Nesta segunda-feira (10), o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) abriu um processo ético contra a Volkswagen pelo uso da imagem de Elis Regina em propaganda. Na nova campanha da marca, a cantora, que morreu em 1982, aparece dirigindo um modelo antigo da Kombi por meio do uso de inteligência artificial. Ela ainda participa de um dueto com a filha, Maria Rita, que dirige outro modelo do automóvel.
De acordo com as informações divulgadas pela coluna da Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o processo aberto pelo Conar vai avaliar se a peça ultrapassa os limites éticos previstos para toda propaganda. Será analisado se herdeiros podem autorizar o uso da imagem de uma pessoa que já morreu para uma peça criada por meio de IA em situações das quais ela não participou em momento algum de sua vida e que são, portanto, ficcionais.
Além disso, também será avaliada a ausência de um aviso na propaganda sobre o uso de IA para criar a cena, o que pode levar a uma confusão do que seria ficção e realidade, sobretudo entre o público mais jovem, que não conheceu a cantora.
Em entrevista à coluna, João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis Regina, disse que se emocionou com a peça, que contou com o aval dele e dos irmãos.“Ver a Elis cantando ao lado da filha que ela não viu crescer, isso me comoveu muito”, afirmou ele. “Da minha parte e da parte do meu irmão [Pedro Mariano], eu posso dizer que a gente consentiu a propaganda pensando em primeiro lugar —e eu tenho convicção de que para a Maria Rita também— na exposição que a Elis teria e que seria uma apresentação dela para as novas gerações”, completou.
Polêmicas
Assim que foi ao ar, a campanha dividiu a opinião da web. Enquanto alguns usuários disseram estar emocionados com o reencontro possibilitado pelo uso da tecnologia de “deep fake”, outros criticaram a associação da imagem da cantora, que se posicionou contra a ditadura militar, a uma marca que colaborou com o regime.
Ao veículo, Bôscoli disse entender e respeitar as críticas a respeito do assunto, embora não concorde com elas. Para o produtor, não é possível restringir empresas que já apoiaram ditaduras. “Se a gente for fazer essa revisão muito, muito apurada, vão sobrar quantas empresas?”, questionou.