Ludmilla se manifesta após perder ação de injúria racial para Val Marchiori: “Racismo não é liberdade de expressão”; saiba detalhes

Ludmilla se manifestou após perder uma ação que movia contra Val Marchiori. Em 2016, a empresária comparou o cabelo da cantora com “bombril”, marca de esponjas de aço, durante o desfile de carnaval do Salgueiro. A Justiça entendeu que não houve injúria racial e que a socialite estava apenas exercendo sua “liberdade de expressão”.

Em que pese ter sido proferida uma observação de natureza ácida, veiculando opinião em tom de crítica dura, não é possível se extrair dos fatos supracitados qualquer intenção de desqualificar ou ofender a autora em decorrência de sua cor de pele, tampouco de ridicularizá-la ou depreciar a pessoa. O que se vê, em verdade, é que a conduta da apelante se insere no exercício do seu direito de crítica, derivado da liberdade de informação e de expressão”, afirma uma parte da decisão da 14ª Câmara Cível.

Em suas redes sociais, Ludmilla repudiou o desfecho do caso em uma série de tuítes. “‘Sofreu racismo? Fácil. Vai lá e denuncia’, ‘Lugar de racista é na cadeia’, ‘Vocês reclamam demais, é só ir pra justiça’. Vocês percebem agora que não é fácil como parece? Essa não é a primeira, segunda ou terceira denuncia que eu faço. Eu também não sou a primeira a passar por isso e infelizmente não sou a única“, escreveu a cantora.

Eu não me faço de vítima, não. Eu sou! Tá provado. Mas a estrutura desse país é tão racista, que eles tem a audácia de recorrer e ainda por cima comemorar vitória no Instagram. Mas quer saber? Eu NÃO VOU PARAR. E não é só por mim, não! Uma hora as coisas vão ter que mudar“, continuou Lud.

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E no que eu puder usar a minha visibilidade pra ajudar nessa mudança, eu juro pra vocês que eu vou! RACISMO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO“, finalizou o desabafo. A artista se referiu à comemoração que Marchiori postou em seu Instagram. A loira compartilhou uma notícia que falava sobre sua vitória no tribunal e escreveu: “Justiça seja feita“.

Mais tarde, Ludmilla ainda escreveu: “Já que a justiça não faz nada, quero marcar um encontro com a Val pra ela soltar a liberdade de expressão dela no pezinho do meu ouvido, petição pra esse encontro“.

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A equipe de comunicação de Ludmilla também se manifestou contra a decisão da Justiça. “Recebemos com surpresa a informação que após [Ludmilla] ser chamada de ‘Cabelo de bombril’ e vencer processo, Val Marchiori tenha recorrido e ganhado a ação e informamos que a assessoria jurídica da artista está analisando a decisão para eventual recurso“, afirmou a Trigo Comunicação.

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É lamentável, ainda, que a ré comemore uma vitória sobre o preconceito como vem fazendo em suas redes sociais. É lamentável que a branquitude celebre o horror que é o racismo. Esta decisão mostra o quão difícil é lutar contra o racismo que atinge todas as estruturas do país“, continuou.

Por fim, Ludmilla, que, como sabido, é sistematicamente vítima de crimes de injuria racial, reitera que jamais desistirá de batalhar pelos seus direitos e dos seus. ‘Não vou desistir e nem é só por mim. Eu tenho visibilidade, tenho provas e ainda assim tô passando por isso. Imagina quem é anônimo? Não posso e não podemos desistir’“, finalizou o comunicado.

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Entenda o caso

Em 2016, Ludmilla se sentiu ofendida pelos comentários proferidos por Val e resolveu processá-la por injúria racial. Na ocasião, a empresária comentava os bastidores do carnaval carioca, em um programa da Rede Tv!, quando disparou sobre a cantora: “A fantasia está bonita, a maquiagem… agora, o cabelo… Hello! Esse cabelo dela está parecendo um bombril, gente!“.

A cantora venceu a ação em primeira instância, em 2018, ocasião em que o juiz da 3ª Vara Cível do Fórum Regional da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, decidiu que a empresária deveria pagar uma indenização de R$ 10 mil à artista por danos morais. Marchiori recorreu, mas foi novamente condenada em junho de 2020, sendo obrigada a pagar R$ 30 mil à Ludmilla e ainda fazer uma retratação pública. Recorrendo pela terceira vez, a socialite acabou vencendo a disputa judicial.

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Para a juíza Mariana Moreira Tangari Baptista, responsável pela primeira condenação, “está muito claro que a ré insiste em comparar o cabelo da autora a um bombril, ainda que os apresentadores do programa tenham tentado impedir que ela continuasse a ofender a autora, afirmando que se tratava de um aplique e não do cabelo da cantora”.

A sentença afirma que “a liberdade de expressão deve ser exercida com responsabilidade, respeitando outros direitos constitucionalmente tutelados, notadamente o da dignidade da pessoa humana. O comentário feito por ela (Val) não teve nenhum conteúdo jornalístico, informativo e útil para os telespectadores. Na verdade, foi um comentário depreciativo e racista, apto a causar dano moral à autora”.

Ludmilla fantasiada para o desfile do Salgueiro, em 2016. (Foto: Reprodução/ EXTRA)

Na época, Val tentou se defender em suas redes sociais. “Realmente, não gostei de como estava o penteado e não do cabelo em si. Cada um tem o seu, a diferença é o modo como usa. (…) falei que não gostei do penteado escolhido! Que na verdade, nem era o cabelo dela, e sim uma peruca. E independente da cor da pessoa, do jeito da pessoa, ou da pessoa em si. Não gostei, achei que não ficou bom para o look e falei“, escreveu.

Agora, pensar que isso possa representar algum tipo de inferioridade ou superioridade como algumas pessoas disseram, já é demais. A pessoa, seu caráter, sua vida, quem faz é ela própria e não seu cabelo ou peruca. Hello! Pensar dessa forma até me enoja! Não foi preconceito”, pontuou a socialite.

Ludmilla também se manifestou sobre o caso, e chegou a pedir uma indenização de R$ 300 mil por injúria racial. “Depois do desfile muitas pessoas me enviaram um vídeo de uma pessoa que apresentava um programa ao vivo na TV falou que meu cabelo parecia bombril. Eu fiquei muito triste quando vi o vídeo, mas curti o restante da minha noite de ontem tranquila e com sensação de dever cumprido após o desfile da minha escola maravilhosa que arrasou na avenida“, escreveu a artista em seu Instagram.

Hoje, ao viajar pro Pará pra fazer um show, vim refletindo no avião. Quem é essa pessoa? O que eu fiz pra ela? O que ela fez pra chegar onde ela está? E vi que não valia a pena ficar com raiva dela, nem bater boca nas redes sociais. Tenho consciência de tudo que passei pra chegar aqui, vim de baixo SIM, mas lutei MUITO pra chegar onde estou e o mais importante, com um trabalho digno e honesto e com o apoio de toda a minha família e amigos que tenho orgulho de tê-los comigo sempre! Tenho muito orgulho da minha raça e não vai ser qualquer pessoa que vai me colocar pra baixo por puro preconceito, SER CHIQUE É TER VALOR E NÃO PREÇO. Muito obrigada a todos que responderam em minha defesa“, concluiu ela.