Entrevista: Nathalia Dill fala do sucesso em “A Dona do Pedaço”, analisa críticas à ‘freira maquiavélica’, e conta como imagina futuro casamento

Quando a noviça demoníaca Fabiana aparece na novela “A Dona do Pedaço”, a vontade que dá é de rezar três “Pai Nosso”, cinco “Ave Maria” e mais uns dez “Salve Rainha”, só para garantir… Isso tudo porque, por trás da personagem, existe uma atriz brilhante cumprindo suas funções com maestria. Nathalia Dill é um dos nomes em destaque na dramaturgia brasileira e, definitivamente, não é à toa. Em um papo exclusivo com a equipe do hugogloss.com, a artista falou sobre o sucesso na trama das 21h, avaliou seu envolvimento com pautas políticas e sociais, e até contou alguns detalhes de seu futuro casamento com o músico Pedro Curvello.

Enquanto a freirinha maquiavélica é intragável, Nathalia Dill não poderia ser mais atenciosa e simpática… dessas pessoas que se deixarem, a gente fica conversando por horas sobre tudo! Mas, no bate-papo, o assunto central não haveria de ser outro além do desafio de interpretar uma vilã tão bem aceita pelo público. “Interpretar a Fabiana é muito interessante porque em uma mesma cena ela tem mil intenções e cada hora é de um jeito. Então eu preciso fazer um estudo sobre cada sequência, com qual personagem ela vai estar, dá um trabalhão!“, disse. “Eu ainda não tinha feito um trabalho que alcançava tanto as pessoas“, alegrou-se.

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Dill também é uma das artistas que não têm medo de se posicionar em pautas polêmicas como os retrocessos que o país atravessa no campo social e a luta feminista. “Ridicularizar o feminismo é uma das formas mais perversas para silenciar uma voz. As pessoas simplesmente não conseguem entender que estamos lutando pelas mesmas coisas, porque as chances dos direitos conquistados acabarem sempre existiram. O grande golpe está no conhecimento, quando uma sociedade não tem memória. Essa é a grande luta perdida“, lamentou.

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A estrela também comentou sobre a cobrança de posicionamentos do público para com os artistas sobre determinados assuntos relacionados ao momento que o mundo das artes está vivendo. “Acho que cada um vai até onde pode. Eu vou até o meu limite, tem gente que vai além. Tem atrizes que fazem muito mais coisas do que eu. Vou até onde minha história permite e faço a luta como dá. Não tem como exigir nada de ninguém“, analisou.

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Enquanto na televisão Nathalia Dill é pura entrega em seus trabalhos, na vida pessoal sua privacidade sempre foi preservada ao máximo. Porém, isso não quer dizer que o assédio alguma vez tenha a incomodado o suficiente para atrapalhar sua profissão. “Eu nunca teria coragem de dizer que me arrependo de tudo que conquistei por causa disso. Tenho tantos amigos por aí batalhando para conseguir alcançar as pessoas e fazer sua arte que tudo que eu posso fazer é agradecer tudo que consegui“, afirmou.

Como a gente não é bobo nem nada, aproveitamos a ocasião para tentar tirar da atriz algum detalhe sobre seu futuro casamento com o noivo Pedro Curvello. “Olha, enquanto a novela tá no ar vai ser bem impossível, viu… Mas talvez depois, né?! Uma cerimônia pequena para os mais íntimos. Apesar de que, é muito difícil também isso. A gente vai chamando as pessoas e quando você vê a lista tá imensa. Mas, sei lá, acho que poderia ser algo em um sítio talvez“, disse, misteriosa.

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Confira a entrevista com Nathalia Dill na íntegra!

Hugo Gloss – Como Fabiana, você dá vida para mais uma vilã, algo que fez lá no início da carreira, na sua estreia na TV, em ‘Malhação’. Qual a maior dificuldade em interpretá-la? E qual a maior delícia?

Nathalia Dill – Eu fiz uma mistura muito boa ao longo da minha carreira de papéis de vilãs e mocinhas, esse equilíbrio me deixa muito feliz. Interpretar a Fabiana é muito interessante porque em uma mesma cena ela tem mil intenções e cada hora é de um jeito. Então eu preciso fazer um estudo sobre cada sequência, com qual personagem ela vai estar, dá um trabalhão! [Risos] O raciocínio dela não é instintivo igual ao nosso, ela não tem uma linha de conduta previsível, então eu gosto muito da forma que ela me surpreende. Às vezes eu pego o texto do Walcyr [Carrasco] e penso “Caramba, peraí, que raciocínio foi esse? Que caminho é esse que ela tá seguindo?”. Fabiana me deixa o tempo inteiro em alerta.

