Atenção: O texto a seguir contém relatos gráficos e perturbadores de violência
Mais uma denúncia pra conta! Nas últimas semanas, o cantor Marilyn Manson foi acusado de abusar psicologicamente e estuprar diversas mulheres com quem se relacionou, incluindo sua ex, a atriz Evan Rachel Wood. Nesta quarta-feira (10), mais uma artista uniu seu depoimento ao de outras vítimas… Esmé Bianco, a Ros de “Game Of Thrones”, desabafou para a New York Magazine a respeito de tudo que sofreu na relação com o roqueiro.
A atriz explicou que a admiração por Manson começou ainda na adolescência, durante um período sombrio que tentava superar o suicídio de um dos seus amigos. Os anos se passaram e Esmé finalmente teve a oportunidade de conhecer o cantor em 2005, graças à ex-noiva dele, Dita Von Teese. Eles se encontraram algumas poucas vezes, e quando o casamento de Marilyn e a diva burlesca chegou ao fim, o cantor começou a flertar com Bianco pelos e-mails. A artista chegou a mostrar as mensagens, uma delas dizia: “Eu posso sempre ser animado com fotos de nudes anteriormente proibidas”.
Mas, nesta época, as coisas não seguiram adiante. Apenas em 2009 os dois retomaram em contato, quando a atriz foi convidada para estrelar o clipe “I Want to Kill You Like They Do in the Movies”. “Você vai ter que fingir que gosta de ser maltratada por mim. Desculpe”, falou o roqueiro. No set, as coisas começaram a ficar bizarras. Bianco, que tinha 26 anos, disse que passou os próximos três dias em lingerie, mal dormindo ou comendo, com Manson servindo cocaína em vez de comida. Ela se lembra de ele perder a paciência e jogar a câmera em um alarme de incêndio. Ele se tornou violento, amarrando-a com cabos a um altar de oração e a chicoteou.
Esmé Bianco descreveu um brinquedo sexual elétrico utilizado por Marilyn Manson nos machucados dela. O objeto é muito semelhante ao que foi descrito por Evan Rachel Wood como um “método de tortura” usado pelo cantor. Apesar de estar apavorada com tudo aquilo, a artista se convenceu de que era apenas o jeito de Manson de de fazer arte. Dali em diante, ela reconhece que seu psicológico estava tão abalado que ela via nas feridas um vínculo criado com o cantor. Em algum nível, a atriz também refletia que o ocorrido não tinha sido uma prática de BDSM, já que eles não discutiram consentimento ou palavras de segurança.
Dias depois, Manson enviou fotos dos ferimentos e escreveu que “estava trazendo o sexy de volta à moda”. A atriz contou para a amiga Hannah Fox tudo que tinha acontecido na gravação, e ela ficou horrorizada com tudo, principalmente por trabalhar em uma boate fetichista e saber que um clipe jamais poderia deixar aqueles ferimentos. Esmé colocou um ponto final na amizade. Com o tempo, os flertes cresceram e Bianco começou a ter um caso em segredo com o cantor.
Durante as transas, o roqueiro a mordia com violência e sem consentimento, deixando várias marcas. Em 2011, dois anos após a gravação do clipe, Marilyn Manson convidou a artista para morar com ele, e prometeu a ajudá-la com sua carreira iniciante de atriz. A relação tóxica já tinha desenvolvido nela uma dependência gigante. Nesse ponto, ela se lembra, seus cílios estavam caindo de estresse e estava tendo ataques de pânico diários, os quais atribui a estar separada do músico. Esmé se mudou de Londres para Los Angeles, viveu um curto período de “lua de mel”, como ela mesma define, até que o pesadelo começou.
“Eu me sentia basicamente como uma prisioneira. Eu ia e vinha à vontade dele. Com quem falava era totalmente controlado por ele. Liguei para minha família escondida no armário”, lembrou-se. As poucas pessoas que conseguiam contato com Esmé perceberam que algo estava errado, mas não conseguiam tomar muitas atitudes, a própria atriz as impedia. Bianco contou que quando se mudou, ela e Manson concordaram em ser monogâmicos, mas logo descobriu que era mentira. Ele tinha diversas amantes, e toda sua equipe era envolvida em esquemas para acobertar os casos.
Quando a primeira cena de sexo de Esmé em “Game Of Thrones” foi ao ar, Manson reuniu diversas pessoas para assistirem à sequência em um grande telão enquanto humilhava ela. “Essa é minha namorada, ela é uma prostituta. Olha, os peitos dela estão pra fora”, recordou Bianco das coisas que o músico disse. “Eu estava em modo de sobrevivência naquele ponto, e meu cérebro me ensinou a ser pequeno e agradável”, lamentou.
