Aline Campos compartilhou mais detalhes sobre os casos de estupro que sofreu, um com 17 e outro com 19 anos. A modelo havia revelado, pelo Instagram, em junho, que fazia parte das estatísticas de mulheres que foram violentadas durante a vida. Em entrevista à Folha, publicada nesta terça (26), a atriz contou que foram necessários muitos anos de terapia para que ela finalmente se sentisse à vontade para abordar o assunto.
A coragem para falar publicamente veio após a atriz Klara Castanho compartilhar que foi estuprada, engravidou e colocou o bebê gerado para adoção após a violência sexual sofrida.“Eu e a Klara [Castanho] ficamos um mês juntas na Colômbia, convivendo e gravando. Ao ver a coragem que ela teve de relatar tudo o que passou, me senti motivada e inspirada a mostrar que essa violência é mais comum do que a gente imagina e que acontece com muitas mulheres”, disse Aline. Ela contou que as duas são grandes amigas agora, graças ao filme “Férias Trocadas”, que estreia no final do ano, no qual Campos faz o papel de mãe de Klara.
Aline detalhou a vez que foi vítima com 17 anos de idade. “Estava em uma festa e acho que colocaram alguma droga na minha bebida, acredito que foi o famoso ‘boa noite, Cinderela’. Tenho apenas alguns flashes de estar num quarto em uma cama e duas pessoas no quarto, dois homens”, disse. “Tenho flashes de acordar e não sei se o outro participou também. Lembro de tentar reagir e apagar. Fui vencida pelo sono”, acrescentou.
Em outra ocasião, em uma viagem para o exterior, mais uma vez seu copo foi adulterado por estranhos. “Mas minhas amigas me protegeram e ficaram ao meu lado o tempo todo. Desta vez, nada aconteceu comigo”, contou.
“Não tome bebida no copo de ninguém, fique atenta ao seu copo na balada e não aceite bebida de gente estranha”, alertou ela. Na segunda vez que foi vítima violência sexual, Aline tinha 19 anos. “Um homem me procurou para oferecer um trabalho, que seria internacional. Eu sonhava em conquistar minhas coisas e acreditei nele. Ele me pediu para ir encontrá-lo num shopping e fui. Estranhei, pois tinha pedido para ir de saia e salto alto”, revelou.
“Como era um lugar público, achei que não tinha problema. Como era um trabalho de dançarina, depois de conversarmos , ele me chamou para ir até o escritório dele para mostrar eu dançando. E lá o abuso aconteceu”, disse. “Ele começou a passar a mão no meu corpo. Eu na hora falei para parar e saí de lá correndo. Entrei num táxi e fui chorando para casa. Me senti muito mal”, declarou. Apenas após cinco anos de terapia, Aline conseguiu falar sobre o caso para outras pessoas.
A modelo evidenciou que os crimes ainda são pouco abordados. “Acontece com pessoas que você conhece. Eu sofri, minha mãe também sofreu violência sexual. Dentro do nosso meio acontece com muita gente”, revelou. Campos pontuou que entende a dificuldade das pessoas de se abrirem sobre o tema, mas alerta para a importância disso: “Precisamos falar sobre isso para que quem for vítima não se esconda, pois precisamos denunciar. Só assim terá punição dos estupradores para que não façam isso com outras pessoas”.
“Eu, como muitas vítimas, tentei apagar o que tinha acontecido da minha mente. Muitas meninas e meninos, muitas mulheres passam por violência sexual, estupro e não denunciam, se calam como foi comigo. Mas, é preciso falar e só consegui com a ajuda de anos de terapia”, explicou ela.
A atriz avaliou que devemos tratar do assunto abertamente para, inclusive, proteger as próximas gerações. “Para que meninos e meninas saibam respeitar seus corpos, entendam sobre consentimento e busquem ajuda de alguém confiável caso alguém tente forçar algo”, disse. Aline contou que é o que pratica com seu filho de 12 anos: “Falamos sobre sexo, respeito, consentimento. Ele precisa ter consciência e saber que pode contar comigo para conversar sobre qualquer assunto”.
A entrevista da modelo segue o movimento #AgoraVcSabe, liderado pelo Instituto Liberta, para dar fim na invisibilidade sobre as violências sexuais contra crianças e adolescentes no país. “É muito importante iniciativas como essa do Instituto Liberta para falar de um problema que é tão recorrente. Quando aconteceu comigo, era como se eu quisesse, inconscientemente, bloquear esse fato ruim”, completou.
Aline comentou que sempre diz a outras vítimas que procurem ajuda psicológica após o abuso. “Para se libertar dessa culpa, que nunca é da vítima. Sem dúvida isso tudo prejudicou muito minha vida. Não cheguei a travar sexualmente nem demorar para me relacionar com outros homens, mas sem dúvida considero que tive um bloqueio da imagem da figura masculina”, ponderou ela.