[Alerta de conteúdo sensível] Um personal trainer conhecido por dar aula para várias influenciadoras está sendo investigado por importunação sexual em Salvador. O caso veio à tona após pelo menos 40 mulheres afirmarem que ele as assediou durante consultas para montar treinos de academia. Com a repercussão, uma das denunciantes se manifestou e descreveu a abordagem do profissional.
A primeira acusação pública foi feita pela enfermeira Maria Emília, que relatou ter contratado o serviço do personal Maurício Brasil em janeiro e retornado para uma segunda avaliação em março, momento em que, segundo ela, o atendimento ultrapassou qualquer limite profissional. Ela afirmou que só decidiu expor o caso nesta semana por conta do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Em vídeo publicado nas redes, Maria explicou que, logo na primeira consulta, o personal teria exigido que a avaliação física fosse feita de biquíni. Ela disse que se sentiu desconfortável com a proximidade e com os procedimentos adotados: “Eu estava extremamente desconfortável, mas pensei que fizesse parte do exame. Ele chegava muito perto, sem tocar, e eu permaneci paralisada, tentando agir naturalmente”.
Segundo Maria, a situação se agravou na consulta seguinte, quando ela se recusou a vestir o biquíni e optou por roupa de academia. Ela afirmou que Maurício insistiu, dizendo que não poderia realizar a avaliação sem o traje e sugeriu fazer o teste usando apenas roupas íntimas. A enfermeira, então, relatou ter vivido um episódio de abuso explícito quando Maurício chegou a tocar em sua genitália. “Eu dei um tapa na mão dele e pedi para parar. Foi quando ele pegou minha mão, colocou no órgão genital dele e disse: ‘Veja só como eu fico com você’”, relembrou.
Após deixar o local, Maria buscou apoio de familiares e de amigas, e percebeu que outras mulheres já haviam passado por episódios parecidos. A enfermeira registrou um boletim de ocorrência em março e afirma ter recebido, desde então, mensagens de dezenas de mulheres. “A gente só vai ter voz se estiver juntas. Eu fiz isso para dar voz a outras mulheres que passaram pela mesma situação”, explicou.
Assista:
Influenciadora denuncia personal por assédio pic.twitter.com/6oRAGTrBXo
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) November 29, 2025
Com a denúncia ganhando repercussão, outras mulheres começaram a procurar a Polícia Civil. Segundo o portal BNews, seis mulheres tentaram prestar depoimento presencialmente na 16ª Delegacia Territorial da Pituba, mas, por falta de energia elétrica, tiveram de registrar virtualmente suas ocorrências.
Além dos relatos, Maria contou ter recebido mensagens da mãe e da irmã do investigado tentando impedir a exposição do caso. A enfermeira disse que a irmã chegou a enviar ofensas pelas redes sociais e apontou que Maurício registrou um boletim de ocorrência contra ela por calúnia e difamação.

Em nota ao g1, a Polícia Civil confirmou que investiga denúncias de importunação sexual contra o personal em atendimentos realizados em janeiro e março, no bairro Caminho das Árvores, em Salvador. A apuração reúne depoimentos, análises de câmeras de segurança e diligências complementares.
Defesas se pronunciam
A defesa de Maurício Brasil afirmou ao g1 que não fará declarações públicas neste momento e que “todas as manifestações oficiais serão feitas exclusivamente nos autos”. Em comunicação separada, a advogada Paula Costa declarou que o caso segue sob condução jurídica e que todas as medidas legais já foram tomadas, incluindo uma queixa formal contra a denunciante.
Maurício não se pronunciou diretamente, mas publicou nas redes um versículo bíblico: “Ainda que a minha mente e o meu corpo enfraqueçam, Deus é a minha força. Ele é tudo o que sempre preciso”.

A advogada de Maria, Luana Terra, afirmou que o número de mulheres que relatam situações semelhantes já ultrapassa 50, incluindo algumas que hoje vivem fora do Brasil. “Os depoimentos não param de chegar. Estamos prestando todo o apoio necessário e o devido direcionamento jurídico para que cada denúncia seja formalmente registrada, garantindo acolhimento, segurança e seriedade”, disse ao Correio 24 horas.
O Conselho Regional de Educação Física da Bahia (CREF13) também se manifestou, repudiou qualquer forma de assédio e confirmou a abertura de procedimentos administrativos.
Leia a íntegra:
“O Conselho Regional de Educação Física da 13ª Região – Bahia (CREF13/BA) repudia veementemente qualquer forma de violência, assédio moral ou assédio sexual, especialmente quando praticados no exercício da profissão. Como órgão fiscalizador e orientador, reafirmamos nosso compromisso com a proteção da sociedade, o respeito à dignidade da pessoa humana e a defesa intransigente de todas as mulheres que já sofreram ou sofrem qualquer tipo de violação.
Declaramos, ainda, nosso apoio às vítimas que têm coragem de denunciar, reconhecendo a importância de acolhê-las e garantir que sejam tratadas com seriedade e respeito.
O Brasil enfrenta índices alarmantes de casos de assédio, e o ambiente profissional não está imune a essa realidade. Diante das denúncias envolvendo um personal trainer que atende influenciadoras baianas, acusado de assédio sexual durante a prestação de serviços profissionais, o CREF13/BA informa que já instaurou os devidos procedimentos administrativos, conforme previsto no Código de Ética e nas normativas do Sistema CONFEF/CREFs, reforçando que todas as denúncias são tratadas com rigor e responsabilidade.
Ressaltamos que a conduta relatada não representa os mais de 22 mil profissionais de Educação Física registrados na Bahia, que atuam com responsabilidade, respeito e ética, contribuindo diariamente para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população.
A Câmara de Julgamento Ético-Disciplinar do CREF13/BA analisará o caso com o rigor técnico necessário, garantindo o contraditório e a ampla defesa, e, havendo comprovação de infrações éticas, as sanções cabíveis serão aplicadas, podendo incluir advertência, suspensão ou até o cancelamento do registro profissional.
O CREF13/BA reforça que atos que ferem a integridade e a confiança do público com a profissão não coadunam com os princípios da Educação Física, nem com o exercício profissional responsável e digno que esta autarquia regional defende e protege.
Reiteramos que faremos tudo o que estiver ao alcance institucional para inibir, combater e responsabilizar práticas abusivas, fortalecendo ações de orientação e fiscalização.
Seguiremos vigilantes, atuantes e firmes no combate a qualquer prática que desonre a profissão e coloque em risco a segurança e o bem-estar da sociedade baiana.”
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