A atriz bebia diariamente para aguentar continuar ao lado de Marilyn. Certo dia, ele repetidamente cortou seu torso com uma faca. “Eu apenas me lembro de estar deitada lá, e não lutei contra isso. Foi uma espécie de gota d’água em que perdi todo o senso de esperança e segurança”, revelou a artista, emocionada. Bianco ficou apavorada e, como muitas sobreviventes de violência doméstica, desenvolveu uma espécie de síndrome de Estocolmo em que distorceu sua realidade. “Toda vez que eu me movo, elas [as feridas] doem tanto pensar em você”, escreveu em uma mensagem enviada para Manson. “Agora, quando penso nisso, fico com muita vergonha. Eu estava tentando desesperadamente agradá-lo e me manter longe de problemas”, confessou.
As violências chegaram ao fim ainda em 2011, com um episódio estarrecedor. Manson a perseguiu pelo apartamento com um machado. A ex-agente e também vítima do cantor, Ashely Walters, presenciou a cena e lembra de Esmé Bianco ter tido um ataque de pânico e ficar “extremamente abalada”. Em segredo, ela procurou por um apartamento, e fugiu da mansão no meio da noite, enquanto o cantor dormia. “Eu tinha tão pouca dignidade restante. Eu acho que algo dentro de mim era como, tenha algum tipo de respeito por si mesma”, falou. Em 2019, a artista desabafou na frente da Assembleia da Califórnia que foi vítima de abusos, mas não teve coragem de revelar o nome do seu algoz.
Entenda as acusações
Anos atrás, a atriz Evan Rachel Wood já havia falado publicamente sobre os abusos que teria sofrido de um ex, sem revelar o nome do agressor. Porém, na manhã de 1º de fevereiro, Wood utilizou o Instagram para divulgar a identidade do responsável pelos atos – o músico Marilyn Manson.
“O nome do meu agressor é Brian Warner, também conhecido mundialmente como Marilyn Manson”, afirmou Evan na publicação. “Ele começou a me aliciar [grooming] quando eu era adolescente e abusou horrivelmente de mim durante anos. Eu fui submetida a uma lavagem cerebral e manipulada até a submissão”, continuou a mensagem. O termo “grooming”, utilizado pela atriz em seu desabafo — conhecido no Brasil como corrupção de menores — descreve o processo no qual o abusador constrói um relacionamento, conquista a confiança e cria uma conexão emocional com uma criança ou jovem para que possa manipulá-los, explorá-los e abusar deles futuramente.
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Essa não é a primeira vez que a estrela de “WestWorld” fala sobre a violência que sofreu, mas a primeira vez que nomeia o responsável pelo crime. Em 2018, perante o Subcomitê Judiciário da Câmara da Califórnia, a atriz revelou que havia sido estuprada. “Minha experiência com violência doméstica foi a seguinte: abuso mental, físico e sexual tóxico que começou devagar, mas aumentou com o tempo, incluindo ameaças contra minha vida, gaslighting (forma de abuso psicológico com intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória e sanidade) e lavagem cerebral, acordando com o homem que alegava me amar estuprando o que ele acreditava ser meu corpo inconsciente”, disse durante a audiência.
Mais vítimas se pronunciaram contra o cantor
As revelações de Evan causaram furor na web e, em demonstração de solidariedade, pelo menos outras quatro mulheres divulgaram as próprias acusações contra Manson. Nos depoimentos, compartilhados por Evan em seus Stories no Instagram, as vítimas do artista – Ashley Walters, Sarah McNeilly, Ashley Lindsay Morgan e Gabriella – detalharam experiências angustiantes que incluem agressão sexual, abuso psicológico e físico, coerção, violência e intimidação. Todas elas afirmam que vem sofrendo de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (PTSD, em inglês) após suas respectivas experiências com Manson.
Nos prints, Ashley Walters escreveu: “Continuo a sofrer de PTSD e a lutar contra a depressão. Mantive contato com algumas pessoas que passaram por seus próprios traumas, sob o controle dele [Manson]. Enquanto todos nós lutávamos, como sobreviventes, para continuar com nossas vidas, eu continuava ouvindo histórias perturbadoramente semelhantes às nossas próprias experiências. Ficou claro o abuso que ele causou; ele continua a infligir a muitos e eu não posso ficar parada e deixar isso acontecer com os outras. Brian Warner precisa ser responsabilizado.”
Já Sarah McNeilly revelou o medo que sente de entrar no radar do cantor novamente. “Eu tenho medo de trazer qualquer holofote sobre mim para evitar cair em sua mira novamente. Como resultado da maneira como ele me tratou, sofro de problemas de saúde mental e PTSD que afetaram meus relacionamentos pessoais e profissionais, minha autoestima e objetivos pessoais”, escreveu ela. “Eu acredito que ele estraga a vida das pessoas. Eu apoio tudo o que tem e tudo virá. Quero ver Brian responsabilizado por sua maldade”, finalizou. Ashley Lindsay Morgan e Gabriella também dividiram os distúrbios terríveis causado pela experiência.