Júnior Ahzura havia prestado homenagem ao pai, Adilson Maguila, cinco dias antes da morte do pugilista. A lenda do boxe brasileiro morreu nesta quinta-feira (24), aos 66 anos. Diagnosticado com encefalopatia traumática crônica, ele lutava contra os sintomas da doença nos últimos anos.
Em seu Instagram, Júnior compartilhou um vídeo no qual Maguila discorria sobre a homossexualidade. A declaração foi feita ao extinto programa religioso da TV Record, “25ª Hora”, em 1992, quando o preconceito e a desinformação eram ainda maiores. “Orgulho ter um pai que sempre me aceitou e respeitou! Mais que um herói nacional, meu pai!“, elogiou.
Opinião sobre homossexualidade
No debate, o pugilista discordou se considerava a homossexualidade uma “doença”. Ele chegou a usar a palavra ‘viado’, mas deixou perceptível que não fazia isso com demérito. “Para mim, esse negócio de homossexualismo (termo usado comumente na época, mas que hoje é considerado pejorativo por remeter a doenças) é para quem sabe ler, quem inventou esse nome científico. Eu não tenho estudo. Então, para mim, o ‘viado’, no caso, não é uma doença. Ele já nasceu com esse dom de ser ‘viado’ e transar com homem. Então, eu não acho que é uma doença. A pessoa já nasceu com dom“, expressou.
Leão Lobo, que declarou ser homossexual em 1984 na TV, também estava presente no programa e foi citado por Maguila. Ao pastor que fez a pergunta, ele disse: “Quando Deus põe um filho d’Ele na Terra, todos nós temos um destino. O Leão Lobo já tinha esse destino, ele não vai dizer que começou depois de grande, começou desde pequeno, ele já tinha um jeitinho. Deus que fez ele assim, então a gente não pode ser contra. Eu não sou contra“, afirmou.
Maguila ainda revelou a sua reação caso o filho visse dois homens se beijando. “Se eu vir um homem beijando o outro, e ele me perguntar: ‘Pai, o que é isso, um homem beijando o outro?’. Eu digo: ‘Todos os dois são viados. Pronto’“, acrescentou. Veja:
Apoio de Maguila
Hoje, aos 32, Júnior Ahzura é um lutador contra preconceitos das mais variadas ordens, desde a homossexualidade até o racismo, passando pela gordofobia. Ele dá sequência aos pensamentos de Maguila, através das redes sociais e do podcast “Gordosfera”. No primeiro episódio, aliás, Ahzura narrou como foram as suas descobertas e o papel da família no acolhimento.
“Eu já nasci grande. Sou filho de uma mulher branca relativamente alta. Meu pai, um homem negro de 1m88, com porte físico largo. Todo mundo esperava um bebezão. E eu fui muito bem acolhido nessa família. Já havia pessoas gordas. Meu avô, por parte de pai, meus tios e tias“, contou ele.
“Me chamavam de baleia. Sempre fui um gordinho ‘viado’, era nerd também, ainda sou. Mas fui uma criança ‘viada’. Eu era muito gay e desde pequeno. E me zoavam muito porque eu era gordo, e depois porque eu era uma bichinha e minha voz não tinha engrossado como a dos outros meninos“, relembrou.
Ahzura ainda falou sobre o apoio do pai diante de sua trajetória contra o preconceito e o racismo. “Tive uma infância meio pública e privada. Meu pai é o Maguila, um dos maiores pugilistas do país, eu tive privilégios sociais e econômicos, sou fruto de uma relação inter-racial e sempre estudei em escolas particulares. Estudei numa universidade tradicional, dentro de uma aristocracia imensa em São Paulo e no meu grupo de amigos tinha muitos bolsistas do Prouni“, observou.
“Uma vez, um colega veio me questionar se eu era bolsista. Eu disse que ‘não’ e quis saber o porquê da pergunta. Ele disse que, como meus amigos eram da periferia e bolsistas, eu também poderia ser. Mas insisti na pergunta. Aí ele falou: ‘É só olhar pra você, seu cabelo é duro’“, recordou Júnior.
Nesta sexta-feira (25), familiares e amigos compareceram ao velório de Maguila, na Assembleia Legislativa, em São Paulo. Júnior também se despediu do pai ao lado da mãe, Irani Pinheiro. Veja: