Michael Oher, ex-jogador da liga esportiva profissional de futebol americano dos Estados Unidos, anunciou que está processando sua família adotiva. A história de como Oher e Leigh Anne Tuohy se conheceram foi retratada no filme “Um Sonho Possível”, de 2009. Na época, a produção chegou a ser indicada a “Melhor Filme” no Oscar, além de ter rendido a estatueta de “Melhor Atriz” para Sandra Bullock. Ele afirma que toda a trama é uma mentira.
Baseado em um livro de Michael Lewis, o longa conta como Oher, que cresceu na condição de extrema pobreza, foi adotado por uma família rica e finalmente chegou à NFL. No entanto, em documentos judiciais divulgados pela ESPN, nesta segunda-feira (14), o atleta diz que Sean e Leigh Anne não o adotaram, mas o enganaram para se tornarem seus tutores após o aniversário de 18 anos do rapaz.
A petição declara que os Tuohys assinaram acordos que renderam a eles e a seus dois filhos biológicos milhões de dólares, mas excluíram Oher de qualquer herança. O esportista informa que a família faturou em royalties de “Um Sonho Possível”, que arrecadou mais de US$ 300 milhões (R$1,5 bilhão) nas bilheterias, mas que ele não ganhou nada por uma história que “não existiria sem ele”.
“A mentira da adoção de Michael é aquela com a qual os co-tutores Leigh Anne Tuohy e Sean Tuohy enriqueceram às custas de seu pupilo, o abaixo-assinado Michael Oher”, alega o documento. “Michael Oher descobriu essa mentira para seu desgosto e constrangimento em fevereiro de 2023, quando soube que a tutela com a qual ele consentiu com base no fato de que isso o tornaria um membro da família Tuohy, na verdade não lhe fornecia nenhum relacionamento familiar com os Tuohys”, continua.
O processo aberto por Oher busca o fim da tutela dos Tuohys, além de impedir que a família use seu nome e imagem para se promover. Leigh Anne costuma contar a história do filme em suas palestras motivacionais. O ex-jogador também pede uma compensação financeira.
“Desde pelo menos agosto de 2004, eles permitiram que Michael, especificamente, e o público em geral, acreditassem que adotaram Michael e usaram essa mentira para obter vantagens financeiras para si e para as fundações que possuem ou que exercem controle. Todo o dinheiro feito dessa maneira deve, com toda a consciência e equidade, ser devolvido e pago ao referido pupilo, Michael Oher”, diz outro trecho.
De acordo com o veículo, se Oher tivesse sido adotado pelos Tuohys, ele seria um membro legal da família e teria acesso às finanças relacionadas ao filme. Contudo, como alguém sob tutela, ele cedeu esse controle a Sean e Leigh Anne.
Em um livro de memórias publicado em 2011, o atleta contou que os Tuohys lhe disseram que tutela e adoção eram quase idênticas. “Eles me explicaram que significa exatamente a mesma coisa que ‘pais adotivos’, mas que as leis foram escritas de forma a levar em consideração minha idade”, escreveu ele. Já a família Tuohy apontou em uma publicação de 2010 que dividiu o dinheiro dos royalties com Oher. “Nós dividimos entre cinco”, garantiram.
O advogado de Oher, J Gerard Stranch IV, disse à ESPN que seu cliente não sabia sobre a tutela até se aposentar da NFL, em 2016. Na época, um representante legal acabou contando que ele nunca havia sido adotado pelos Tuohys. “Mike não cresceu com uma vida familiar estável. Quando a família Tuohy disse a Mike que o amava e queria adotá-lo, isso preencheu um vazio que esteve com ele durante toda a sua vida. Descobrir que ele não foi realmente adotado devastou Mike e o feriu profundamente”, disse Stranch.
Oher disse que o filme o retratou como pouco inteligente, o que afetou sua carreira na NFL. “As pessoas olham para mim e tiram conclusões por causa de um filme. Eles realmente não veem as habilidades e o tipo de jogador que sou”, disse o atleta à ESPN em 2015.
Michael Oher foi convocado pelo Baltimore Ravens em 2009 e ganhou um Super Bowl com a equipe em fevereiro de 2013. Ele ganhou US$ 34 milhões (R$169 milhões) durante sua carreira no futebol. O processo não aponta nenhuma conexão entre os Tuohys e sua renda da NFL.
Tutores se manifestam
Ao Daily Memphian, Sean Tuohy disse que ficou chocado com as alegações de Oher. Ele negou que os Tuohys “ganharam dinheiro com o filme”, e apontou que receberam apenas uma parte dos lucros do livro de Michael Lewis, que foi a base do filme.
“Estamos arrasados. É perturbador pensar que ganharíamos dinheiro com qualquer um de nossos filhos. Mas vamos amar Michael aos 37, assim como o amávamos aos 16”, disse ele ao portal.