A universidade Unisagrado anunciou nesta quinta (16), que o trio de estudantes responsável por hostilizar uma aluna com mais de 40 anos desistiu do curso de biomedicina. A instituição ainda informou que a decisão foi tomada após a abertura de um processo disciplinar para apurar a conduta das jovens.
Entretanto, enquanto a investigação ainda estava em andamento, Giovana Cassalatti, Beatriz Pontes e Bárbara Calixto decidiram abandonar a graduação. Por este motivo, o recurso utilizado pela universidade foi finalizado, uma vez que “perdeu o objeto”.
Sem especificar o caso, a Unisagrado fez um posicionamento em suas redes sociais, no dia 11 de março, afirmando ser contra todo e qualquer tipo de discriminação: “Não compactuamos (…) Acreditamos que todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia. Isso tudo faz sentido para nós”.
O post seguiu abordando o caso de adultos que ingressam em uma universidade tardiamente. “As oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”, apontou a instituição. Veja:
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O alcance do vídeo chegou a ultrapassar os 7 milhões de visualizações em menos de uma semana desde que viralizou na internet. De acordo com a defesa de Giovana Cassalatti, a moça que publicou e participa da gravação, ela passou a ser “alvo de ameaças e linchamento virtual”. Em nota ao g1, o advogado dela, César Augusto da Silva, minimizou o caso, alegando que Giovana teria postado o vídeo apenas para seu grupo de ‘melhores amigos’, formado por 15 pessoas. A partir daí, um dos integrantes do grupo teria replicado o conteúdo em outras plataformas.
“Jamais objetivou-se atentar contra a imagem ou qualquer outro direito da personalidade pertencente à personagem alvo das falas contidas no vídeo, que, por sua vez, sequer teve seu nome citado”, apontou César. “Ressalta-se que as falas podem ter repercussão no campo moral. Entretanto, a tentativa de criminalização e as suposições quanto a possíveis atos ilícitos no âmbito civil, amplamente veiculadas nos últimos dias, ultrapassam a medida do razoável. Os fatos ganharam tamanha proporção que as jovens passaram a ser alvo de ameaças de morte e agressão, o que lhes impede de retomar suas vidas cotidianas. Trata-se, pois, de sequelas infinitamente maiores às, supostamente, impelidas a quaisquer dos personagens envolvidos no caso”, alegou.
Vídeo viral
Na última sexta (10), o registro que viralizou mostra três jovens debochando de Patrícia Linares, estudante do curso de biomedicina da universidade particular Unisagrado, em Bauru (SP), por ela estar estudando aos “40 anos”. “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”, questiona uma das meninas. “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”, responde outra. “Realmente”, concorda a terceira. “Gente, 40 anos não pode mais estudar, eu tenho essa opinião”, conclui a moça com o aparelho celular.
Estudantes debocham de colega de turma pic.twitter.com/qb7qOVbi0m
— Só Mídias (@MidiasSo) March 14, 2023
Ao g1, uma das meninas que aparecem no vídeo se manifestou, afirmando que todas se arrependeram da “brincadeira de mau gosto”. “Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse Bárbara Calixto. Todas maiores de idade, elas podem responder pelo caso na Justiça.
Patrícia se pronuncia
Nesta segunda (13), Patrícia concedeu uma entrevista ao mesmo portal, contando como descobriu sobre o vídeo e o choque que sentiu ao vê-lo. Linares também garantiu que não vai desistir da faculdade após o caso.
Ao longo da conversa, Patrícia lembrou que foi avisada sobre o que estava acontecendo pouco antes de apresentar um trabalho em sala de aula. “Nós tínhamos um trabalho de anatomia super difícil para apresentar. Durante o intervalo da aula, fui para o banheiro. Tinha várias pessoas olhando para mim. Pensei: ‘Meu Deus. O que será que está acontecendo?'”, contou.
Apesar de ter tomado o conhecimento do vídeo, a estudante de 44 anos disse que não queria assisti-lo naquele momento. Entretanto, uma das colegas de turma reproduziu mesmo assim. “Ela falou: ‘Patrícia, eu não queria, porque sei que vai te chatear, mas preciso te falar. Fizeram um vídeo caçoando da sua idade’, e me mostrou o vídeo. Eu olhei e comecei a chorar. Foi um misto de emoções. Eu estava preocupada com o trabalho e, ao mesmo tempo, tinha acabado de ver aquele vídeo deprimente”, lembrou.
Por fim, Linares encontrou consolo na família. “Me abalou profundamente. A tristeza que me abateu foi muito grande. Eu chorei muito. Quando cheguei em casa, contei para o meu esposo o que tinha acontecido, mandei para as minhas irmãs e aí tudo começou a acontecer”, lamentou. Apesar do choque, Patrícia garantiu que não pretende desistir do curso, que sempre foi o seu sonho, e agradeceu o apoio que recebeu até de desconhecidos após o vídeo viralizar.
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