Nesta quinta-feira (1º), chegou aos cinemas “Thunderbolts*“, a nova aposta da Marvel Studios para inaugurar uma nova fase de super-heróis — que, aqui, estão longe de serem perfeitos. A equipe do hugogloss.com conversou com Florence Pugh, Sebastian Stan e Wyatt Russell sobre a produção, que resgata a emoção e profundidade características da Marvel, sem abrir mão do humor e da ação que conquistaram os fãs.
Diferente das produções anteriores do estúdio, “Thunderbolts*” foge do convencional ao mergulhar em temas como traumas, saúde mental, propósito e o vazio existencial que tantas vezes enfrentamos. Pouco explorado em adaptações do gênero, esse olhar mais humano corrige tropeços do passado (alguém aí lembra do Thor depressivo?) e entrega um enredo em que o público pode realmente se enxergar nas dores e dilemas dos personagens.
Reunindo um grupo improvável de anti-heróis e figuras com passados questionáveis, o filme aposta nesses nomes à margem do heroísmo tradicional para enfrentar uma nova e real ameaça — algo que, até pouco tempo, seria missão dos Vingadores. Mas, como diz a própria vilã Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus): “Os Vingadores não estão vindo”.
Entre os escalados estão Yelena Belova (Florence Pugh), Bucky Barnes (Sebastian Stan), John Walker (Wyatt Russell), Guardião Vermelho (David Harbour), Fantasma (Hannah John-Kamen) e Treinadora (Olga Kurylenko) — todos lidando com traumas, falhas e segredos. Mas quando interesses pessoais e feridas mal resolvidas se entrelaçam à missão, o time precisa decidir até onde está disposto a ir — e o que redenção realmente significa. Espia só:
O coração do filme bate com Yelena
Desde o primeiro frame, fica claro: Yelena Belova, vivida por Florence Pugh, é o centro emocional da trama. Ela impressiona com sequências de ação eletrizantes, mostrando que está pronta para carregar o legado da irmã, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson). Mas é no luto, no sentimento de estar perdida e fragmentada, que a personagem realmente brilha.
Esse vazio se manifesta de forma literal em uma das cenas mais impactantes do filme: Yelena se joga do topo do Merdeka 118, em Kuala Lumpur, o segundo edifício mais alto do mundo, com 118 andares. A sequência, que poderia muito bem ter sido feita em CGI, foi realizada com a própria Florence — que saltou do prédio nove vezes para capturar o momento perfeito.
A atriz relembrou o que sentia durante a queda: “Bem, eu não sei por que convenci todo mundo a me deixar fazer isso. É tão louco. Mas eu não pude me controlar. Eu lembro de pensar: ‘que trabalho especial eu tenho, que me permite fazer algo assim’. E eu lembro de me sentir tão protetora da Yelena naquele momento. E é tão interessante quando você está projetando uma acrobacia como aquela e está tentando trazê-la para a realidade. Você meio que esquece qual é o motivo principal disso. E quando nós realmente estávamos nos preparando para filmar, eu pensei: ‘Ah, passei tanto tempo pensando na parte prática, de como vou descer desse prédio, que eu esqueci de realmente pensar… de me lembrar do motivo pelo qual ela está fazendo isso. E quais são os motivos dela para estar nesse prédio’. Então, esse foi um momento muito bonito, sombrio… sombrio não, mas tipo, um momento silencioso que eu precisei ter comigo mesma no topo do prédio. Foi tipo: ‘OK, agora vamos reiniciar. Por que ela está aqui? Por que ela está se sentindo assim?’ E, eu acho que essas são as apostas com as quais estamos começando o filme”.
A performance de Pugh vai muito além da ação. Sua presença é tão marcante que tudo ao redor parece girar em torno de Yelena. Mesmo em um filme de equipe, é impossível ignorar que é dela o pulso emocional da história. A direção sabe disso e aposta sem medo nos close-ups, nos silêncios carregados de significado — porque Florence entrega tudo. Yelena não quer ser uma heroína perfeita. Ela só quer ser real — e é justamente isso que nos aproxima dela. Em meio a um mundo de superpoderes, é sua humanidade que nos toca.

Um dos momentos mais poderosos do filme acontece em uma conversa com Alexei (David Harbour), seu pai de criação e figura falha. Ela pergunta: “Você se sente realizado?”. Para Florence, a resposta para essa busca está na conexão — conselho dado pela própria personagem.
“É semelhante ao conselho de Yelena, que é que precisamos estar uns com os outros. Precisamos estar conectados. E eu realmente acredito nisso também. É uma mensagem tão simples, mas eficaz. ‘Estamos aqui por um motivo, que é amar e ser amado. E somos humanos que precisamos de interação. Precisamos estar, fisicamente. Precisamos nos abraçar. Precisamos dizer uns aos outros que nos amamos'”, declarou a atriz indicada ao Oscar.
Ela completou: “E a outra coisa que eu sei que sempre me abriu e me manteve com os pés no chão são as coisas simples. Como cozinhar o jantar para as pessoas, cozinhar o jantar para mim mesma. Dedicar um tempo para garantir que estou me amando dessa forma. Como se eu estivesse alimentando minha alma. E para mim, sabe, por todos os temas do filme estarem conectados, abrindo nossos corações e garantindo que passamos tempo juntos… Eu suponho que isso esteja na mesma linha de receber, cozinhar, preparar, e ter propósitos simples e prazeres simples como esses. Essas coisas sempre me deram muito prazer”.
O retorno de Bucky Barnes
“Thunderbolts*” é uma história sobre recomeços, em que cada membro do time carrega um passado pesado e cicatrizes que ainda doem — algo que Bucky Barnes, o Soldado Invernal, conhece como poucos. Interpretado por Sebastian Stan, Bucky se torna o elo que conecta o passado do MCU ao futuro. Stan entrega, mais uma vez, uma atuação contida e poderosa, reafirmando o papel de Bucky como uma das âncoras emocionais do universo Marvel. Mesmo com menos tempo de tela do que o esperado, sua presença guia, emociona e deixa marca.
Poucas semanas após encerrar uma das performances mais ousadas de sua carreira em “O Aprendiz“, Sebastian retornou ao papel que o consagrou. No intervalo quase simbólico entre viver um jovem Donald Trump — com uma transformação radical que lhe rendeu uma indicação ao Oscar — e voltar ao MCU, o ator demonstra o alcance impressionante que construiu ao longo dos anos.
Em “Thunderbolts*”, ele não precisa de muito para impactar: basta um olhar carregado de história, culpa e humanidade. Para Stan, retornar a Bucky foi quase terapêutico, permitindo deixar para trás os traumas do projeto anterior. “Eu fiquei muito aliviado! Estávamos dizendo antes que todos nós meio que chegamos aqui exaustos, muito parecidos com nossos personagens, todos lidando com diferentes tipos de exaustão. Então eu fiquei feliz. Foi divertido”, contou ele.

O longa também marcou o reencontro com Wyatt Russell, colega de “Falcão e o Soldado Invernal“, que surge como o imprevisível e explosivo John Walker, o Agente Americano. A dinâmica entre os dois permanece afiada — agora em um cenário ainda mais caótico, onde a moralidade é tão instável quanto a própria equipe.
Ver Bucky e Walker dividindo cenas novamente adiciona tensão, ironia e até uma cumplicidade inesperada dos personagens, mostrando que os aliados mais improváveis podem encontrar propósito quando forçados a colaborar.
É justamente na imprevisibilidade que Russell brilha. “É divertido interpretar um personagem imprevisível, porque metade do tempo eu mesmo não sei o que vou fazer. Isso torna tudo mais interessante. E realmente deixamos que o cineasta defina o que a performance será no final. Damos dez versões diferentes de uma cena, para que tenham opções. Mas tudo sempre partia de brincadeiras com quem estava no set. Parecia que uma peça que faltava no quebra-cabeça finalmente se encaixou. Aí tudo decolou. Estávamos juntos nisso”, disse o ator.

A familiaridade entre os atores também contribuiu para a dinâmica do grupo. Segundo Sebastian, apesar de as cenas estarem bem estruturadas no roteiro, o elenco teve liberdade para improvisar e explorar a química natural entre os personagens — algo que se reflete na tela.
“Acho que nos deixaram brincar um pouco. O que foi ótimo. E o Jake [Schreier, diretor] tinha uma visão muito clara. (…) Ele tem um senso de humor afiado, o que ajudou muito”, destacou.
“Jake e eu trabalhamos juntos em uma série, anos atrás. Se você me dissesse naquela época que esses dois caras estariam dirigindo algo da Marvel, eu diria: ‘você tá completamente doida!’. Mas falo isso em tom de brincadeira. Ele tem uma grande sensibilidade. E nunca tratamos as cenas como piadas — sempre interpretamos a realidade do momento. E é justamente essa naturalidade que torna tudo mais engraçado e divertido”, acrescentou Wyatt.

Perrengues nada chiques
Para “Thunderbolts*”, o diretor Jake Schreier fez uma escolha ousada e rara nos dias de hoje: priorizou efeitos práticos em vez de depender da tela verde. Isso trouxe mais realismo às cenas e permitiu que os atores estivessem realmente presentes nos ambientes, realizando muitas de suas próprias sequências de ação.
O resultado? Um set mais dinâmico — e também mais perigoso. “Você estava lá quando eu acertei o Lewis [Pullman] de verdade?”, brincou Stan, lembrando de um golpe que saiu mais forte do que o planejado.
Russell, por sua vez, perdeu o timing de uma entrada e acabou se machucando ao atravessar uma porta. “Na momento seguinte, só via o sangue escorrendo pelo meu rosto”, relembrou. O incidente deixou marcas eternas: “Agora tenho uma cicatriz em forma de raio no couro cabeludo”.
O ator levou o incidente com bom humor, transformando a cicatriz em uma oportunidade de conexão com o elenco. “A gente devia fazer um pacto. Se esse filme fizer, tipo, 1 bilhão de dólares, todo mundo faz uma tatuagem de asterisco”, sugeriu Russell. “Um asterisco? No meio das minhas costas. Tipo a águia do Ben Affleck. Vou tirar a minha camisa no meio de uma première. E aí nós vamos falar ‘era para ser só algo pequeno'”, brincou Sebastian. “E você vai dizer que se jogou de cabeça”, rebateu Russell. “Sim, como um alvo nas minhas costas”, disse Stan. “Um asterisco no seu cofrinho!”, sugeriu o astro. “Me sinto pronto”, confirmou o eterno Bucky Barnes.
“Thunderbolts*” já está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. A entrevista completa com Sebastian Stan, Florence Pugh e Wyatt Russell você confere abaixo:
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