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Um vídeo mostra o momento em que Phelipe de Moura Ferreira e Luckas Viana dos Santos, dois brasileiros vítimas de tráfico humano, foram resgatados em Mianmar, no Sudeste Asiático, ao lado de outros imigrantes. Após o resgate, eles foram entregues às autoridades tailandesas e aguardam repatriação para o Brasil.
Os dois haviam sido atraídos por promessas de empregos falsos e ficaram mais de três meses sob cativeiro, sendo forçados a trabalhar para uma máfia de golpes cibernéticos. A fuga aconteceu neste sábado (8), quando eles conseguiram escapar do local com a ajuda da ONG internacional “The Exodus Road” e do Exército Democrático Karen Budista (DKBA), grupo armado de dissidentes das Forças Armadas local.
De acordo com a ONG, Phelipe e Luckas serão entregues às autoridades brasileiras em Bangkok nesta quinta-feira (13). A Embaixada do Brasil já entrou em contato com as famílias de ambos e confirmou que se reunirá com eles no sábado (15), segundo a GloboNews.
Brasileiros vítimas de tráfico humano são resgatados. Luckas e Phelipe foram mantidos reféns por mais de três meses em Mianmar.
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— GloboNews (@GloboNews) February 13, 2025
Como aconteceu a fuga
Phelipe Ferreira avisou ao pai que tentaria escapar no fim de semana. Por mensagens enviadas, ele detalhou o plano: atravessar um rio com outras 85 pessoas e correr por dois quilômetros. Ele pediu orações e se despediu, caso algo desse errado. Veja:

“Ora por mim e pede para minha vó, Iorrana e todo mundo orar por nós para que tudo dê certo. São 85 pessoas. Eu só quero que tudo dê certo. Eu te amo, pai. Se acontecer algo comigo, saiba que eu tentei ao máximo”, escreveu.
Após a fuga, os dois foram levados para um centro de detenção em Mianmar e, em seguida, transferidos para a Tailândia. Lá, deverão aguardar por cerca de 15 dias, enquanto as autoridades verificam se são realmente vítimas do tráfico. Após esse período, serão liberados.
Antônio Carlos Ferreira, pai de Phelipe, contou que o filho conseguiu enviar mensagens por um número desconhecido, quando a máfia não o monitorava. “Ele me avisou sobre a fuga e a ONG também. Estávamos só na expectativa e, graças a Deus, o meu filho foi resgatado. Estou muito feliz, muito feliz mesmo. Você não sabe o que estou sentindo neste momento”, disse Antônio ao g1.
Cleide Viana, mãe de Luckas, também se mostrou aliviada, mas destacou que ainda há questões legais a serem resolvidas: “Graças a Deus ele foi resgatado. Agora, temos uma outra etapa, porque a gente precisa de ajuda das autoridades para novos passaportes. Eles fugiram e receberam a ajuda da ONG para conseguirem sair de novo da máfia, mas eles não têm passaporte e não podem ficar como ilegais no país”.

Cíntia Meirelles, diretora da ONG The Exodus Road, explicou que a fuga foi organizada entre os reféns, que conseguiram avisar suas famílias e ativistas sem serem descobertos pelos mafiosos. A ONG estava em contato com autoridades tailandesas, negociando a liberação de 361 pessoas, e Phelipe e Luckas foram incluídos nesse resgate. De acordo com Meirelles, após a chegada à Tailândia, os dois brasileiros passarão por um processo legal em um centro de detenção e serão liberados.
“No caso deles, a gente já tem toda a documentação. É um procedimento legal e, em 15 dias, eles serão liberados. Tendo a liberação, vão ser encaminhados para a embaixada que deve, aí sim, cumprir o repatriamento”, explicou.
Em nota, o Itamaraty expressou sua satisfação pela liberação dos dois brasileiros. “O Itamaraty, por meio de suas Embaixadas em Yangon, no Myanmar, e em Bangkok, na Tailândia, vinha solicitando os esforços das autoridades competentes, desde outubro do ano passado, para a liberação dos nacionais. O tema foi também tratado pela Embaixadora Maria Laura da Rocha, na ocasião na qualidade de Ministra substituta, durante a IV Sessão de Consultas Políticas Brasil-Myanmar, realizada em Brasília, em 28 de janeiro último. Em suas gestões, a Embaixadora Maria Laura da Rocha reforçou a necessidade de esforços contínuos para localizá-los e resgatá-los”, diz o comunicado.
Relembre o caso
Em outubro de 2024, o paulistano Luckas Viana dos Santos se tornou vítima de tráfico humano em Mianmar após aceitar uma proposta de emprego internacional. Ele foi sequestrado rumo a uma “fábrica de golpes” no país asiático. O brasileiro contou que tinha uma rotina de mais de 15 horas de trabalho forçado, sob ameaças e castigos.
“Compartilhe fotos minhas em todas as redes sociais, minha vida corre perigo. Fale a todos o que aconteceu, todos precisam saber”, escreveu. Em outra mensagem, ele contou que foi punido com choques, após descobrirem um de seus pedidos de socorro: “Só quero ir embora. Me ajude, tenho muito medo de morrer. Fazem dois dias que não tomo banho. Nós trabalhamos mais de 15 horas por dia. Isso não é vida, não sei o que fazer. Eu quero ir embora ou morrer”.
Segundo a prima de Luckas, ele foi traficado para “aplicar golpes” em estrangeiros, envolvendo criptomoedas, jogos de azar e investimentos fraudulentos. “A última notícia que tivemos foi que ele estava cheio de hematoma, sem conseguir andar direito pelos castigos que sofreu”, disse um amigo.

“Eles agridem a gente toda hora. Nem falar comigo ele [Luckas] pode, porque eles proibiram desde que eu cheguei aqui. Nos falamos escondidos. Também não podemos demonstrar tristeza, se não nos punem. Se eu sumir já sabe que fizeram algo comigo. Só por favor não manda mensagem para os chineses, não quero que ninguém mais se machuque”, disse Phelipe nas mensagens enviadas para a sua irmã em dezembro.


“Eles vão tirar nossos órgãos. Como ficar calmo assim?”, escreveu Phelipe ao pai. Antônio revelou que o filho implorava para que o resgate chegasse logo,no entanto, ele se sentia “impotente” diante da falta de informações sobre o que estava sendo feito por parte das autoridades brasileiras e locais. Phelipe ainda contou à Antônio que acreditava que ele e Luckas seriam vendidos: “Eles tiraram umas fotos nossas. Acho que vão vender a gente”.
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