Juliana Leite Rangel foi atingida na cabeça por disparos feitos por agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal), enquanto viajava com a família na Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, na véspera de Natal, 24 de dezembro. Neste domingo (29), o “Fantástico” exibiu imagens inéditas do caso, detalhando o ataque que deixou a estudante de 26 anos em estado gravíssimo.
De acordo com a reportagem, Juliana estava no banco traseiro do carro com o irmão e a namorada dele. O pai, Alexandre Rangel, dirigia o veículo, enquanto a mãe, Dayse Leite Rangel, segurava o cachorro da família no colo. No porta-malas, estava parte da ceia de Natal, que seria celebrada na casa da irmã de Juliana, Jéssica, em Niterói, na região metropolitana do Rio.
Ao passarem pela Rodovia Washington Luiz (BR-040), na altura de Duque de Caxias, o carro da família cruzou com uma viatura da PRF, o que culminou na tragédia. Imagens mostram os momentos finais da perseguição policial, com ambos os veículos já parados na pista.
A perícia realizada no carro da família apontou que cinco disparos atingiram a parte traseira do veículo. Outro tiro acertou o retrovisor esquerdo da viatura da PRF e, segundo a investigação, foi disparado pelos próprios agentes.
Juliana foi baleada na cabeça, enquanto o pai, Alexandre, sofreu um ferimento no dedo. “Eu estava dirigindo na pista de alta, a uns 90 ou 110 km/h. Olhei no retrovisor e vi um giroscópio. Achei que era uma ambulância, liguei a seta e dei passagem. Mas, quando o veículo chegou perto, veio atrás de mim. Percebi que não ia passar. Aí, liguei a seta e voltei. Quando voltei, mandaram bala, sem mandar parar. O estilhaço do vidro começou a espirrar na gente”, relatou Alexandre.
Helena Fernandes, cunhada de Juliana, também descreveu o momento aterrorizante. “Quando ouvi o primeiro tiro, achei que fossem fogos. Não nos abaixamos. Só fizemos isso quando Juliana pediu e sentimos os vidros batendo nas nossas costas”, disse Helena. “O tiro pegou direto nela”, lamentou o pai.
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Segundo testemunhas ouvidas pelo “Fantástico”, os policiais ficaram “sem ação” após atingirem Juliana. Um motoboy que presenciou o ocorrido registrou os agentes em vídeo. Os familiares afirmam que a PRF não prestou socorro, sendo a jovem auxiliada por policiais militares próximos ao local.
“Eles congelaram ali. Um dos agentes da PRF entrou em desespero. Corremos até o veículo e tentamos os primeiros socorros para salvar a vida dela”, relataram os cabos Luiz Fernando Fernandes da Silva e Leonardo Antônio Leite do Nascimento. Juntos, os PMs transferiram Juliana para outra viatura, que a levou ao hospital mais próximo. “A fração de segundos pode fazer diferença. Se demorássemos 10 ou 15 minutos, talvez ela não estivesse estável”, afirmou Silva.
Juliana passou por uma cirurgia de emergência de três horas para conter o sangramento. Desde então, está em coma induzido por tempo indeterminado. O último boletim médico indicou que a jovem apresenta quadro grave, mas estável, com melhora clínica. No momento, a sedação está sendo reduzida para avaliar estímulos neurológicos, embora uma análise completa ainda não seja possível.
O advogado da família, Ademir Claudino, anunciou: “Vamos buscar indenização por danos morais, materiais, estéticos e, se necessário, pensão vitalícia.” A família permanece abalada, mas confiante na recuperação de Juliana.
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A equipe da PRF envolvida no caso era composta por dois homens e uma mulher, armados com dois fuzis e uma pistola automática. Em depoimento, os agentes alegaram ter disparado após ouvirem supostos tiros ao se aproximarem do carro da família. Eles foram afastados preventivamente de suas funções, e o caso está sendo investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Sobre o caso, o diretor-geral da PRF, Fernando Oliveira, afirmou: “Eu preciso lhe reafirmar que os protocolos de procedimento da Polícia Rodoviária Federal não têm previsão para disparos em fundo de um veículo, salvo se esse veículo estiver representando alguma agressão injusta aos policiais. O que ocasionou a tomada de decisão dos nossos agentes para aquele procedimento é o que será apurado no processo disciplinar e o que será apurado pela Polícia Federal no processo que tange à parte criminal”.
Esse foi o terceiro caso, desde o ano passado, em que famílias foram vítimas de disparos por policiais rodoviários federais na mesma região. O Ministério Público Federal investiga todos os incidentes, incluindo o de Juliana. “É claro que os policiais não podem deixar de ser responsabilizados criminalmente, desde que fique provado que eles agiram com dolo, enfim, depois do devido processo legal”, afirmou Eduardo Santos de Oliveira Benones, procurador da República no Rio de Janeiro e chefe do controle externo da atividade policial.
O episódio aconteceu no mesmo dia em que o governo federal publicou um decreto para disciplinar o uso da força policial, exigindo que estados sigam protocolos padronizados para obter recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública. O decreto destaca que armas de fogo devem ser usadas como último recurso e nunca contra veículos que desrespeitem bloqueios ou pessoas desarmadas.
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