“Beth? O meu também é Beth!”. Se essa frase não te soar estranha, é muito provável que você já tenha escutado o “Trote da Beth”, feito ainda em 2008 pelo programa de humor “Chupim”, no ar há 23 anos na rádio Metropolitana, de São Paulo. A pegadinha, mesmo que antiga, foi eternizada em memes e ainda hoje dá o que falar na web.
Com mais de 40 milhões de visualizações, o vídeo no Youtube traz apenas os áudios do trote. Num primeiro momento, uma produtora da rádio liga para a escola de música onde Beth ainda trabalha, apenas para captar algumas falas da “vítima”. Na sequência, a senhora, que hoje tem quase 70 anos, recebe outro telefonema, em que conversa com gravações de sua própria voz, sem se dar conta de que alguém lhe pregava uma peça.
Pela primeira vez, a mulher por trás da brincadeira se manifestou publicamente sobre a chamada telefônica que mudou sua vida. Em conversa com o jornalista Chico Felitti, do “Além do Meme” — podcast do Papel Pop —, Beth revelou que não acha graça na pegadinha, e confessou que nunca quis se tornar uma figura pública. “Não, não, eu morro de vergonha! Esses tempos, alguém me disse: ‘Sabe quem falou de você? O Fábio Porchat! Liga pra ele, agradece’. Falei não, não quero não!”, contou.
Fernanda, filha de Beth – que também aparecia no telefonema – avisou que desde o fatídico dia, a escola em que trabalham passou a ser vítima de trotes constantes. “Passam até hoje! É ligação direto aqui! A gente tem uma média de atender por semana, uns 5, 6 trotes”, afirmou. Apesar de evitar tocar no assunto ou ser reconhecida, a senhorinha inevitavelmente é entregada pelo próprio timbre de voz, e acaba sendo lembrada pela pegadinha. “Às vezes, só da minha mãe falar em algum lugar, o pessoal já reconhece”, comentou Fernanda.
Certa vez, um grupo de meninas foi visitar a instituição de ensino, com uma proposta inusitada para Beth. “Elas falaram: ‘Temos uma amiga que é apaixonada pelo trote e ela quer muito conhecer a Beth. Aí a gente pensou que o tema do aniversário seria o trote e, em certo momento, você desceria uma escada e apareceria'”, contou a tímida viúva, que depois de muito ponderar, recusou o convite. Ela, entretanto, topou enviar um vídeo desejando os parabéns à aniversariante.
Em todos esses anos, Beth só ouviu o trote três vezes. “Eu não vejo nenhuma graça, talvez pelo nervoso que eu passei, né, pelo stress que foi… Eu acho que foi horrível aquele trote! Não sei, eu não consigo ver graça”, analisou. “No dia não foi engraçado, foi bem inconveniente”, acrescentou a filha.
E por que, então, permitir que a gravação fosse ao ar? Beth explicou que, na época, sua nora trabalhava no “Chupim” e os produtores da rádio garantiram que as informações pessoais dela não seriam divulgadas. A moça, inclusive, foi a responsável pela primeira ligação feita, para coletar os trechos de voz da senhora.
“Num primeiro momento, minha mãe não queria [deixar ir ao ar], mas ela (nora) disse que iam tirar todas as informações. ‘Ninguém vai saber que é você’. E aí a gente autorizou. Trocaram o nome da cidade, mas não as informações básicas, que eram o endereço Alameda Yayá, Gopoúva… e o pessoal, caçando, achou a verdadeira Beth”, disse Fernanda.
Por fim, Beth quis saber o que chamou a atenção de Chico, ao ouvir o trote. “Acho que o timbre da sua voz é muito peculiar e hipnotizante. Acho que você tem uma assinatura vocal que é única. Tem gente que você ouve a voz, e aquela voz vai ficar estampada no ouvido pro resto da vida. Não tem nenhuma piada genial, mas acho que você elabora as frases de uma maneira muito boa, que parece muito algo de comediante”, encerrou o jornalista.
Confira as declarações de Beth na íntegra, dando o play: