Um vídeo que mostra um grupo de pessoas entrando em um rio carregando um caixão na cidade de Cândido Mendes, no Maranhão, chamou a atenção na web. O caso aconteceu nesta segunda-feira (3), no povoado Santa Izabel, uma comunidade quilombola. Parentes e amigos de Alex dos Santos Oliveira, de 44 anos, que morreu no domingo (2), levaram o corpo para um “banho no rio”.
Durante o trajeto, as pessoas ingeriam bebida alcoólica e gritavam, enquanto outras jogavam água sobre o caixão. Alex foi vítima de aneurisma cerebral e atuava há cerca de 22 anos como agente de saúde na zona rural de Cândido Mendes. Ao g1, o filho dele, Aécio Oliveira, relatou que o pai havia pedido um velório alegre e que fosse mantida a tradição de passar com o caixão por dentro do rio Gapó.
🚨VEJA: Família leva homem morto em caixão para ‘tomar banho’ de rio: “Isso é uma tradição no nosso povoado, toda pessoa que morre lá eles fazem isso.” pic.twitter.com/7fbSEfliDy
— Mundo 🌎 Extraordinário (@MundoExtra_Ord) June 6, 2024
O comerciante Haynir Pereira, que é um amigo da família, explicou que a comunidade não é abastecida por água encanada, então o rio fez parte da infância de Alex, já que as pessoas tomam banho e lavam roupa no rio. “Ele foi criado tomando banho naquele rio. E os amigos sabiam do amor dele pelo rio e, em vez de passarem por cima da ponte na hora da caminhada até o cemitério, passaram por baixo da ponte, por dentro do rio”, contou.
Ainda de acordo com Haynir, o rio Gapó faz parte do percurso da comunidade até o cemitério mais perto e a região, agora que ganhou uma estrada, sendo que antes não tinha como passar por outro lugar para enterrar os mortos, se não fosse atravessando o rio. Por isso, criou-se essa tradição de atravessar o rio com o morto no caixão, por força da necessidade. Além disso, o velório atrai todas as comunidades vizinhas, que fazem um verdadeiro festejo.
“As pessoas que vêm velar o corpo, elas vêm das outras comunidades, a pé, de moto, e você tem que servir a comida para esse pessoal que vem de distante velar aquele ente querido. Então essa tradição é uma forma de respeito ao morto. Eu acho que o velório do Alex deu para mais de mil pessoas”, explicou.
O amigo de Alex ressaltou que o festejo foi uma forma de representar como o agente de saúde foi feliz em vida. “Ninguém desrespeitou ele, pelo contrário, respeitou-se uma tradição milenar, construída pelos quilombolas. Eles foram com alegria, bebendo cachaça, batendo com galhos de mato nas costas dos outros, se sujando de barro, então é para transparecer que foi com alegria que ele viveu”, afirmou.
Ele ainda falou sobre as críticas dos internautas, após o vídeo viralizar: “Quem faz comentário maldoso, é porque não conheceu a tradição e não conheceu o histórico do falecido, que era uma pessoa muito querida. Ele recebeu a visita do povo todo das comunidades vizinhas, mataram um boi, fizeram a comida no panelão, tudo dentro da tradição deles”.
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