Marília Mendonça é acusada de transfobia após episódio em live, e pede desculpas: “Não me justificarei”

Marília Mendonça passou toda a madrugada entre os assuntos mais comentados das redes sociais após ser acusada de transfobia por um episódio que ocorreu durante sua live “Lado B”, na noite de sábado (08). Diante da repercussão, a sertaneja se manifestou sobre o caso na manhã desta segunda-feira (10).

Na ocasião da live, a cantora mencionou uma boate LGBTQIA+ que existia em Goiânia, e contou sobre um integrante de sua banda que teria ficado com uma mulher lá. Enquanto ela falava, no entanto, a própria Marília e seus músicos deram uma série de risadas da história, sugerindo de forma debochada que o rapaz havia se relacionado com uma transsexual.

O papo surgiu durante um dos intervalos de música da live e o trecho viralizou na noite de domingo. “Acho que eu tô lembrada. É quando um integrante nosso falou que tocava em um lugar?”, questionou Marília na cena em questão. “Exatamente”, respondeu um de seus músicos, fazendo com que ela decidisse contar o que houve.

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“Ó, quem é de Goiânia lembra da boate Diesel”, começou ela, já arrancando risadas dos colegas. “E aí eu não vou falar quem, não, e nem vou falar o porquê, vou só ficar calada. Quem lembra da boate Diesel, lembra da boate Diesel”, apontou, enquanto todos faziam comentários e davam risadas novamente.

“[Ele] disse que lá foi o lugar que ele beijou a mulher mais bonita da vida dele”, completou a cantora. “Vixe Maria”, reagiu um dos integrantes da banda. “Êeee”, disse outro. “Foi com os dois pés, papai”, acrescentou mais um, com todos rindo de novo. “É só isso, gente. Aí o contexto vocês não vão saber, né?”, finalizou Marília. “É pesado“, comentou um dos rapazes. “Era mulher mesmo, porr*“, reforçou outro, sendo recebido com mais longas risadas.

Assista:

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Na manhã desta segunda (10), a artista fez um tuíte curto, mas bem objetivo para se pronunciar sobre o caso. Nele, Marília reconheceu o erro e pediu desculpas, sem tentar se explicar.

“Pessoal, aceito que fui errada e que preciso melhorar. Mil perdões. De todo o coração. Aprenderei com meus erros. Não me justificarei”, declarou a sertaneja. Confira:

Repercussão na web

Nas redes sociais, o nome da cantora e a hashtag “Marília Transfóbica” passaram toda a madrugada entre os assuntos mais comentados. Entre as reações, diversas pessoas criticaram o comportamento da artista e outras compartilharam experiências próprias de transfobia.

Uma das primeiras mulheres a comentar o caso foi a influenciadora Bruna Andrade, que questionou a cantora sobre o motivo das risadas. “Eu engoli seco porque eles tavam debochando do amigo que ficou com uma menina trans. Fiquei sem entender qual era a graça de um cara cis se relacionar com uma menina trans, sendo que umas duas músicas antes ela tinha enaltecido o relacionamento de um outro músico da banda dela com uma menina cis”, declarou ela.

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“E aí ficou muito claro: quando o cara se relaciona com uma menina cis aí é ‘palmas, lindo, família’, mas quando o cara se relaciona com uma menina trans é ‘chacota, piada, vergonha’. Foi muito duro pra mim ver a minha musa falar que qualquer cara que demonstra afeto por mim é chacota. Ou seja, eu sou chacota? Eu não sou digna de ser amada, de receber carinho? Todo relacionamento que eu tiver vai ser piadinha?”, questionou Bruna.

“Só que isso, além do constrangimento e do mal-estar pessoal, tem um desdobramento muito pior porque gera violência, gera assassinato. É só você buscar e vai ver milhares de casos de homens que assassinam meninas trans com medo do relacionamento ser descoberto ou que nem se relacionava abertamente com meninas trans porque sabe que se chegar e apresentar pros amigos vai ser motivo de piada igual aconteceu no vídeo”, pontuou a influenciadora. Assista:

https://www.instagram.com/p/CDryDiqpbnA/

Outras personalidades da internet também se indignaram com a situação. “Pois é, né, Marília. Nada além do que pessoas trans já tão acostumadas. Sinta-se feliz por colaborar com um país que mais nos mata”, desabafou a estudante Flora Babylon. “Espero que vocês não chamem a cobrança que Marília Mendonça tá sofrendo, de cancelamento, pois não é. O Brasil é o país que lidera em assassinato de trans no mundo, que ela entenda o peso da ‘piada’ transfóbica que fez, e a ligação direta com a desvalorização da vida de pessoas trans”, declarou Andreza Delgado.

https://twitter.com/florababylon/status/1292646957320753155?s=21

https://twitter.com/andrezadelgado/status/1292666820558716928?s=20

“Infelizmente a transfobia na Live da Marília Mendonça é algo EXTREMAMENTE comum entre héteros cisgêneros. E é por isso que temos que corrigir, apontar o erro e não banalizar ainda mais. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Isso não pode mais ser tolerado, não é brincadeira”, afirmou o colunista do site ‘Mundo Negro’, Leví Kaique. “Por isso que quase não tenho amigos héteros, sempre viro piada pelas costas… nem foi choque ver a Marília Mendonça sendo transfóbica”, lamentou a influencer Mandy Candy.

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“A sua atitude, na live, nos permite perceber por qual motivo o Brasil é uma país que tem uma construção social transfóbica. Não foi ‘sem querer’. O que você fez é reflexo de um país que aprendeu e ensinou a violentar, das mais diversas formas, mulheres trans. Eu adorava muitas das suas músicas, mas confesso que estou decepcionada. Principalmente pela segurança que você teve em falar, o que foi dito, sem compreender a violência que foi projetada por você e as demais pessoas. Você sabe que mulheres trans são mulheres de verdade, né?”, questionou a acadêmica Ana Flor, do perfil “T de travesti”.

Entre fãs e admiradores, muitos se decepcionaram com a artista. “Poxa Marília Mendonça, esperava mais de você que sofreu preconceitos pelo peso! Não achei que pudesse descer ao nível destes machistas nojentos!”, lamentou um fã. “A única artista sertaneja que eu escutava, mas não escuto mais. Eu sei que cancelamento é relativo, pois muitos que escutam a música dela pensam igual a ela, mas eu e minha família não escutamos mais. Pra ela eu não sou ninguém, mas aqui em casa ela também o será”, desabafou outra admiradora.

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“A galera do sertanejo só vai parar de ser escrota com pessoas LGBTQIA+ quando o pessoal parar de dar o pink money pra elas e começar a consumir, dar valor de verdade a artistas na nossa comunidade porque isso a gente tem muitos”, pontuou um internauta. “Essa situação da Marília Mendonça só mostra ainda o quanto mulheres cis se incomodam com mulheres trans, e não aceitam um homem cis hétero ter interesse por uma. Toda balada é assim e sempre foi”, apontou outra.

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“Nunca fui fã dessa mulher, mas sempre apoiei mulheres nesse cenário machista que é o sertanejo, mas infelizmente uma mulher cis não reconhece seus privilégios e ainda debocha e faz piada com mulheres trans, ridícula sem mais”, disparou uma usuária do Twitter. “Eu vendo a Marília sendo transfóbica depois de achar que ela era uma das poucas no sertanejo que respeitava a comunidade LGBTQIA. Não passem pano pra transfóbico, por favor”, pediu outra.