HG – À medida que Fabiana revelava sua verdadeira essência na trama, telespectadores se indignavam e questionavam nas redes sociais, como uma noviça, uma menina criada por freiras poderia desenvolver um perfil tão maquiavélico. O que você pensa sobre isso?

ND – Eu penso duas coisas sobre isso. A primeira é que os lugares não são isentos da perversidade humana, muito menos essas instituições. A gente vê maldades acontecendo em todos os cantos e em qualquer lugar. A gente tem visto guias espirituais caindo, os escândalos dentro da igreja do Vaticano… Então, acho que nenhum está a salvo disso. E segundo, a gente precisa se atentar ao fato que ela saiu do convento, né?! Só essa atitude já mostra um pouco do caráter dela, se não ela teria ficado. O que ela poderia estar buscando tanto fora desse convento?

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HG – Você acha que ela terá uma redenção? Como está a repercussão nas ruas? Alguém já te deu puxão de orelha?

ND – Eu gosto muito desse arquétipo que ela brinca, então na rua todo mundo me chama “Ôh, freirinha”, “Lá vai a freirinha”. Vira uma coisa que é muito interessante e que não existiria caso ela fosse só uma pessoa criada por uma família pobre ou algo do tipo. O fato de ter essa simbologia da freira faz com que intrigue mais e entre com maior facilidade na memória de cada pessoa. Então o que eu tenho recebido na rua é mais esses comentários e gente perguntando se ela gosta mesmo do Rock e até torcendo para os dois ficarem juntos. Acho que, de alguma forma, as pessoas meio que absolveram a Fabiana dos crimes dela.

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HG – Sabia que seu apelido nos nossos resumos é #FabiAnnabelle – por conta da boneca maléfica dos filmes de terror? O que acha? Teria outra sugestão de nome? Hahahaha

ND – [Risos] Esse apelido eu não tinha visto ainda, eu vejo tudo o que vocês postam sobre o que aconteceu ou vai acontecer e eu adoro e reposto tudo. Mas esse eu não tinha visto, até porque eu não conheço esse filme… Tenho muito medo de filme de terror e acabo tendo pesadelo. Mas pode continuar super com o apelido, tá aprovadíssimo! Acho muito legal que as postagens sobre a novela rendem muito, as pessoas estão super interessadas e se divertindo. Eu ainda não tinha feito um trabalho que alcançava tanto as pessoas.

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HG – Esse também é o seu reencontro profissional com Caio Castro após 12 anos. Como é relembrar os ‘velhos tempos’ em cena?

ND – É muito engraçado que a gente realmente nunca trabalhou junto neste intervalo de tempo, ficamos 12 anos sem nos encontrar. Ao mesmo tempo, é muito interessante porque a temporada [de Malhação] que a gente fez foi muito intensa, a vivência do grupo era muito unida e profunda. A gente ficava quase 24 horas no estúdio, estudando e imersos naquilo… Foi um laço que criamos para a vida. Então tem uma história muito engraçada que quando fomos gravar a primeira cena juntos e começamos a trocar ideia, o Caio falou: “Caraca, a gente tá conversando como se tivéssemos nos encontrado na semana passada”. É muito legal porque aí a gente se diverte fazendo, lembra da época da novela e morremos de rir. Tem uma memória afetiva como se fôssemos amigos de infância.

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HG – E também há o reencontro com Agatha Moreira, com quem você praticamente disputa o título de personagem mais malvada na novela. Tem muita troca de figurinhas nos bastidores? Existe a possibilidade de Jô e Fabiana se unirem? Ela pode descobrir algo seu pra te chantagear…

ND – Pois é, a gente também fica se perguntando se isso vai acontecer. Mas eu sou completamente apaixonada pela Agatha, somos muito amigas, ela é um presentão que ganhei desde “Orgulho e Paixão” e a gente se diverte muito. Ainda temos poucas cenas juntas, mas tem muitos encontros nos bastidores, e é engraçado porque são vilanias bem diferentes, mas muito barra pesada. Agora estamos esperando, porque a gente é prima, então pode vir algo dessa história.

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HG – A gente já viu você mudar de visual diversas vezes para os seus personagens… Tem algo que você não toparia fazer em nome da arte? E existe algum tipo de personagem que você sonha em fazer justamente para viver uma transformação radical?

ND – Olha, não tem nada que eu não faria, acho que faria qualquer coisa. Mas, por exemplo, um cabelo raspado teria que valer muito a pena, porque até crescer tudo de novo demooora. [Risos] Se for uma personagem incrível eu toparia. Não tenho muito essa questão e pudor de fazer alguma mudança, desde que, claro, tome os cuidados necessários. E ainda nunca pensei concretamente em uma personagem ou mudança que eu gostaria de fazer.

