“Documentário” falso sobre fábrica de carne humana revolta telespectadores no Reino Unido: “Estou enojado”

Produção causou revolta na web e críticas a apresentador

Foi ao ar no Reino Unido, na noite desta segunda-feira (24), o documentário “The British Meat Miracle”, que fala sobre a empresa Good Harvest, especialista no desenvolvimento e venda de “carne humana”. A produção, exibida pelo Channel 4, causou revolta entre os telespectadores, que acreditaram que a história era real.

Comandado por Gregg Wallace, co-apresentador da versão inglesa de “MasterChef”, o falso documentário foi escrito por Matt Edmonds e faz uma sátira com a crise de custo de vida e o aumento dos preços dos alimentos, que assolam a Inglaterra atualmente. Além de apresentar os supostos “benefícios” da carne humana, bem como seus doadores e como o material é produzido, Wallace aparece consumindo o produto.

 

Durante a atração, que foi apresentada pelo canal como um documentário real, sem avisos de que se tratava de uma ficção, Gregg visitou a fábrica da Good Harvest e aprendeu como hambúrgueres, bifes e salsichas eram feitos usando “fatias finas de tecido humano” para formar uma “mistura rica em nutrientes”.

A história fica ainda mais absurda quando o documentário aponta o quão barata era a alternativa animal, com famílias britânicas sendo alimentadas com carne humana por apenas 99 centavos por refeição. À medida que o falso documentário progrediu, Wallace reforçou que a saída da Grã-Bretanha da União Europeia deu ao país a liberdade para “colher pessoas e pagá-las por sua carne”.

O apresentador até mesmo entrevistou Gillian, uma mulher aposentada que vendeu sua coxa por £200 (aproximadamente R$ 1.226) porque o valor “pagaria por duas semanas de contas de energia”. Ele também mostrou sobre o “bife premium”, composto por “crianças bem alimentadas com menos de seis anos de idade, criadas com leite e bem descansadas”.

No final do episódio, Wallace vai ainda mais longe e declara: “Não é de se admirar que o governo esteja 100% por trás de seu sacrifício. O Trussell Trust [ONG que trabalha para acabar com a necessidade de bancos de alimentos no Reino Unido] diz que um futuro sem bancos de alimentos requer um sistema de benefícios que funcione para todos e garanta renda para que as pessoas possam pagar o essencial. Portanto, não é surpresa que comer crianças pareça um caminho mais provável para o nosso país”.

Apesar da produção não ser real, muitos telespectadores não se deram conta de que tudo não passava de uma sátira e crítica ácida aos problemas financeiros do Reino Unido. O programa repercutiu na web, com internautas se mostrando “enojados” com o conceito.

Uma pessoa tuitou: “Alguém assistindo ao Channel 4 agora com Gregg Wallace e carne cultivada em laboratório usando células humanas? Pessoalmente, acho nojento”.

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“Acabei de assistir a ‘Greg Wallace: The British Miracle Meat’ no Channel 4. É terrivelmente grotesco! Fabricação de carne para consumo humano a partir de células de doadores humanos. Como Michel Roux poderia ter algo remotamente a ver com isso? Que vergonha para ele. O que vem depois, canibalismo?” revoltou-se outra.

“Acabei de pegar o final de algum tipo de merda no estilo Black Mirror em ‘The British Miracle Meat’ de Gregg Wallace, no qual uma mulher assustada estava tendo sua carne colhida para pagar suas contas de energia. Isso não pode ter sido real, com certeza?! Certamente? É impossível dizer hoje em dia”, destacou uma terceira.

 

Com a repercussão, até alguns políticos britânicos criticaram o programa, dizendo que a produção deveria ter sido exibida com um aviso revelando que não é de fato um documentário real. Outros, no entanto, elogiaram a ousadia da produção, especialmente devido ao atual momento do país.

“Este falso documentário é um comentário espirituoso, mas instigante, sobre as medidas extremas que muitas pessoas estão sendo forçadas a tomar para se manter em nossa sociedade durante a crise do custo de vida. O Channel 4 tem uma longa e rica história de sátira e frequentemente usa o humor como uma forma acessível de destacar as questões mais importantes da sociedade”, defendeu um representante do canal.

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Após uma série de ataques, o próprio Wallace se manifestou. “Obrigado por assistir. Eu realmente gostei do meu primeiro trabalho como ator!”, declarou ele. Mais tarde, ele compartilhou uma segunda imagem do programa e reforçou: “É sátira”.

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