Entrevista: Ingrid Guimarães ‘explica’ êxito de ‘Bom Sucesso’, anuncia filme de comédia com Tatá Werneck, e fala em reunião com Heloísa Perissé

Com mais de 25 anos de carreira e trabalhos elogiados na TV, no cinema e no teatro, Ingrid Guimarães vive mais um momento frutífero. Atualmente no ar em “Bom Sucesso”, novela das 19h da TV Globo, a atriz encarna a diva Silvana Nolasco, personagem que lhe chama a explorar seu potencial dramático, além de sua já conhecida vocação cômica.

No último mês de abril, Ingrid encerrou a trilogia de filmes “De Pernas pro Ar”, franquia exitosa assistida por mais de 10 milhões de pessoas. E mesmo tendo que dividir as salas de projeção com as populares produções de super-heróis da Marvel, segue enérgica pelo cinema nacional e popular. O próximo projeto para as telonas já está engatilhado: uma comédia protagonizada por ela e Tatá Werneck, ainda sem previsão de lançamento. As filmagens devem começar no ano que vem, como contou com exclusividade ao hugogloss.com. 

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Enquanto isso, Ingrid se mantém dedicada a “Bom Sucesso”, folhetim que vem fazendo jus ao título com uma audiência expressiva e uma recepção calorosa do público nas redes sociais. Quando fala sobre a novela, a estrela não esconde seu orgulho. Guimarães atribui a aceitação da trama ao texto, que considera muito poético, e à dedicação da direção e do elenco. “A direção fez uma preparação com a gente toda baseada na verdade, não tem nenhum estereótipo. São valores simples, amigos, trabalho, amores. A novela tem uma simplicidade e uma poesia que talvez as pessoas estivessem querendo ver”, refletiu. 

Ingrid em cena de “Bom Sucesso” como a estrela Silvana Nolasco (Foto: Reprodução / TV Globo)

Para a preparação da personagem, uma estrela de TV e digital influencer, com uma autoestima implacável, Ingrid se lançou em algumas etapas. Para os trejeitos e comportamentos de Nolasco, foi buscar inspiração bem pertinho de casa. Recomendações de divas brasileiras e colegas de Rede Globo, como Claudia Raia e Susana Vieira fizeram parte do laboratório para o papel. Já de olho nas cenas sensuais, a atriz resolveu dar mais atenção ao corpo. Começou a treinar com Chico Salgado, personal trainer das celebridades. Foi assim, meio sem querer, que um grupinho de malhação acabou surgindo, com ela, Angélica e Grazi Massafera. Sempre que as agendas colaboram, as três malham juntas na casa da apresentadora. “As duas são muita inspiração. Elas ficam me incentivando: Acorda e vem!“, revelou.

Além do replay da parceria com Tata – as duas contracenaram juntas em “Loucas pra casar” e “T.O.C”, Ingrid também retomará uma colaboração de longa data. Ela e Heloisa Périssé, pretendem comemorar os 20 anos de Cócegas, com uma série de apresentações pelo Brasil. “A gente até brinca: depois de Sandy e Junior, Ingrid e Lolo” divertiu-se.

Confira o papo na íntegra:

HG: “Bom Sucesso” tem feito jus ao nome no que diz respeito aos números de audiência e à avaliação do público nas redes sociais. A que você atribui essa recepção tão positiva?

IG: Essa novela tem uma simplicidade. O texto é um primor e fala de valores muito simples, um pouco esquecidos, como os livros e a poesia. Essa história de o que você vai fazer da sua vida quando você tem pouco tempo de vida. Quando eu comecei a novela, um amigo me perguntou sobre o que iria ser e eu disse que era sobre livros, editora e sobre isso da morte Alguém sabe que vai morrer e sobra pouco tempo, o que ele vai fazer? Ele me disse: “Nossa quanta coisa triste, que coragem fazer uma novela sobre isso”.

Mas foi o contrário. A novela resgatou o ato de contar uma história, dos livros, da importância de sonhar e do que você faria se só te restasse um dia. Esse pensamento da vida que parece triste, mas é escrito de maneira muito poética. Então em primeiro lugar à genialidade dos autores. A própria personagem da Grazi, aquela mulher que é brasileira, guerreira, que pega metrô, tem vários filhos, um de cada pai, mas que não deixa de sonhar. Parece batida, mas tudo é a maneira como você faz e conta, né? E falando do meu lado, a maneira como o humor apresentado é muito verdadeira. E tem muito a ver com a direção, a escolha do elenco, tantos os conhecidos quantos os novos. Tem uma menina trans, fala de educação, escola pública, e casal gay. Mas tudo é falado de uma maneira muito natural, sem levantar bandeiras. A direção fez uma preparação com a gente toda baseada na verdade, não tem nenhum estereótipo. São valores simples, amigos, trabalho, amores. A novela tem uma simplicidade e uma poesia que as talvez pessoas estivessem querendo ver. E o elenco que é espetacular, cara!

