Nesta quarta-feira (19), Billy Porter, de 51 anos, contou em entrevista ao “The Hollywood Reporter” que vive com HIV desde 2007. O ator manteve sua sorologia privada por 14 anos devido ao medo da repressão e da vergonha que sentia, mas decidiu abrir o coração após reflexões durante o período da quarentena, com o intuito de iniciar um processo de cura. Nem colegas de trabalho e nem a própria mãe do astro sabiam.
“Eu sou parte da geração que deveria se cuidar melhor, mas aconteceu comigo de qualquer forma”, explicou ele. Billy se referiu ao ano de 2007 como o pior de sua vida. A motivação para manter o status de soropositivo privado, foi o medo de somar o imenso preconceito envolto no HIV e a discriminação enfrentada por ser LGBTQIA+ e homem preto — além da segregação que poderia viver em sua profissão. “Eu estava tentando ter uma vida e uma carreira e não estava certo se conseguiria se as pessoas erradas soubessem. […] Seria só outra coisa para as pessoas me discriminarem em uma profissão já discriminatória. Então, eu tentei não pensar muito nisso. Eu tentei bloquear. Mas a quarentena me fez pensar muito. Todo mundo foi obrigado a sentar e calar a boca”, desabafou.
O ator cresceu em uma família profundamente religiosa e isso o fez se sentir envergonhado e receoso de revelar o diagnóstico. Somente as pessoas que julgava precisarem saber tinham conhecimento. “Ser HIV positivo, de onde eu venho, crescido numa igreja Pentecostal com uma família muito religiosa, é punição de Deus”, revelou. Nem mesmo sua mãe, Cloerinda Ford, soube. O medo era que ela sofresse perseguição por parte da comunidade religiosa da qual faz parte. “Minha mãe já passou por muita coisa, muita perseguição por parte de sua comunidade religiosa devido à minha ‘queerness’. Eu só não queria que ela tivesse que viver sob o ‘eu te disse’ deles”, contou.
Sua mãe, todavia, foi prestativa e solidária ao ser informada. Billy contou a ela por telefonema no último dia de gravação de “Pose”, que foi cancelada em sua terceira temporada. “Anos de trauma tornam um humano arisco. Mas a verdade o liberta. Eu sinto meu coração se libertando. Sentia como se uma mão estivesse agarrando meu coração por anos, e agora acabou”, relatou. No mesmo dia, Billy decidiu revelar ao elenco da série. “A verdade é a cura. Eu contei à minha mãe – esse era o obstáculo para mim. Eu não me importo com o que ninguém tem para dizer. Ou você está comigo ou simplesmente saia do caminho”, relembrou.
Pray Tell, seu personagem em “Pose que também é soropositivo, foi uma chance para Billy se expressar. “A genialidade de Pray Tell e essa oportunidade me permitiu dizer tudo o que eu queria dizer. Minha capacidade de compartimentar e dissociar é bastante forte, então eu não tinha ideia de que estava sendo traumatizado ou recebendo gatilhos. Eu estava apenas feliz que alguém finalmente tinha me levado a sério como ator”, comentou o ganhador do Emmy de “Melhor Ator” em série dramática de 2020.
Apesar das dúvidas e preconceitos sofridos por pessoas soropositivas, atualmente é possível conviver com o vírus de forma plena graças aos avanços da ciência. “Como uma pessoa preta, particularmente um homem preto nesse planeta, você precisa ser perfeito ou então será morto. Mas olhe para mim, eu sou a estatística, mas transcendi. É assim que pessoas HIV positivas se parecem agora. Eu vou morrer de alguma outra coisa antes de morrer de AIDS. Meu nível de glóbulos brancos é duas vezes maior que o seu por conta da medicação”, declarou.
Billy faz terapia para lidar com seus traumas. Durante a pandemia, ele e o marido Adam Smith – com quem é casado desde 2017 – alugaram uma casa em Long Island, Nova York, onde o ator pôde se isolar e refletir. “A Covid-19 criou um espaço seguro para que eu pudesse parar e refletir e lidar com o trauma da minha vida. Agora, estou na terapia por um longo período. Comecei quando eu tinha 25 anos e estive indo e pausando por anos. Mas no último ano, comecei uma verdadeira terapia de trauma para começar o processo de cura”, falou.