituto Chico Mendes”, informou o órgão.
O Trem do Corcovado, por sua vez, negou que tenha havido falhas no atendimento e afirmou que seus socorristas chegaram ao local com um desfibrilador logo após o incidente, mas que “não houve possibilidade alguma de salvamento”. No entanto, a família da vítima contesta essa versão e afirma que houve demora na chegada dos profissionais.
Medidas adotadas
Na segunda-feira (17), o Procon-RJ realizou uma vistoria no local e determinou a interdição da venda de bilhetes para o trem do Corcovado. O sistema de vans que leva turistas ao monumento também foi temporariamente paralisado. Segundo o secretário de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca, o posto médico do local só começa a funcionar às 9h e encerra as atividades às 17h, deixando visitantes sem assistência médica adequada durante boa parte do dia. “Se os consumidores subirem, estiverem lá e precisarem de atendimento médico, não tem”, criticou o secretário.
Após uma reunião com autoridades, ficou decidido que os acessos ao Cristo Redentor seriam reabertos nesta terça-feira (18), desde que algumas medidas fossem adotadas.

Os advogados da família de Jorge Alex afirmaram que pretendem acionar judicialmente os responsáveis pelo atendimento médico no local, alegando falha na prestação do serviço e omissão de socorro. Segundo eles, além da ausência de uma equipe de pronto atendimento no momento do incidente, não havia estrutura para um transporte emergencial até um hospital próximo. A família ainda aguarda a chegada do corpo ao Rio Grande do Sul, onde será velado no Centro Ecumênico de São Leopoldo e, posteriormente, cremado.
Leia todas as notas na íntegra:
Nota do santuário
“Na manhã deste domingo, 16 de março, um senhor passou mal e faleceu nas escadarias do Complexo do Alto Corcovado, que dão acesso à visitação ao monumento ao Cristo Redentor. O Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor sente muito pela morte do visitante e está auxiliando a família desde o momento que soube sobre o ocorrido, prestando auxílio nos serviços funerários e se colocando à disposição da família. O corpo está sendo velado na Capela Laudato Si.
Segundo informações preliminares, o visitante subiu pela escada comum e passou mal às 7h39. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado imediatamente, chegando ao local às 8h13. No momento do acontecimento, o posto médico, que é de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ainda estava fechado, o que revela a falta de estrutura no Complexo do Alto Corcovado”.
“Acerca da interdição dos acessos à visitação ao monumento Cristo Redentor, esclarecemos que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que se autodenomina o poder concedente da área do entorno do Santuário Cristo Redentor, é a autoridade pública responsável por garantir a correta execução do contrato de concessão firmado com as concessionárias Trem do Corcovado e Paineiras Corcovado.
Isso significa que, ainda que a operação do posto médico tenha sido delegada à concessionária Trem do Corcovado, o dever de fiscalização e de garantir que o serviço esteja em funcionamento é exclusivamente do ICMBio, conforme prevê a Lei nº 8.987/1995.
Caso o órgão tivesse exercido sua função de forma diligente e identificado a falha na prestação de serviço, deveria ter aplicado as sanções cabíveis conforme previsto no contrato. No entanto, o ICMBio permaneceu inerte, permitindo que uma situação crítica de desassistência ocorresse dentro de um dos pontos turísticos mais visitados do mundo.
O Alto Corcovado não possui ambulância, acessibilidade universal, pontos de hidratação, brigadistas, banheiros adequados com acessibilidade, escadas rolantes e elevadores em pleno funcionamento, nem internet e sinal de telefonia de acesso público que permita que os visitantes possam fazer ligações.
A tentativa do ICMBio de transferir toda a responsabilidade à concessionária é uma manobra inaceitável, que escancara a negligência do órgão e sua incapacidade de garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes.
O Santuário Cristo Redentor não aceitará que esse triste episódio seja tratado com indiferença e exige que as medidas cabíveis sejam tomadas imediatamente, para que outra tragédia não ocorra por omissão do poder público.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro busca a todo momento colaborar com o desenvolvimento do Alto Corcovado, mas esbarra nos entraves burocráticos impostos pelo ICMBio. Diversos projetos estão sem o devido andamento sem nenhuma justificativa legal para tal, inclusive o de colocar uma ambulância de prontidão no Alto Corcovado.
Atualmente, existem dois Projetos de Lei tramitando no Congresso que objetivam devolver o Complexo do Alto Corcovado à Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável por sua construção há quase um século.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro está prestando todo o apoio e suporte à família, enviando ao Rio Grande do Sul, nesta segunda-feira, 17 de março, o sacerdote que conduziu o velório realizado na Capela Laudato Si, no Santuário, para acompanhar a família até a cidade de São Leopoldo”.
“O Parque Nacional da Tijuca/ICMBio informa que para aumentar a segurança dos visitantes do parque, irá custear uma ambulância que ficará de plantão durante todo o horário de visitação, localizada no Alto Corcovado.
Essa é uma das iniciativas firmadas na reunião que ocorreu na Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor, no fim da tarde desta segunda-feira (17/03/25), no Palácio Guanabara (Rio de Janeiro). Ficou acordado que o ICMBio irá disponibilizar o equipamento com recursos do Instituto, via encargos acessórios, após a concessionária Trem do Corcovado enviar um ofício fazendo esta solicitação.
Reforçamos ainda que as tratativas do ICMBio junto ao IPHAN para a rápida aprovação dos projetos de acessibilidade em todo o Alto Corcovado estão em andamento e as obras devem iniciar o quanto antes.
Cabe esclarecer, ainda, que a reunião desta tarde corroborou o que o ICMBio vinha informando publicamente: a manutenção e o pleno funcionamento do Posto de Primeiros Socorros no Alto do Corcovado é de responsabilidade da empresa concessionária Trem do Corcovado, conforme previsto no contrato fiscalizado pelo Instituto Chico Mendes. A reunião com o Procon reforçou que é de obrigação das concessionárias Trem do Corcovado e Paineiras-Corcovado cuidarem dos respectivos postos de primeiros socorros que ambas mantêm dentro do Parque.
O ICMBio reforça que está cumprindo com a sua responsabilidade de órgão fiscalizador e está apurando, junto a concessionária, as circunstâncias da triste fatalidade, com o falecimento de um turista no último domingo (16/03/25), no Alto Corcovado”.
Nota do ICMBio
“A administração do Parque Nacional da Tijuca (ICMBio) lamenta profundamente o falecimento de um visitante na manhã deste domingo (16/03/25), ocorrido no Alto Corcovado, e se solidariza com os familiares e amigos neste momento de dor.
O Instituto agradece a todas as pessoas que buscaram prestar o atendimento à vítima que, infelizmente, não resistiu.
Informamos ainda que a manutenção e o pleno funcionamento do Posto de Primeiros Socorros no Alto do Corcovado é de responsabilidade da empresa concessionária Trem do Corcovado, conforme previsto no contrato fiscalizado pelo Instituto Chico Mendes. Diante do ocorrido, será aberta uma apuração para verificar as circunstâncias dessa triste fatalidade”.
Nota da concessionária
“O Trem do Corcovado funciona há 140 anos sem qualquer problema de operação. O Trem do Corcovado disponibiliza uma enfermaria com todos os equipamentos necessários aos primeiros socorros no Alto do Corcovado, com profissionais treinados, habilitados e certificados para manusear o desfibrilador.
Vale ressaltar, que a enfermaria está funcionando normalmente e os casos mais graves são conduzidos para o Hospital do Silvestre, que fica a 4 minutos do Monumento.
Na fatalidade ocorrida neste domingo (16/03), não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o SAMU”.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques