A algumas semanas do lançamento de seu novo álbum de estúdio, “Hit Me Hard and Soft”, Billie Eilish explicou a importância que o trabalho tem em sua vida, bem como o título escolhido. Em entrevista à Rolling Stone divulgada nesta quarta-feira (24), ela, que admitiu gostar dos dois extremos – forte e suave -, confessou que não havia melhor maneira de retratá-la em seu próximo disco. A cantora também desabafou sobre ter conseguido se reconectar com suas raízes para transmiti-las nas composições. Billie falou, ainda, de sua atração por mulheres e mandou a real quando o assunto é masturbação.
Como descrito pela revista, “Hit Me Hard and Soft” promete levar o público para uma zona sombria, desde as depressões mais profundas até a exaustão que vem com o mundo especulando sobre cada movimento de Billie. “Sinto que este álbum sou eu. Não é um personagem. Parece que quando todos adormecemos, para onde vamos? Parece minha juventude e quem eu era quando criança”, refletiu a artista.
A vencedora do Grammy afirmou que passar pela construção do novo álbum foi como regredir para o ano de 2019, com o turbilhão de mudanças que enfrentou. “Foi a melhor época da minha vida. Todo esse processo pareceu que eu estava voltando para a garota que eu era. Eu estive de luto por ela. Tenho procurado por ela em tudo, e é quase como se ela tivesse sido afogada pelo mundo e pela mídia. Não me lembro quando ela foi embora”, confessou.
Finneas, irmão de Eilish e que colabora com ela no disco, também expressou a representatividade do trabalho na vida deles. “De certa forma, desenvolver [Hit Me Hard and Soft] significou revisitar muitas coisas. Eu sinto que este álbum contém alguns fantasmas reais, e digo isso com amor. Há ideias neste álbum que têm cinco anos e há um passado nele que eu realmente gosto. Quando Billie fala sobre a era de ‘When We All Fall Asleep’, foi essa teatralidade e essa escuridão. Qual é a coisa em que ninguém é tão bom quanto Billie? Este álbum foi uma exploração do que fazemos de melhor”, explicou o músico.
Billie também entregou que o significado por trás do título de seu futuro lançamento derivou de uma conversa que teve com o irmão. Ela contou que teve a ideia quando pensou, erroneamente, que o nome de um sintetizador no Logic Pro (software de produção musical) se chamava ‘Hit Me Hard and Soft’. “Achei que era um resumo perfeito do que este álbum faz. É um pedido impossível: você não pode levar pancadas fortes e suaves. Você não pode fazer nada duro e suave ao mesmo tempo. Sou uma pessoa bastante extremista e gosto muito quando as coisas são muito intensas fisicamente, mas também adoro quando as coisas são muito ternas e doces. Quero duas coisas ao mesmo tempo. Então achei que essa era uma maneira muito boa de me descrever e adoro que isso não seja possível”, esclareceu Eilish.
Ao falarem do processo criativo, Billie e Finneas definiram “Hit Me Hard and Soft” como um “álbum incrível”. Apesar de não ser um disco conceitual, o projeto é um conjunto de músicas conscientemente coeso, inspirado em obras de autores dos últimos 15 anos ou mais. Dentre elas, estão: Viva La Vida, do Coldplay; Born to Die, de Lana Del Rey; Goblin, de Tyler, The Creator; Electra Heart, de Marina and the Diamonds; e Big Fish Theory, de Vince Staples.
“Adoro ser lançado em um universo no álbum de uma pessoa. Quando você encontra todo um trabalho que adora ouvir, de cima a baixo. Fico muito mais feliz do que quando ouço uma ótima música, quando você pensa: ‘Nossa, posso preparar meu jantar inteiro ouvindo esse álbum’”, pontuou Finneas.
Billie, por sua vez, expressou o que deseja entregar aos fãs com as músicas inéditas. “Não gosto de singles de álbuns. Cada vez que um artista que eu amo lança um single sem o contexto do álbum, eu já estou propensa a odiá-lo. Eu realmente não gosto quando as coisas estão fora de contexto. Este álbum é como uma família. Não quero que uma criança fique sozinha no meio da sala”, cravou.
Masturbação
Ao falar de sua vida pessoal, Billie Eilish declarou que usa o sexo para desestressar. “Basicamente, eu falo sobre sexo sempre que posso. Esse é literalmente meu assunto favorito. Minha experiência como mulher tem sido vista de uma forma muito estranha. As pessoas ficam tão desconfortáveis em falar sobre isso e estranham quando as mulheres se sentem muito confortáveis com sua sexualidade e são comunicativas. Acho que é uma coisa tão mal vista para se falar, e acho que isso deveria mudar. Você me perguntou o que eu faço para desestressar? Essa merda pode realmente salvar você às vezes, estou apenas dizendo. Não posso recomendar mais, para ser sincera”, garantiu a estrela.
A voz de “Happier Than Ever” também se abriu sobre masturbação, destacando como o assunto ainda é um tabu. “É um exagero, mas o prazer próprio é uma parte enorme da minha vida e uma ajuda enorme para mim. As pessoas deveriam estar se masturbando, cara. Não consigo enfatizar isso o suficiente, pois sou uma pessoa com problemas corporais extremos e dismorfia que tive durante toda a minha vida”, salientou. Eilish acrescentou que gosta de se masturbar em frente ao espelho e explicou o porquê.
“Em parte porque é gostoso, mas também me faz ter uma conexão tão crua e profunda comigo mesma e com meu corpo, e ter um amor pelo meu corpo que nunca tive. Devo dizer que olhar-se no espelho e pensar: ‘Estou muito bem agora’, é muito útil. Você pode fabricar a situação em que se encontra para ter uma boa aparência. Você pode deixar a luz super fraca, pode estar com uma roupa específica ou em uma posição específica que seja mais lisonjeira. Aprendi que olhar para mim mesma e me observar sentindo prazer tem sido uma ajuda extrema para me amar e me aceitar, e para me sentir fortalecida e confortável”, completou. “Eu deveria ter um doutorado na masturbação”, brincou ela.
Sexualidade
Billie chegou a ser abordada sobre as possíveis perguntas que surgirão com o lançamento do álbum, principalmente as de cunho sexual sobre a faixa “Lunch”. “Essa música foi, na verdade, parte do que me ajudou a me tornar quem eu sou, para ser honesta. Eu escrevi um pouco antes mesmo de fazer qualquer coisa com uma garota, e escrevi o resto depois. Estive apaixonada por garotas durante toda a minha vida, mas simplesmente não entendia. Até que, no ano passado, percebi que queria meu rosto em uma vagina. Eu nunca planejei falar sobre minha sexualidade, em um milhão de anos. É realmente frustrante para mim que isso tenha surgido”, confessou ela.
A cantora, então, recordou a entrevista que deu para a Variety no ano passado, em que falou publicamente pela primeira vez sobre sua atração por mulheres. “Quem se importa? O mundo inteiro de repente decidiu quem eu era, e eu não pude dizer nada nem controlar nada disso. Ninguém deveria ser pressionado a ser uma coisa ou outra, e acho que há muitos rótulos querendo ser colocados em todo lugar. Cara, conheço pessoas que não conhecem sua sexualidade, nem se sentem confortáveis com ela, até os quarenta, cinquenta, sessenta anos. Demora um pouco para você se encontrar, e acho muito injusto o jeito que a internet te intimida a falar sobre quem você é e o que você é”, opinou.
Eilish explicou que tentou falar a respeito de uma forma divertida para seus fãs. “Entrei no modo de entrevista com Billie Eilish, [tipo]: ‘Oh, eu não me importo. Sim, direi o que for. Não era óbvio?’. E então eu pensei: ‘Espere. Não era óbvio para mim’. Sei que todo mundo pensa isso sobre mim há anos e anos, mas só estou me descobrindo agora. E, honestamente, o que eu disse foi engraçado, porque eu realmente estava apenas dizendo o que todos estavam dizendo”, recordou.
Ao final, a artista garantiu não se arrepender da decisão tomada, e reconheceu que poderia ter sido pior do que realmente foi. “Tenho a sorte de estar numa época em que posso dizer algo assim e as coisas vão bem para mim. E não é assim que é a experiência de muitas pessoas”, apontou Billie.
Fora em Zoe Kravitz?
A estrela também se abriu sobre a crise existencial que teve em sua festa de 20 anos. “Olhei ao redor e cada pessoa era minha funcionária. Eu estava tipo: ‘Oh, merda, eu literalmente não tenho amigos. Não tenho pessoas que me vejam como igual. Não tenho pessoas que não tenham medo de mim'”, lembrou. Billie, então, disse que na mesma época Zoe Kravitz demonstrou interesse em sair com ela.
“Lembro-me dela perguntando: ‘Por que você não sai comigo?’. E eu falei: ‘Porque quando você me conhecer, você vai me conhecer, e isso é tão assustador para mim, porque eu não sou apenas essa pessoa que você acha legal. E se você não gostar de mim?’. Eu estava obcecada com a ideia de ser uma anomalia, sendo essa personagem da Billie Eilish. De qualquer forma, desde então joguei fora essa ideia e tenho saído com as pessoas. Se eles me conhecerem, tudo bem. Isso é bom”, afirmou.
Zoe também comentou sua iniciativa em chamar Billie para sair. “Nós duas somos sagitarianas, então entendo perfeitamente a inconstância porque posso ser meio parecida. Acho que provavelmente apenas disse a ela para calar a boca e superar isso. E temos sido boas amigas desde então. Na verdade, é o oposto do que ela disse. Quanto mais eu a conheço, fica cada vez melhor”, concluiu a atriz.