Mais de quatro mil conversas feitas por usuários do ChatGPT acabaram aparecendo no Google, tornando públicos relatos pessoais e informações corporativas. A situação foi revelada pelo site Fast Company, que encontrou cerca de 4.500 links indexados na busca. Entre os casos citados estão desabafos sobre vida sexual, problemas de saúde mental e até pedidos de ajuda para lidar com traumas.
O chefe de segurança da OpenAI, Dane Stuckey, confirmou o problema e explicou que a exposição ocorreu por causa de um recurso chamado “Make this chat discoverable”. Segundo ele, essa função permitia que conversas compartilhadas fossem rastreadas por buscadores.
As conversas ficaram públicas quando usuários optaram por gerar um link pelo botão “Compartilhar”, disponível na plataforma. Esse link, caso estivesse marcado como visível, podia ser indexado pelo Google. Após a repercussão, a OpenAI desativou a ferramenta.
“Acreditamos que esse recurso criou muitas oportunidades para as pessoas compartilharem acidentalmente coisas que não pretendiam, por isso estamos removendo a opção”, afirmou ao portal. O executivo também disse: “Estamos trabalhando para remover conteúdo indexado dos mecanismos de busca relevantes. Essa mudança será implementada para todos os usuários”. O recurso foi desativado nesta quinta-feira (31).
Especialistas em inteligência artificial apontaram riscos adicionais, como o uso mal-intencionado desses links para ataques capazes de manipular o modelo e tentar extrair informações confidenciais. Cleber Zanchettin, professor da UFPE, sugeriu que quem compartilhou links deve apagá-los. “Também existe a opção de solicitar ao Google a remoção de conteúdos que já foram indexados”, relembrou.

Usuários no Reddit chegaram a divulgar um método para localizar esses conteúdos usando o comando “site:chat.openai.com/share” junto de palavras-chave. Um internauta afirmou ter encontrado mais de 70 mil chats públicos. “Alguns deles são um pouco estranhos, alguns são até segredos de empresa”, afirmou.
De acordo com o site, algumas conversas revelavam conteúdos sensíveis. Não se tratavam de simples dúvidas técnicas ou curiosidades: três em cada quatro interações encontradas buscavam conselhos para lidar com crises de ansiedade, dois em cada três falavam sobre dilemas pessoais e quase 60% pediam ajuda para enfrentar sintomas de depressão. Em uma das conversas, um usuário relatava minuciosamente sua vida sexual, falava da dificuldade de adaptação em outro país e mencionava suspeitar de um quadro de estresse pós-traumático. Outro caso envolvia alguém que dizia ter sido vítima de “programação psicológica” e pedia orientação para conseguir se “desprogramar” e lidar com as consequências do trauma.
A OpenAI, que inicialmente negou a falha ao ser questionada, depois reconheceu o problema e passou a alertar que qualquer link compartilhado pode ser acessado por qualquer pessoa. A empresa recomenda não incluir informações sigilosas em conversas que se pretende tornar públicas.

Para evitar que conversas pessoais continuem visíveis, é preciso excluir os links públicos que tenham sido criados. Esse procedimento é feito entrando na conta do ChatGPT pelo navegador, clicando no nome do usuário, depois em “Configurações”, escolhendo “Controlar dados”, em seguida “Links compartilhados” e “Gerenciar”. Cada link exibido pode ser apagado clicando no ícone de lixeira. Mesmo após a exclusão, é possível que o conteúdo permaneça temporariamente acessível no cache do Google até que a página seja atualizada. Caso isso aconteça, o usuário pode solicitar a remoção diretamente ao buscador.
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