Brasileira com ‘a pior dor do mundo’ será colocada em coma induzido, e explica motivo: ‘Última esperança’

A paciente começou a sentir os sintomas aos 16 anos

Carolina Arruda, de 28 anos, enfrenta há mais de 12 anos uma batalha contra a neuralgia do trigêmeo, condição conhecida como “a pior dor do mundo”. Agora, ela se prepara para mais uma tentativa de aliviar os sintomas. Se estiver em condições clínicas adequadas, Carolina será internada no dia 13 de agosto na UTI da Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas Gerais, para ser submetida a um coma induzido.

O procedimento, que deve durar até cinco dias, envolve entubação, ventilação mecânica e sedação profunda. A expectativa é que, ao ser “desligado”, o cérebro dela volte a responder aos medicamentos, que já não fazem mais efeito.

Após passar por seis cirurgias sem sucesso, a influenciadora explicou sobre sua decisão. “Depois de anos sofrendo com a pior dor que um ser humano pode sentir, minha última esperança agora é ser colocada em coma induzido, entubada, sem consciência, para ver se meu cérebro ‘reinicia’ e volta a responder aos remédios”, relatou Carolina.

Carolina já buscou recursos para fazer a eutanásia na Suíça. (Foto: Reprodução / Instagram)
Carolina já buscou recursos para fazer a eutanásia na Suíça. (Foto: Reprodução / Instagram)

A neuralgia do trigêmeo é uma doença neurológica rara, que afeta o nervo responsável por transmitir sensações da face ao cérebro. Ao g1, o médico e cirurgião neurologista Bruno de Castro explicou que a dor é descrita como uma das mais fortes que existem e pode ser desencadeada por ações simples, como mastigar, falar, tocar o rosto, sentir vento ou até mudanças de temperatura.

Ainda de acordo com o especialista, a condição afeta menos de 0,3% da população mundial, e o caso de Carolina é ainda mais complexo: ela sente dores constantes e nos dois lados do rosto. “Nem dormindo. Nem de olhos fechados. Nem com remédio. Nem abrindo o crânio”, descreveu a paciente.

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Sedação profunda como alternativa

O procedimento será realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e conduzido pelo médico Carlos Marcelo Barros, que acompanha não só o caso de Carolina, mas também de outros pacientes com o mesmo diagnóstico. “O objetivo principal é dar um alívio para pacientes altamente refratários. Este procedimento faz parte de um protocolo clínico de estudo científico desenvolvido pelo Centro de Dor da Santa Casa”, explicou o médico, ao g1.

Carolina Arruda começou a sentir os sintomas aos 16 anos. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Arruda começou a sentir os sintomas aos 16 anos. (Foto: Reprodução/ Instagram)

Carolina também detalhou como será o processo: “A ideia é que nesses dias eu fique sem os meus medicamentos, sem o medicamento da bomba, para tentar livrar os receptores de dor, esses receptores do medicamento, que não estão respondendo mais. É como se fosse reiniciar o cérebro para ver se ele volta a responder, porque há 12 anos eu tomo esses medicamentos contínuos e não tenho nenhuma resposta”.

Ela ainda contou que a sedação também será uma forma de aliviar o desgaste extremo causado pela dor e pela falta de sono: “Nesses últimos dias eu já estou quase há 70 horas acordada. Eu não consigo dormir, mesmo tomando diversos medicamentos. Eu tomo mais de 12 remédios só para dormir e não consigo, porque a dor me acorda. O corpo não descansa, o cérebro não descansa e acaba produzindo muito hormônio neuroestimulante que piora a dor”. 

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Segundo com Carlos Marcelo, os medicamentos utilizados para induzir o coma não são experimentais, mas a forma como serão administrados ainda está em fase de estudo: “Apesar de não ser experimental porque os medicamentos já são usados em todo o mundo, as dosagens e a maneira de infusão estão sendo testadas em novas possibilidades”.

Por ser uma dosagem extremamente potente, o procedimento exige monitoramento constante em ambiente de terapia intensiva. “As medicações são fortes e precisam de suporte de UTI para segurança do paciente e sedação profunda para ser mais tolerável. Nada que não tenha sido feito em outros grandes centros pelo mundo”, completou o especialista.

Arruda e o Dr. Carlos Marcelo de Barros. (Foto: Arquivo pessoal)

O mesmo protocolo já foi aplicado em outra paciente que também convive com neuralgia do trigêmeo. Ela apresentou uma melhora temporária após passar pelo coma induzido. “Estou ciente que não é para sempre, mas acaba dando um conforto um pouco maior. Se der certo, talvez eu consiga fazer duas vezes por ano, só como medida paliativa”, disse Carolina.

Mesmo sem garantias, ela encara o procedimento como uma pausa em meio à dor: “É cruel demais ter que aceitar ser totalmente sedada só pra tentar escapar desse sofrimento por alguns dias. Mas quando se vive com uma dor que nunca desliga, qualquer chance de paz já parece um alívio. Mesmo que seja assim: apagando tudo por um tempo”.

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“Carolina segue como uma das vozes mais atuantes na luta por visibilidade e acesso a cuidados para essa doença tão pouco conhecida e extremamente incapacitante que é a neuralgia”, concluiu o médico.

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