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HG: A Silvana Nolasco é uma verdadeira diva. De onde você tirou a inspiração para viver a personagem? 

IG: Quando eles me chamaram eles falaram “Ingrid é um personagem que passeia”. Toda vez vai acontecer algo. Ela nunca vai chegar dar bom dia e ir embora. Eles lembraram de mim pela Leandra Borges (papel que Ingrid fez no ‘Fantástico em 2003) e é uma personagem que fez muito sucesso e eu nunca revisitei. Mas o papel da diva mudou muito hoje, as pessoas querem ver divas reais. Fiquei vendo desde Mariah Carey, que pode acontecer o que for que ela nunca sai do salto, filmes da Marilyn Monroe E até declarações de atrizes que falam o que pensam, sem se preocupar nas consequências. Foi um misto de divas internacionais e brasileiras. Desde o jeito de me portar, como a Claudia Raia. Eu liguei pra ela e disse “Claudia quero me vestir igual você”, por que você encontra ela malhando com roupa de brilho, na ponte área tá de salto. Ela falou “amor, não pode nunca não estar ereta!”. Um dia conversei com a Susana Vieira ela disse “você tem que realmente achar que você é a maior atriz do Brasil!”.

Ingrid Guimarães foi buscar inspiração em divas internacionais e em colegas da própria emissora para dar vida a Nolasco (Foto: Divulgação / Vinicius Mochizuki)

HG:  Silvana é uma personagem de muitas nuances, e que te chama a explorar tanto a sua veia cômica, conhecidíssima, como também seu lado dramático. É um presente precioso, sem dúvidas, para os seus 25 anos de carreira.  

IG: Eu já fiz de tudo, né?! Já fiz de tudo na comédia e a princípio falei “será que vou tá me repetindo?”. Mas eles colocam tudo o que representa nosso meio num único personagem, então ela é protagonista e vilã da novela das 8, vende hashtag pra tudo, faz live de todas as desgraças dela. Na mesma cena eu faço humor, faço emoção e aí acaba com humor. No começo você acha que ela vai ser um estereótipo do mundo de hoje, daí você descobre que ela veio do interior, que os pais não apoiaram ela, que ela ralou pra caramba. Toda hora que ela periga a virar um estereótipo eles humanizam de alguma maneira. Semana passada, ela caiu de um penhasco, ficou cega, aos prantos. Na cena seguinte, eu já tava recebendo a imprensa, arrumadíssima. Eles passam de uma mesma cena do humor pro drama, e eu acho muito moderno o jeito que eles fazem, além de humano sem estereótipo.

Eu adoro acompanhar pelo twitter, e as pessoas têm ‘mixed feelings‘. Começa com “eu odeio”, daqui a pouco vira “eu tô começando a amar ela”. Quando eu vou contra a Paloma, eles querem me matar! Mas na cena seguinte tô chorando com o Lucinho (Lucio Mauro Filho), contando da história de vida e as pessoas amam. Isso é um personagem complexo que não é uma coisa só.

HG: A gente acompanha nas redes sociais, que o elenco é super unido. Como é trabalhar com eles? 

IG: Eu dou muita sorte em relação ao elenco, só caio em elenco legal. Quando me chamaram a primeira coisa que eu fiz foi pedir pra saber quem estava no elenco. Porque você fica muito tempo com essas pessoas, são quase oito meses de gravações, além da preparação que começamos dois meses antes. A gente convive muito. A única que eu não conhecia tanto era a Grazi. Já tinha trabalhado com Rômulo, Lucinho e o Rafael Infante, que eu já conhecia do humor, então o entrosamento rolou logo. Grazi amei de cara, canceriana igual a mim, logo a gente se amou. A gente começou a gravar juntos em Búzios, eu, Rômulo e Grazi, então ficamos muito unidos. É um elenco de gente estudiosa. Um diretor falou “não tem ninguém batendo ponto nessa novela”. Não existe cena que passa correndo, toda cena importa. E temos muito acesso aos autores também, o que é muito legal.

