Olimpíadas 2024: Pai de boxeadora argelina se pronuncia sobre polêmica de gênero da filha e relembra infância

Omar Khelif defendeu Imane em meio aos pedidos para ela ser desclassificada das Olimpíadas 2024

Omar Khelif, pai da boxeadora argelina Imane Khelif, defendeu a filha em meio à a polêmica envolvendo o seu gênero nas Olimpíadas de Paris 2024. Nesta segunda-feira (5), em entrevista à AFP, ele afirmou que a atleta foi criada como uma menina, e é um “modelo” de coragem para os demais competidores.

“Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa”, declarou Omar, relembrando a infância da lutadora. Ele também reagiu aos pedidos de que Imane fosse desclassificada das olimpíadas após as suspeitas sobre seu gênero, algo que ela lida desde 2o23.

“Ela tem uma força de vontade para o trabalho e para o treino. Sua paixão pelo esporte vem desde pequena. Ela era sempre a melhor em todos os outros esportes, no atletismo e no futebol”, explicou. Ainda de acordo com Khelif, a vitória da boxeadora na partida contra a italiana Angela Carini ocorreu “porque minha filha era mais forte e a outra mais fraca”.

Até o momento, Imane conquistou a medalha de bronze ao vencer a húngara Anna Luca Hamori, pelas quartas de final da categoria até 66kg do boxe feminino, no sábado (3). Ela buscará a vaga na final na terça-feira (6), contra a tailandesa Janjaem Suwwannapheng. Mas, se depender de seu pai, ela retornará ao país de origem com o primeiro lugar do pódio garantido.

“Imane é um exemplo de mulher argelina. É uma das heroínas da Argélia. Se Deus quiser, ela nos homenageará com uma medalha de ouro e hasteará a bandeira nacional em Paris”, desejou Omar. “Esse tem sido nosso único objetivo desde o início”, completou.

Polêmicas sobre gênero de Imane Khelif repercutiram após sua luta contra a italiana Angela Carini (Foto: Getty)

Continua depois da Publicidade

No sábado, logo após a luta contra Hamori, a argelina abordou os rumores sobre seu gênero. “Eu quero dizer ao mundo que eu sou uma mulher e continuarei sendo uma mulher“, afirmou. Khelif também criticou a reprovação em ‘teste de gênero’ que sofreu pela Associação Internacional de Boxe.

É uma questão de dignidade e honra para todas as mulheres. Todo o povo árabe me conhece há anos. Durante anos, eu lutei boxe em competições internacionais, eles (a federação internacional) foram desonestos comigo. Mas eu tenho Deus“, elucidou ela à beIN Sports. Assista:

Continua depois da Publicidade

Polêmica sobre o gênero

A participação de Imane Khelif nesta edição das Olimpíadas repercutiu na mídia após sua adversária, Carini, abandonar a luta das oitavas de final. Depois da polêmica, a italiana se pronunciou e pediu desculpas à adversária. “Não foi intencional, na verdade peço desculpas a ela e a todos. Fiquei com raiva, porque meus jogos já tinham virado fumaça. Não tenho nada contra Khelif e, pelo contrário, se a encontrasse novamente, daria um abraço“, admitiu ao “La Gazzetta dello Sport”.

No ano passado, tanto a argelina quanto a taiwanesa Lin Yu-ting foram desclassificadas do campeonato mundial de boxe, em Nova Delhi, na Índia, por apresentarem níveis elevados de testosterona em seus sistemas. Igor Kremlev, presidente da Associação Internacional de Boxe (IBA), disse à agência de notícias russa Tass que os testes de DNA das atletas indicaram “que elas tinham cromossomos XY e foram, portanto, excluídas dos eventos esportivos“. O presidente ainda afirmou que foram identificadas “várias atletas que tentaram enganar as colegas e se fingir de mulheres“.

Italiana se pronunciou após desistir de luta contra a argelina (Foto: Getty)

Entretanto, o porta-voz do COI, Mark Adams, apontou que o respectivo teste não é adequado. “O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres”, explicou ele.

Continua depois da Publicidade

Em junho de 2023, o COI anunciou que a IBA estava banida do circuito olímpico por falhas recorrentes em integridade e transparência na governança, acusada de manipulações de resultados e corrupção. Após a vitória da argelina, alguns famosos criticaram o Comitê Olímpico Internacional nas redes sociais. O Comitê Olímpico da Argélia também se manifestou sobre os comentários e publicações a respeito do gênero de Khelif. Saiba mais detalhes, clicando aqui.

Diferente das informações compartilhadas nas redes, não há qualquer confirmação que a pugilista não seja uma mulher cisgênero. Na verdade, ela é uma pessoa com variação intersexual. A argelina nasceu com uma condição em que apresenta os órgãos genitais femininos, mas tem cromossomos sexuais XY (que determinam o sexo masculino) e níveis de testosterona no sangue compatíveis com o corpo masculino.

Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques