Maria Casadevall precisou de 31 anos para entender, de fato, sua sexualidade e os desconfortos que sentia em relações heteroafetivas. Em entrevista à Marie Claire, a atriz foi questionada sobre seu namoro com Caio Castro, com quem viveu um par romântico em “Amor à Vida” (2013), e outros homens que se envolveu. Ela afirmou que parecia haver algo errado até declarar-se lésbica, em 2020, e destacou a pressão para se se encaixar nos relacionamentos.
“Tive uma vida afetiva de relacionamentos com homens cisgênero (comecei a namorar aos 16), mas como não sabia identificar essa pressão, encarava com naturalidade o desconforto que vinha como consequência das minhas escolhas. Não sabia nomear, mas sabia que alguma coisa estava meio fora do tom, fora do lugar”, explicou Maria.
Ela acrescentou que nunca reprimiu seu desejo por mulheres, mas acreditava que a homoafetividade jamais faria parte de sua vida. “Na minha vida íntima, desde cedo percebi que me sentia atraída por mulheres também. Mas, por conta da heteronormatividade em que cresci inserida, sempre enxerguei a minha atração por homens como a ‘regra a ser afirmada’, e o meu desejo por mulheres como uma ‘experiência para ser vivida'”, admitiu.
“Eu nunca reprimi [o desejo], mas mantinha ele à parte de qualquer reconhecimento, por nem cogitar que houvesse espaço ou possibilidade da homoafetividade assumir um lugar central na minha vida. Tanto pessoal, quanto pública, e isso tem nome: heteronormatividade compulsória”, acrescentou a atriz.
Casadevall também disse que levou anos para seu descobrimento pessoal. “Só aos 31 anos, através de muito afeto e letramento, compreendi que era só mais uma vítima da estrutura que nos obriga a enxergar a heteronormatividade como via única para o ‘sucesso amoroso’. E também compreendi toda a miopia social e distorção emocional que estavam pesando sobre as minhas escolhas afetivas”, salientou.
“[Fui] inspirada por muitas mulheres que vieram antes abrindo este caminho e, sobretudo, pelas minhas contemporâneas que estão ali zelando pelo que já tinha sido aberto. Mas também, bravamente, abrindo caminhos ainda mais desconhecidos e interditados, que entendi o quanto era importante pessoal, pública e politicamente que eu assumisse o quanto o amor entre mulheres, hoje, ocupa espaço de protagonismo na minha vida”, completou a artista.
Maria ainda contou que foi natural declarar sua homossexualidade e, desde então, passou a se conhecer melhor. “Descobri que a jornada de autoconhecimento é uma caminhada de uma vida inteira, e não só um retiro ou um ‘mergulho’. Que estar aqui é uma escola, desde o dia em que se nasce até o dia em que a gente vai embora deste mundo”, ponderou.
Em seguida, ela destacou seu papel em lutar pelos direitos da comunidade LGBTQIAPN+. “A importância de levantar cada um desses debates e trazer visibilidade para cada um deles é, sobretudo, integrá-los como uma luta comum através do reconhecimento de que toda opressão vem como sintoma de uma única estrutura que coloca a vida à serviço do lucro. E essa estrutura é capitalista, patriarcal, branca e cisheteronormativa em sua essência”, relatou Casadevall.