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HG – Você é atuante no movimento feminista. Como você enxerga a reação contrária à causa por parte de determinadas mulheres? E como você acha que a ridicularização do movimento pode ser combatida com êxito?

ND – Acho que essa sempre foi a grande violência contra o movimento. Toda essa ridicularização… O feminismo é um dos únicos movimentos que sofreu esse tipo de ataque. Se você for olhar, por exemplo, o movimento dos negros, dos trabalhadores etc, a luta deles foi tida quase como uma honra. Trataram de forma honrosa. Ridicularizar é uma das formas mais perversas para silenciar uma voz. Historicamente isso sempre aconteceu, né?! Então meio que ele [o movimento feminista] já está meio que acostumado com isso. Hoje em dia existe um discurso muito engraçado… Quando as pessoas falam sobre as conquistas, sempre tem alguém que diz; “Aah, mas as feministas antigas são legais, as novas não”. As pessoas simplesmente não conseguem entender que estamos lutando pelas mesmas coisas, porque as chances dos direitos conquistados acabarem sempre existiram. Então é isso, o grande golpe está no conhecimento, quando uma sociedade não tem memória. É a grande luta perdida.

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HG – Você nunca teve medo também de expressar suas posições políticas. Atualmente, as artes têm sofrido ameaças com retrocessos. Você teme pela sua profissão e dos seus colegas? Qual a importância que você vê nos artistas falarem cada vez mais sobre o assunto?

ND – É tão louco tudo isso que tá acontecendo e perceber essa memória curtas das pessoas que, de novo, Caetano [Veloso] tá aí como porta-voz falando as mesmas coisas, tendo que lutar de novo por coisas que ele já passou. Eu fico meio em choque porque achei que não teríamos que passar por isso de novo. Mas eu acho que agora a gente tem um aliado muito bom que é a comunicação. A gente consegue ver as reações de diversos grupos. Essas pessoas que tanto criticam [a arte] e amam enaltecer outros países em que se espelham, acabam tendo um parâmetro de como as coisas realmente são. O mundo está conectado e dificulta que se tenha uma barbárie muito grande. Isso segura um pouco nossa esperança. As próprias redes sociais também ajudam muito nisso, como embarreirar alguma lei bizarra. Sobre os posicionamentos dos meus colegas, acho que cada um vai até onde pode. Eu vou até o meu limite, tem gente que vai além. Tem atrizes que fazem muito mais coisas do que eu. Vou até onde minha história permite e faço a luta como dá. Não tem como exigir nada de ninguém.

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HG – Você é uma pessoa muito discreta em relação à vida pessoal. Alguma vez já pensou em abdicar dessa vida artística para proteger sua privacidade? O que te incomoda no tocante ao assédio, seja de fotógrafos, repórteres ou fãs?

ND – Assim, fotógrafo na rua ou praia é bem chato, confesso. Mas, olha, eu sou tão feliz com tudo que conquistei… É tão difícil viver de arte, principalmente no Brasil, que eu nunca teria coragem de dizer que me arrependo de tudo que conquistei por causa disso. Tenho tantos amigos por aí batalhando para conseguir alcançar as pessoas e fazer sua arte, que tudo que eu posso fazer é agradecer por tudo que consegui. Sem falar que, fã que é fã, é uma coisa linda e respeitosa que eu amo. Existem eles e as pessoas deslumbradas que nem sabem quem eu sou, mas só porque estou na televisão querem tirar um pedaço.

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HG – Você está noiva desde o início do ano. Há chances de se casar enquanto a novela estiver no ar ou prefere esperar? Há algum plano ou sonho em relação ao casamento e à cerimônia?

ND – Olha, enquanto a novela tá no ar vai ser bem impossível, viu… [Risos] Mas talvez depois, né?! Uma cerimônia pequena para os mais íntimos. Apesar de que, é muito difícil também isso. A gente vai chamando as pessoas e quando você vê a lista tá imensa. Mas, sei lá, acho que poderia ser algo em um sítio talvez.

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HG – Depois da novela, o que podemos esperar de você? Vai rolar umas férias ou já pretende emendar em algum novo projeto?

ND – Ai, eu vou tirar umas férias depois. Eu tô exausta, porque eu quase emendei de “Orgulho e Paixão” para a novela seguinte. Mas eu tenho um filme para estrear, o “Incompatível”. É uma comédia romântica que deve estrear esse semestre ainda. Ele foi gravado com o Gabriel Louchard e, que, coincidentemente, também fala desse universo das blogueiras. Tá muito engraçado!