Três anos após o fim de “Game of Thrones“, os fãs estão prestes a retornar ao universo de George R.R. Martin com “A Casa do Dragão“, nova aposta da HBO. A equipe do hugogloss.com conversou com Matt Smith, Emma D’Arcy, Olivia Cooke, Paddy Considine, Milly Alcock, Fabien Frankel, Steve Toussaint, Eve Best e Graham McTavish, bem como os criadores da produção, Miguel Sapochnick e Ryan Condal, que contaram tudo sobre o que vem por aí!
Baseada nas batalhas e traições narradas por Martin no romance “Fogo & Sangue”, a série começa com a icônica Casa Targaryen no auge de seu poder e, ao longo dos episódios, explora o caos, o derramamento de sangue e a tentativa de quebra da tradição milenar de homens no poder. No centro deste turbilhão estão duas mulheres: Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) e Alicent Hightower (Olivia Cooke).
Enquanto nos livros as duas são apresentadas como inimigas mortais, na produção para a TV, os showrunners Ryan Condal e Miguel Sapochnik decidiram criar uma amizade intensa entre a dupla durante a adolescência, o que torna os eventos de sua vida adulta ainda mais trágicos e poéticos. Ao serem questionadas sobre os desafios de suas personagens como mulheres em um mundo dominado por homens, Cooke e D’Arcy ressaltaram as formas como Rhaenyra e Alicent encaram suas limitações.
“Bom, a minha personagem tem um pensamento muito interessante, em que ela realmente acredita que o seu papel não é liderar, mas sim guiar. E eu acredito que é isso que as mulheres de Westeros, que possuem um pouco de poder, são ensinadas. Deixam todas as tomadas de decisão para os homens, eles sabem melhor disso. E o seu trabalho é começar a procriar a partir da idade mais nova possível”, apontou Olivia.
Para a atriz, famosa por papéis em “O Jogador Nº1” e “O Som do Silêncio”, Hightower procura usar sua vulnerabilidade como um trunfo. “Então, ela tenta trabalhar com o seu poder muito limitado, e sempre ser a pessoa mais inteligente na sala, sempre estar dez passos à frente dos homens, porque você sabe… Tudo que eles querem é simplesmente tirar as mulheres do ambiente”, afirmou.
D’Arcy, por sua vez, comparou a jornada de sua personagem com a de Rhaenys, conhecida como a “Rainha Que Nunca Foi”. A personagem, interpretada na telinha por Eve Best, teve seu direito como herdeira questionado e transferido ao primo, Viserys (Paddy Considine). “É 100% isso”, afirmou ela, em relação à Olivia. “Sabe, a série começa quando uma mulher, Rhaenys, que tem sua herança arrancada, e dada a um homem mais novo e menos experiente. Estamos em um contexto em que mulheres são jogadas de lado, especialmente aquelas que revelam possuir qualquer desejo por poder”, lamentou.
A atriz apontou que a “guerra dos sexos” é o cerne da série e que seus questionamentos abordam como quebrar esse ciclo. “Eu creio que uma das perguntas da série é: se você é uma mulher que chegou ao poder, como você desfaz estas visões preconceituosas e mostra aos seus subjugados masculinos que você não é diferente, você é igual. Em um mundo onde o feminino é equiparado a incapacidade, passividade, amabilidade, maternidade… É, como você trabalha com isso? E você um dia conseguirá ser levada a sério em uma posição de poder?”, questionou D’Arcy.
Matt Smith e antigo elenco de “GOT”
Conhecido no mundo nerd por seu papel como o 11º Doutor em “Doctor Who”, Matt Smith não é estranho a grandes produções: nos últimos anos, o astro estrelou em “The Crown”, da Netflix, e “Morbius”, da Marvel, acrescentando créditos incríveis à seu nome durante essa jornada e, é claro, fazendo muitas amizades — inclusive com o elenco original de “GOT”.
Apesar de amigo das estrelas, ao ser questionado se teria contatado algum dos atores, Smith se revelou um tanto quanto “purista” em sua abordagem ao papel de Daemon Targaryen. No entanto, ele se mostrou fã da produção que antecedeu “A Casa do Dragão”. “Não [contatei eles]. Eu não pedi, para falar a verdade. Mas, é, eu conheci vários dos caras daquele elenco quando eu ia fazer Comic-Con, com o Doctor Who, anos atrás, quando eu vi eles todos emergindo pela série de forma tão brilhante e entregando interpretações tão maravilhosas. Então era legal, eu costumava esbarrar com eles. Mas, não, eu não busquei nenhum conselho em específico”, afirmou.
Rivalidade de irmãos
Nem só de batalhas entre os sexos se dá a série… “A Casa do Dragão” também explora muito as relações interpessoais, especialmente entre os irmãos Daemon (Matt Smith) e Viserys Targaryen (Paddy Considine). Na trama, o Rei Viserys decide substituir o irmão mais novo como seu herdeiro, colocando Rhaenyra (D’Arcy) em seu lugar, o que cria uma rachadura no relacionamento dos dois.
