Um caseiro de 60 anos foi morto após ser atacado por uma onça no município de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. A Polícia Militar Ambiental confirmou a causa da morte após encontrar partes do corpo de Jorge Avalo ao lado de pegadas do felino, às margens do rio Miranda. Na madrugada desta quarta-feira (24), a onça-pintada apontada como responsável pelo ataque foi capturada no Pantanal sul-mato-grossense.
Segundo informações do g1, o animal rondava a mata quando foi localizado e apresentava sinais de desnutrição, pesando cerca de 94 kg. De acordo com o pesquisador Gediendson Araújo, que acompanhou o resgate, a onça estava “bem magra”, o que pode ter influenciado seu comportamento.
Nas imagens divulgadas pela PMA-MS (Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul), o felino aparece deitado, com acesso venoso e monitoramento da frequência cardíaca.


A onça teve como destino o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande. O local foi isolado para garantir o manejo adequado e a segurança da população — o acesso de pessoas não autorizadas está proibido. Assista:
Onça-pintada que matou um caseiro, chegou em um centro de reabilitação. O animal é um macho e chegou pesando 94kg e apresentou sinais de desnutrição. pic.twitter.com/qeUGtlIP2K
— Piuigiron (@virais_video) April 24, 2025
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Ainda segundo a PMA-MS, o animal passará por exames médicos que ajudarão a esclarecer o que levou ao ataque. Questionado pelo g1, o órgão ainda não confirmou quais evidências indicam que esta é, de fato, a mesma onça que matou Jorge, nem informou o que acontecerá com o felino após os procedimentos.
O ataque
De acordo com o g1, o coronel Carlos Rodrigues, da PMA, relatou que a ocorrência foi registrada por volta das 9h da manhã de segunda-feira (21). A suspeita é de que o ataque tenha ocorrido durante a madrugada. Durante as buscas, partes do corpo da vítima foram encontradas tanto às margens do rio quanto em uma toca de onça, a cerca de 300 metros do local.
Por se tratar de uma área de difícil acesso, helicópteros e drones foram utilizados na operação. Familiares de Jorge também participaram das buscas. Ele trabalhava como caseiro no pesqueiro Touro Morto, onde aconteceu o ataque.
Moradores ribeirinhos da região já haviam relatado a presença constante de onças nos arredores. Uma semana antes de morrer, Jorge gravou um vídeo alertando sobre os felinos no local. Na gravação, um homem o chama de “cunhado” e mostra rastros de duas onças ao lado da casa onde Jorge vivia.

Segundo o biólogo Tiago Leite, coordenador técnico do Instituto Profauna e especialista em Ecologia e Monitoramento Ambiental, tudo indica que Jorge foi vítima de um ataque predatório — quando o animal ataca com o intuito de se alimentar. A hipótese é compartilhada por outros pesquisadores envolvidos no caso.
Leite destacou que o caso é extremamente raro, pois felinos como a onça-pintada normalmente não predam seres humanos. No entanto, estudos apontam que em áreas impactadas ambientalmente, esses animais podem acabar recorrendo a presas não habituais.
“A onça capturada estava bem magra, o que, potencialmente, pode ter contribuído com o ataque. Um animal magro pode já ser mais idoso ou que está passando por algum tipo de problema e, portanto, poderia estar tendo dificuldade de capturar suas presas habituais no ambiente natural. Isso pode ter levado ele a buscar fontes de recurso mais fácil, como a presa humana, o que, sabemos, pode ser problemático passando a gerar conflitos comportamentais e por ocupação espacial”, explicou.
Ainda de acordo com o especialista, estão sendo avaliadas as opções para o destino do animal, caso seja confirmado que ele foi o responsável pelo ataque. Uma das possibilidades é transferi-lo para uma área mais preservada e isolada da presença humana. Outra alternativa seria encaminhá-lo ao Instituto Onça Pintada, em Goiás.
“Circulam alguns rumores de que estão pensando em encaminhar esse animal para ser tutelado pelo Instituto Onça Pintada, mas existem várias opiniões contrárias a isso, por se tratar de um animal selvagem que passou a vida toda na natureza, e por entenderem que não seria justo ou digno enviá-lo para viver em cativeiro, mesmo que em um recinto grande. Por isso, a maioria dos movimentos conservacionistas defende que esse animal deve ser deslocado para uma área com menor presença humana”, concluiu Leite.
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