A boxeadora italiana Angela Carini se pronunciou após deixar a luta contra a argelina Imane Khelif, nesta quinta-feira (1°), nas Olimpíadas de Paris. A atleta negou que tenha desistido por conta de polêmicas envolvendo a adversária, que foi anteriormente reprovada em testes de gênero e autorizada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a competir nos Jogos Olímpicos.
A luta entre as duas pugilistas, que fez parte da primeira rodada da categoria até 66kg do boxe feminino, não durou mais do que 46 segundos. Em sua declaração, a italiana disse que desistiu do confronto por causa das dores intensas no nariz. “Entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria vencer. Recebi dois golpes no nariz e não conseguia respirar mais, estava doendo muito“, afirmou ela, segundo a Reuters.
Carini continuou: “Eu não perdi hoje, apenas fiz meu trabalho como lutadora. Entrei no ringue, lutei e não consegui. Saio de cabeça erguida e com o coração partido. Sempre fui muito instintiva. Quando sinto que algo não está certo, não é desistir, é ter a maturidade de parar“.
“Sempre lutei como uma guerreira, mas até as guerreiras às vezes desistem. Quando a batalha está perdida, eles enfiam a espada no chão, com honra. E é isso que eu fiz. Não desisti, apenas disse a mim mesmo que não era a minha hora. Eu tenho que aceitar isso e seguir em frente. Nada me assusta depois da morte do meu pai e se aconteceu assim é porque Deus e meu pai assim quiseram“, explicou.
De acordo com o veículo, Khelif, por sua vez, descreveu a luta como difícil. “Estou muito preparada porque foram oito anos de preparação. Eu preciso de uma medalha olímpica aqui em Paris“, declarou. Outro momento que chamou a atenção foi quando Carini se recusou a apertar a mão da adversária, depois que o árbitro declarou a argelina vencedora.
Angela nega boicote
Angela, entretanto, desmentiu as acusações da internet e negou qualquer tipo de boicote à Imane. “Não sou ninguém para julgar e não tenho nada contra a minha adversária. Eu tinha uma tarefa e a executei mesmo que ela não conseguisse. Tudo o que aconteceu antes da reunião não teve absolutamente nenhuma influência”, ressaltou a italiana, de acordo com a CNN.
Emanuele Renzini, técnico da boxeadora, confirmou que ela chegou a ser convidada a participar de um boicote a Imane, mas recusou. “Angela recebeu centenas de mensagens, inclusive nas redes sociais, convidando-a a não lutar pela sua segurança e a fazer sinal de protesto. A argelina está aqui porque o COI tomou esta decisão, que é muito difícil de tomar porque o caso é complicado. Ela também certamente tem sofrido com tudo o que está acontecendo”, pontuou.
A luta repercutiu nas redes sociais, especialmente pelas últimas polêmicas em torno do nome de Khelif. No ano passado, tanto a argelina quanto a taiwanesa Lin Yu-ting foram desclassificadas do campeonato mundial de boxe, em Nova Delhi, na Índia, por apresentarem níveis elevados de testosteronas em seus sistemas.
Igor Kremlev, presidente da Associação Internacional de Boxe (IBA), disse à agência de notícias russa Tass que os testes de DNA das atletas indicaram “que elas tinham cromossomos XY e foram, portanto, excluídas dos eventos esportivos“. O presidente ainda afirmou que foram identificadas “várias atletas que tentaram enganar as colegas e se fingir de mulheres“. Em junho daquele ano, o COI anunciou que a IBA acabou banida do circuito olímpico por apresentar falhas recorrentes em integridade e transparência na governança, acusada de manipulações de resultados e corrupção.
Famosos criticam COI
Após a vitória de Khelif, alguns famosos criticaram o Comitê Olímpico Internacional nas redes sociais. J.K. Rowling, autora dos livros de Harry Potter, escreveu: “Assista a isso, depois explique por que você está OK com um homem batendo em uma mulher em público para seu entretenimento. Isso não é esporte. Do trapaceiro intimidador de vermelho até os organizadores que permitiram que isso acontecesse, isso são homens se deleitando com seu poder sobre as mulheres“, publicou.
Watch this (whole thread), then explain why you’re OK with a man beating a woman in public for your entertainment. This isn’t sport. From the bullying cheat in red all the way up to the organisers who allowed this to happen, this is men revelling in their power over women. https://t.co/u32FcDTy9p
— J.K. Rowling (@jk_rowling) August 1, 2024
Em outro post, ela mandou: “Poderia alguma imagem resumir melhor nosso novo movimento pelos direitos dos homens? O sorriso irônico de um homem que sabe que é protegido por um estabelecimento esportivo misógino, aproveitando a angústia de uma mulher que ele acabou de socar na cabeça, e cuja ambição de vida ele acabou de destruir“.
Could any picture sum up our new men’s rights movement better? The smirk of a male who’s knows he’s protected by a misogynist sporting establishment enjoying the distress of a woman he’s just punched in the head, and whose life’s ambition he’s just shattered. #Paris2024 pic.twitter.com/Q5SbKiksXQ
— J.K. Rowling (@jk_rowling) August 1, 2024
Elon Musk, por sua vez, compartilhou uma publicação da nadadora Riley Gaines que afirmava que “homens não pertencem a esportes femininos“. O proprietário do X, antigo Twitter, assinou a mensagem, escrevendo: “Absolutamente“.
Absolutely https://t.co/twccUEOW9e
— Elon Musk (@elonmusk) August 1, 2024
Comitê Argelino se manifesta
À BBC, o Comitê Olímpico da Argélia se manifestou sobre os comentários e publicações a respeito do gênero de Imane. “O COA condena veementemente a difamação e a perseguição antiéticas à nossa estimada atleta, Imane Khelif, com propaganda infundada de certos meios de comunicação estrangeiros“, declarou.
“Tais ataques à sua personalidade e dignidade são profundamente injustos, especialmente enquanto ela se prepara para o auge de sua carreira nas Olimpíadas. O COA tomou todas as medidas necessárias para proteger nossa campeã“, concluiu a instituição.
O Comitê Olímpico Internacional, por sua vez, afirmou que todos os boxeadores em Paris “cumprem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição“. O porta-voz do COI, Mark Adams, minimizou o caso e lembrou que tanto Imane Khelif, como Lin Yu-ting, já haviam participado das últimas olimpíadas. “Essas atletas já competiram muitas vezes antes, ao longo de muitos anos. Elas não chegaram de repente. Elas competiram em Tóquio“, concluiu.