Para Considine, este conflito será parte do âmago do enredo entre os personagens e, também, seu maior desafio. “A minha maior dificuldade com o Daemon ser o meu irmão é que eu fui apontado como rei, e, você sabe, eu acho que o Daemon muito provavelmente gostaria que não fosse assim, que nós fossemos somente irmãos. Irmãos como nós costumávamos ser. Mas quando lhe é dado o status de ser rei, as coisas mudam”, explica Paddy.
“Daemon desafia Viserys e tudo pela lei, e o Viserys cria um monte de desculpas pelo seu irmão e pelo comportamento dele. E é uma posição difícil de se estar, pois ele ama o seu irmão, mas ele também está buscando ser um rei, então [é difícil]… E o Daemon fica constantemente importunando, ele é um pouco como uma responsabilidade. Danifica extremamente a relação deles”, acrescentou. Sincerão, o ator apontou, ainda, que mesmo com 10 episódios pela frente, a dupla tem poucas chances de passar por cima de seus desentendimentos. Eita!
Voo dos dragões
Entre os destaques da série, que estreia mundialmente no próximo domingo (21), estão os dragões. Na telinha, a produção promete mostrar dezessete criaturas de cores, tamanhos, nomes e personalidades diferentes, entre as quais está Caraxes, o dragão de Daemon (Smith). Descrito pelo próprio George R.R. Martin como um guerreiro esbelto, forte e ousado, Daemon comanda a Patrulha da Cidade de Porto Real (conhecida como Mantos Dourados) e é tido como um dos melhores montadores de dragões entre os Targaryen.
O personagem tem uma conexão profunda com a criatura, já que, segundo Matt, é quase como se fossem parte um do outro. No entanto, essa conexão e sintonia demorou a ocorrer na vida real, pois montar a versão falsa do dragão foi um baita desafio para o ator. “Bem, você meio que está montado em cima de um suporte, e eles disparam cargas de vento e chuvas em você, e eles te movem nesse acesso de controle remoto. É bem divertido, na real, mas depois de dez horas perde a graça”, brincou o intérprete de Damon.
“[Os membros da equipe] chutam bolas de futebol em você. Então você fica assim…”, revelou Paddy, fingindo desviar de objetos invisíveis. A dificuldade das gravações não se transmite para a tela, já que até mesmo no trailer, a proximidade entre Caraxes e Damon fica pra lá de óbvia. Confira abaixo:
Reação dos fãs
Dividida entre duas épocas diferentes, a nova aposta da HBO nos mostra a protagonista, Rhaenyra, durante a adolescência e ao longo da vida adulta. A responsável por dar o pontapé inicial na história é Milly Alcock, que dá vida à versão mais nova da filha do Rei Viserys (Considine).
Além de nos apresentar à nova trama, ela age como uma conexão direta entre “A Casa do Dragão” e “Game of Thrones”, já que ressuscita logo no primeiro episódio uma das falas mais icônicas de sua descendente, Daenerys Targaryen (Emilia Clarke): o famoso “Dracarys”. Gravar a frase tão amada pelos fãs, foi, para Milly, o momento em que “a ficha caiu”. “Foi bastante épico, foi bastante surreal. E meio que senti tipo: ‘Ah, assim que é fazer a série! Essa é a série agora! Estamos gravando Game of Thrones’. Então isso foi empolgante. Foi muito empolgante”, confessou a loira.
Enfrentar a popularidade das histórias de Martin, no entanto, foi fácil perto do desafio de passar pela montanha-russa emocional que Rhaenyra enfrenta. “O maior desafio [dela como mulher] Eu acho que é a perda. A tragédia é a coisa mais difícil que acontece com ela, porque no final ela perdeu todo o seu sistema de apoio”, lamentou. “Rhaenyra não possui mais ninguém que esteja na mesma posição que ela. Ela tem a Alicent, que está em uma posição similar à dela, mas ninguém que agarre inteiramente a responsabilidade que ela tem de carregar e suportar”, acrescentou.
Para Frankel, no entanto, a dificuldade foi encarar as reações dos fãs. O ator britânico-francês, que já trabalhou anteriormente com Emilia Clarke, dará vida a Criston Cole na série de fantasia e já teve um “gostinho” de como é o fandom de “Thrones” durante sua passagem pela Comic-Con, em San Diego. “Quando nós estávamos na Comic-Con, dois dias atrás, alguém apontou pra mim e disse: ‘Aquele cara é o Ser Creston Cole, eu odeio esse cara!’. E eu fiquei meio… Não sei, talvez os fãs vejam de outra forma! Mas isso aconteceu. (…) Eles me odeiam”, divertiu-se ele. “Você é odiado!”, confirmou Milly. “Eu já sou odiado! Como isso é possível?! O que eu devo fazer?”, questionou o britânico.
A reação, no entanto, pode se dar ao fato de que Frankel e Smith viveram um leve acidente em meio às gravações. Segundo Frankel, os dois usavam espadas e escudos, quando um dos objetos ricocheteou e acertou Matt na cabeça. A reação do público ao episódio surpreendeu Fabien. “Eu queria que eu não tivesse falado [sobre isso]”, desabafou ele, visivelmente angustiado e aos risos.
O ator contou sua versão da história e acabou culpando o astro de “Doctor Who” pelo ocorrido. “Eu queria que eu nunca tivesse falado aquilo. Na verdade, é culpa do Matt, eu acho! Porque a minha espada ricocheteou… Não, a espada dele ricocheteou no meu escudo, e então a espada dele bateu no rosto dele…”, compartilhou Fabien. “Ah, então ele basicamente só se bateu”, disse Alcock, se divertindo com a situação. “Ele basicamente se bateu no rosto!”, concordou o colega de elenco.
Graham McTavish, conhecido por papéis em “O Hobbit” e “Outlander”, apontou se o público será capaz de identificar os verdadeiros vilões e mocinhos na história, e reforçou que o “bem e o mau” é subjetivo. “O que é interessante, que eu acho, e tendo assistido somente ao primeiro episódio com meus filhos, a visão deles sobre os personagens mudou enquanto a história progredia. Alguém que aparentemente era mais vilanesco, talvez não fosse tão ruim quanto parecia, e alguém que era mais heróico no começo [virou]: ‘Ah, espere aí, o que ele está fazendo?!’. E este é o mundo de Westeros! Constantemente mudando. Você precisa ter olhos na parte de trás da sua cabeça para ser capaz de acompanhar isso. E por isso que alguém como o Ser Harrold Westerling é como um alívio para este ninho de víboras que se habita neste mundo em particular, que é um tipo de indivíduo moralmente certeiro, o que é meio incomum para eu interpretar”, concluiu.
Eve Best e Steve Toussaint
Apesar de focada nas intrigas familiares e nos dragões, a nova série também conta com personagens de apoio que são favoritos dos fãs, entre eles a princesa Rhaenys Targaryen (Eve Best) e Corlys Velaryon (Steve Toussaint). No papo com os atores, Best, que dá vida à “Rainha Que Nunca Foi” reforçou que sua personagem teria lidado com a sucessão de forma bem diferente de Viserys (Considine).
“A questão é, eu acho que nada disso teria acontecido se ela tivesse subido ao trono, porque eu acho que ela teria sido uma líder muito forte e incrivelmente bem vista. Eu não acho que ninguém gostaria de ter mexido com ela”, afirmou, visivelmente orgulhosa de Rhaenys. “Ah, sim! Eu concordo”, afirmou Toussaint, que interpreta o marido de Best na tela.
As disputas familiares influenciaram, também, a performance de Steve. O ator britânico-barbadiano revelou que focou na paternidade de Corlys e seu relacionamento com Rhaenys para desenvolver o personagem, e preferiu não se basear nos livros de Martin. “Na primeira vez em que eu tive um encontro cara a cara com os dois showrunners, Ryan e Miguel, para discutir este personagem, a coisa que nós mais conversamos sobre, foi o fato de que ele era um pai. […] Esta era a chave para este cara”, explicou o astro.
“Sim, ele é um guerreiro, ele é muito rico e tudo mais, mas o fato é que ele é um homem de família e ele quer o melhor para sua família. Agora, as escolhas dele podem nem sempre ser as melhores escolhas, mas elas de fato vem da versão dele de amor. Ele age sim, durante a série, de maneira que nós podemos achar um pouco monstruosas. Arrogante, no mínimo. Mas ele pode justificar tudo isso dizendo: ‘Isso é o que eu quero para a minha família'”, continuou.
Ryan Condal e Michael Sapochnick
Por fim, em conversa com os criadores Ryan Condal e Michael Sapochnick, as dificuldades da adaptação vieram à tona. Segundo os showrunners, foi estressante decidir o que iria, de fato, para as telas, e o que permaneceria somente nos romances de George R.R. Martin.
“Eu creio que com qualquer adaptação, mas particularmente com adaptações do George R. R. Martin, há tanta história, que você tem de realmente ser um pouco um curador e encontrar o seu caminho. Decidir quais são as coisas que são necessárias para contar a história. E eu acho que ‘Fogo e Sangue’ é uma história de expansão, onde o George lhe dá muitas informações, mas não muitos detalhes – se é que isto faz sentido –, não que não hajam detalhes, há muitos detalhes, mas no ‘Game of Thrones’ original, em todos os capítulos ele descrevia a comida que eles estavam comendo, cada fala, os pensamentos internos do personagem”, explicou Condal.
“Pelo fato do ‘Fogo e Sangue’ ser escrito como um livro histórico, você não tem todas estas coisas. Então é sobre escolher os eventos que você deseja focar, e então tentar contar a história de como estas coisas aconteceram”, acrescentou ele.
Faltam apenas três dias para os fãs retornarem a Westeros durante a estreia de “A Casa do Dragão”, derivada da amada (e às vezes odiada) adaptação dos romances de George R.R. Martin. Para conferir tudo sobre o que vem por aí, é só preparar sua pipoquinha e dar play no nosso papo incrível! Assista abaixo:
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