Aguinaldo Silva abriu o jogo sobre a sua carreira na dramaturgia. O veterano autor de novelas revelou em entrevista à Veja, divulgada nesta sexta-feira (5), o que sentiu ao ser demitido da Globo em 2020, depois de 41 anos na emissora. Além disso, ele ainda confessou o motivo para não escalar o ator Murilo Benício nas produções em que estava à frente.
Enquanto esteve na Globo, Aguinaldo assinou sucessos como “Roque Santeiro”, “Vale Tudo”, “Senhora do Destino” e “Fina Estampa”. O último trabalho dele no canal foi em 2019, com “O Sétimo Guardião”. Ao comentar sua saída da emissora, o escritor apontou a razão para ter ficado tranquilo com a decisão.
“O que realmente me chateou e achei impróprio foi um rapaz da Globo me ligar no dia 1º de janeiro, em pleno feriado, às 8h da manhã, para me avisar que ele [o contrato] não seria renovado”, disse ele. “Não sei exatamente de quem partiu a decisão. Na época, o comando da dramaturgia era do Silvio de Abreu e a direção-geral do Schroder (Carlos Henrique), mas eles também não estão mais lá”, acrescentou.
“Fui o primeiro de uma leva. Logo depois, atores, autores e diretores, cujos contratos iam terminando, foram sendo dispensados. Confesso que fiquei até aliviado quando sai da Globo. A perspectiva de escrever mais uma novela naquele sistema já não me agradava mais”, desabafou ele.
Segundo o dramaturgo, na época em que atuava na Globo ele evitava trabalhar com um ator específico: Murilo Benício. “Tinha um certo incômodo com o jeito de articular as falas do Murilo Benício, tanto que ele não fazia minhas novelas”, explicou ele. “Nesse aspecto, tinha algo que lembrava o James Dean (1931-1955), que resmungava as palavras meio entre os dentes. Mas não tenho nenhum problema pessoal com o Murilo, tanto que se me perguntarem se trabalharia hoje com ele, digo que sim”, acrescentou.
“Agora, o único profissional que tirei de fato de uma novela minha, depois da trama no ar, foi o José Lewgoy (1920-2003), que era um ótimo ator, mas deu muito problema numa novela por causa das fofocas. Descobri que ele fazia comentários maldosos nos bastidores, inclusive do autor, o que acabava prejudicando o clima da novela. Optei por matar o seu personagem”, relembrou ele sobre a experiência com o ator na novela “O Outro”, de 1987.