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HG: Por falar na sua relação com a Grazi, você anda treinando com ela e a Angélica. A apresentadora inclusive cobrou que você não foi treinar nesta semana. Como surgiu esse grupo? Como são as três na academia?

IG: Esse grupo foi sem querer. Eu comecei a malhar com o Chico Salgado. Quando eu vi que a ia ter que ficar de maiô e de calcinha nas cenas eu falei ‘meu Deus do céu eu não tenho corpo pra isso’, daí comecei a tomar gosto. A Grazi me incentivou. Em Búzios, ela malhava todo dia, eu pensei ‘preciso correr atrás’. Essas cenas até já passaram, mas continuo pela qualidade de vida. Queria malhar mais, mesmo não tendo horários com o Chico. Ele disse “a Angélica falou que você pode ir malhar na academia dela”. Então quando eu quero além dos meus horários, vou na casa dela. Angélica, é da minha geração e ela tá muito bem. Eu tenho muita admiração. Elas duas são muita inspiração. Elas ficam me incentivando: Acorda e vem! E a Grazi grava o dobro que eu e nunca deixa de malhar, impressionante. fez bem pra minha saúde, dormir melhor, daí fizemos um grupinho. Ficamos falando o tempo inteiro!

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HG: Recentemente, Jennifer Aniston disse que os filmes de super-heróis andam impactando na oferta de outros tipos de produção. Como você, que é uma grande entusiasta do cinema nacional, vê esse reflexo aqui no Brasil?

IG: Concordo total. Eu posso falar com muita propriedade, o que eu vivi na pele com o “De Pernas Pro Ar 3” e “Vingadores” é um exemplo do que tá acontecendo. A diferença é que em alguns países, na Europa, eles têm a lei de cota de tela, então jamais eles vão tirar um filme deles que tá fazendo sucesso pra colocar um americano. Essa lei garante um número de salas para filme nacional. No Brasil isso não tem desde o governo Temer, ela não foi reassinada. E no caso do “De Pernas Pro Ar 3”, eu tô falando de um filme que estava cumprindo a lei da dobra: o cinema tá dando lucro, logo continua em cartaz. Ele foi arrancado, mesmo tendo feito um milhão em 9 dias. Agora estamos espremidos entre esses lançamentos e esmagados em prol de um gênero só. Eu não sou contra super-herói, imagina eu cresci assistindo, mas existe uma dominação. Por isso, as pessoas estão começando a fazer série, indo pra TV. Muita gente queria ver o filme, mas dizia que não achava onde assistir. Tem demanda pros filmes populares também.

HG: Como você idealiza os seus longas sabendo que enfrentará essa concorrência nas salas?

IG: Penso sempre em um filme que atinja o máximo de pessoas. Cada vez mais, se você quer fazer um filme popular, tem que pensar em algo que a família assista junta. Tem que pensar num programa familiar. As pessoas muitas vezes não têm dinheiro pra ver dois filmes em um mês, onde deixar filho etc.

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HG: De Pernas pro Ar está mesmo encerrado, né?! Depois dessa que é uma das mais exitosas trilogias do cinema brasileiro, o que você pensa em trazer para as telonas?

IG: Acho que sim, foram 10 anos. O final de uma trilogia que eu tenho um super orgulho. Foi lindo, bem filmado, falou de questões atuais e de questões que eu queria falar. E acho que fomos muito bem, considerando o que vivemos com “Vingadores”. Acho que a história acaba por aí. Vou fazer um filme com a Tatá, mas ainda não posso falar muito. Vai ser depois do bebê dela. 

HG: Uma nova trilogia?

IG: A trilogia só existe se o primeiro der certo e a gente nunca tá com o jogo ganho né, a verdade é essa. O mercado mudou muito desde o primeiro filme (do “De Pernas Pro Ar”). Estamos espremidos, temos que fugir dos lançamentos da Disney e dos super-heróis.

HG: Voltando ao filme com a Tatá, será uma comédia com vocês duas de protagonistas?

IG: Sim, isso eu já posso falar. 

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HG: Tem rolado uma onda de ‘reboots’ no cinema e na TV. Consegue imaginar um “revival” para algum dos seus personagens?

IG: O que a gente tá com vontade, eu e a Heloísa Périssé, é fazer uma comemoração de 20 anos de “Cócegas”. Lançar algo pra TV. Existe uma geração que cresceu com a gente, durou 11 anos. Gente que fala até hoje, então queremos fazer algo comemorativo. A gente até brinca: depois de Sandy e Junior, Ingrid e Lolo.

HG: Rodar o Brasil?

IG: Sim, mas não uma coisa longa, só comemorativo.

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HG: Clara, sua filha, fez uma pontinha em “Fala sério, mãe”. Ela já pediu outros papéis?

IG: Eu fiz esse filme pra ela, porque ela não podia ver nenhum filme meu. E eu também queria falar sobre filhos, maternidade, que eu amo. Aí ela amava a Larissa Manoela e ficava assistindo às gravações. Então, o Pedro (diretor) falou “vamo botar ela pra falar uma frase, vai ser uma lembrança que ela vai ter”. Ela foi super bem, adorou. Depois fez umas sessões do Annie (musical de Miguel Falabella), comigo. Ela ama ter esse contato, imagina com quatro meses amamentando, tava comigo gravando de Pernas Pro Ar, viajou o Brasil inteiro comigo. Faz parte da vida dela. Mas ela não pediu mais. A Clara é muito na dela, é uma criança zero exibida. Eu tento muito separar, pra que ela tenha uma vida normal. Embora ele já não tenha, porque todo mundo para na rua pra falar com a mãe, mas ela é na dela. Ela é ‘cool’.

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HG: Recentemente, você apresentou no GNT, a temporada “Tem wi-fi?”, do “Além da Conta”, que abordou os limites no nosso mundo tecnológico. O que você não faz de jeito nenhum na Internet ou no celular? O que você já fez que te envergonhou?  

IG: Me arrependo de responder comentários agressivos. Isso não serve pra nada, por que essas pessoas só querem atenção. Também fico bem na dúvida de quando mostrar a intimidade e de expôr filho. Ou isso de mostrar o corpo, a gente nunca sabe aonde vai parar. Sempre tento postar mais pra mostrar o lado profissional. Esse negócio de nude eu jamais faria. Esses dias, a Adriane Galisteu foi hackeada no WhatsApp dela! A gente nunca sabe se tá protegido. E no programa, eu não quis falar de comprar porque não cabe falar de consumo num momento de crise do país. Quis falar de excessos e o maior excesso que temos hoje em dia são as redes sociais. Viramos polvos, ficamos agarrados ali. E eu parto do princípio que eu também sou uma viciada, eu não julgo o outro. Acho que esse é o sucesso do ‘Além da conta’.

HG: Vai ter próxima temporada?

IG: Acho que sim, mais uma, talvez fora do Brasil. Acho que esse vício é mundial, né?

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HG: Você está no ar, atualmente, também com a reprise de “Por Amor”, no “Vale a pena ver de novo”. Do que você tem mais saudade daquela época? O que você sente ao assistir às suas cenas na trama, ainda no início da carreira?

IG: Mó coincidência! Mas eu não tenho muita saudade daquela época não, eu tava na maior batalha. Eu fazia muita peça naquela época, o teatro tinha um lugar que não tem mais no Brasil. Era uma peça minha e da Carol Machado, que a gente conseguiu patrocínio sem ser famosa, então dava pra sobreviver de teatro. Então disso eu tenho saudade. Mas era uma época muito dura, as comediantes tinham muito pouco espaço na televisão, a não ser em programas de humor, que eram poucos. A gente fazia papel de empregada, de secretária. Quando você vê agora, 20 anos depois, eu fazendo o papel de uma diva, musa, linda, rainha de bateria, isso fala muito sobre o papel da mulher, né? Como o mundo tá mais aberto pra outros tipos de beleza, de humor. E como a comédia se abriu para as mulheres protagonistas, porque quando eu comecei, eu era um das poucas.

Eu não costumava assistir a reprise. Às vezes eu estou gravando aparece eu ali na TV. Tenho muito carinho por essa novela. Caí no núcleo da Vera Holtz, que era muito generosa, me dava texto da boca dela. Eloísa Mafalda que era uma gênia, Carol Dieckmann que era um fofa. E eu era muito amiga da Gabriela Duarte, fizemos “Confissões De Adolescentes” juntas. E a novela foi um fenômeno, foi quando começaram a me conhecer. Era um texto muito gostoso, mas eu ficava ali na batalha pro papel crescer e no final eu super consegui.

HG: Se você pudesse falar algo para a Ingrid daquela época, o que seria?

IG: Cê venceu hein, querida!