A nadadora Ana Carolina Vieira foi desligada do Time Brasil nas Olimpíadas de Paris, após ter deixado a Vila Olímpica sem autorização. Neste domingo (11), com o fim da competição internacional, ela finalmente quebrou o silêncio sobre o episódio no Domingo Espetacular, da Record TV.
Segundo relato do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a atleta deixou o local sem a devida autorização da equipe para uma visita à Torre Eiffel com o namorado, o também nadador brasileiro Gabriel Santos. Enquanto Ana foi expulsa da equipe, por supostamente reagir de forma “desrespeitosa” à decisão da comissão técnica, o namorado escapou somente com uma advertência. A infração foi identificada após os atletas publicarem uma foto no ponto turístico.
Na primeira entrevista desde o ocorrido, Ana disse a Roberto Cabrini que ficou sabendo sobre a punição no domingo, dia 28 de julho, às 13h15 da tarde, após sua primeira performance na competição.
O desentendimento começou quando ela descobriu que Maria Fernanda Costa, a Mafê, seria substituída no time de natação. “Na quinta-feira, 16h30 da tarde, 16h35 para ser mais específica, eu fui até a Torre realizar uma foto. Em nenhum momento fui questionada de nada. Na sexta-feira, houve um treinamento na parte da manhã. A tirada da foto oficial. E à tarde, nós ficamos livres para descanso na vila. Às 16h15 houve a reunião do revezamento, em que deram uma abertura para a gente estar podendo nos posicionar também”, narrou ela.
“O que foi dito a você?”, quis saber o jornalista. “Que a Maria Fernanda não iria participar e outra estaria no lugar dela”, explicou a nadadora. “Qual foi exatamente o seu questionamento, Ana?”, quis saber Cabrini. “Porque eles tiraram a Maria Fernanda sem nos comunicar. Além de colocar uma integrante que teria um tempo acima da Maria Fernanda, de 2 segundos, então isso impactaria no nosso resultado final, em estar em uma final olímpica. E em nenhum momento isso foi passado para a gente”, revelou ela.
“Você foi desrespeitosa e agressiva?”, insistiu o apresentador. “Em nenhum momento”, negou a atleta. “No sábado, competimos pela manhã, tudo normal, assim, um clima estranho. E no domingo, 13h15 da tarde, foi dada a advertência e a expulsão”, lembrou.
Questionada sobre a reação, ela declarou: “Não tive voz, não quiseram me escutar. (…) Aconteceu tudo muito rápido. A partir do momento em que eu recebi o desligamento, eu fui acompanhada a todo momento. Então, eu tive três voos para chegar ao Brasil. Enquanto isso, estava rolando em coletiva de imprensa. Minha cara estava em todos os noticiários”.
Ana também contou em detalhes o passeio até a Torre Eiffel, que segundo ela ocorreu “dentro da organização” do evento. Segundo o COB, os atletas brasileiros estavam proibidos de deixar a vila olímpica sem autorização. Entretanto, a defesa de Ana aponta que no artigo 14 do regulamento, é dito que “apenas os atletas menores de idade devem pedir permissão e não podem, de forma alguma, sair desacompanhados de um oficial da comissão”.
“Você acha que deveria ter pedido autorização?”, perguntou Cabrini. “No momento em que eu saísse da vila, eu poderia comunicar meu chefe de equipe”, respondeu Ana. “E por que você não fez isso?”, quis saber ele. “Porque em nenhum momento eu saí da organização. Em todo momento eu usei minha credencial, estava no ônibus da própria organização, desci dentro do vôlei de praia, dentro da organização, efetuei a foto e retornei à vila”, narrou ela. “Mas caberia um pedido de autorização na sua visão?”, insistiu o apresentador. “Não. O pedido de permissão é só para os menores de 18 anos”, disse ela.
Ainda durante a entrevista, Ana expôs um áudio no qual Gustavo Otsuka, alto membro da Comissão da Seleção Brasileira de Natação, se comunica com Gabriel. Na conversa, ele afirma que a nota emitida pelo COB sobre a expulsão da nadadora teria sido “mentirosa”. “Essa nota foi do COB e, infelizmente, ninguém checou. Simplesmente replicaram. Já mandei tirar do ar, peço desculpa a você. A nota está errada”, diz ele na gravação.
Questionada sobre o pedido de desculpa de Otsuka, ela disparou: “Decepcionante. Como um cara que guia um time, um grupo, uma nação, me pede desculpas pelo WhatsApp? Ele deu força à internet a eu ser atacada. Ele deu força. Publicando uma nota falsa, ele deu força a tudo isso”.
Gustavo Otsuka foi procurado e não se manifestou sobre o assunto até o momento. Porém, Ana espera mais. “Eu estou esperando uma retratação da própria Confederação Brasileira e da própria Confederação de Esportes Aquáticos. Que tipo de imagem foi projetada? A gente foi para a noitada. Sendo que sexta-feira à noite foi a abertura dos Jogos Olímpicos”, revoltou-se a atleta.
Por fim, Vieira disse que continua questionando o caso, especialmente por envolver os mesmos personagens de sua denúncia de assédio sexual contra um membro da Confederação Brasileira de esportes aquáticos, o qual ela não revelou a identidade. Questionada sobre o assunto, Ana revelou ter sido prejudicada pela experiência a nível psicológico.
“Eu me questiono. Me questiono de tudo. Da forma que aconteceu, do jeito que foi passado ao público, o porquê de uma retaliação, o porquê de acontecer as coisas da forma que aconteceram, sem eu poder me expressar”, disse ela. Vieira reforçou, ainda, que não pretende revelar a identidade do agressor neste momento, pois espera “uma resposta plausível” da Confederação com relação aos acontecimentos em Paris.
Entretanto, a atleta destacou que se sente constrangida ao conviver com o suspeito durante os treinos, mas a reportagem contou que o processo em questão foi arquivado. Sobre a expulsão, Ana refletiu, muito emocionada: “Acredito que seja uma demonstração de poder. Será que servi como exemplo? Tô tentando entender, por que comigo? Por que aconteceu como aconteceu, sem eu poder me pronunciar?”.
“O sonho de todo atleta é poder representar sua nação. Eu acho que é uma sensação de… É difícil de falar. Eu treinei anos para estar na minha segunda Olimpíada. Sair dessa forma é muito difícil”, confessou. Assista à íntegra: