Carlinhos de Jesus recordou uma conversa emocionante que teve com a mãe do assassino de seu filho, o músico Carlos Eduardo Menezes de Jesus, conhecido como Dudu. Ele foi morto em novembro de 2011, aos 32 anos, quando foi atingido por tiros disparados pelo policial militar Miguel Ângelo da Silva Medeiros. No episódio mais recente do podcast “Ser Artista”, o coreógrafo admitiu ter sentido a dor da mulher e tentou confortá-la diante da situação.
“No intervalo (do julgamento), eu fui na cantina e olhei a mãe do rapaz. O pai e a mãe estavam na cantina. E ela, muito sem graça ao me ver. Mas eu senti a dor que ela estava sentindo. Assim como eu perdi o meu filho, ela estava perdendo o dela, né?”, ponderou Carlinhos no papo com o apresentador Marcus Montenegro.
Ele acrescentou que tomou a iniciativa de ir falar com a mulher, cujo filho foi condenado pelo assassinato de Dudu. “Eu fui lá e acalentei ela. Dei um abraço nela. Falei pouco. Eu falei boa noite e que Deus olhasse por nós. Eu lembro que eu falei assim: ‘Deus tá olhando por nós’. E saí, apertei a mão do pai”, descreveu o coreógrafo. “Até porque ela não tem culpa, né?”, analisou Montenegro.
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O apresentador, então, questionou o jurado da “Dança dos Famosos” sobre o julgamento. “Eu sei que o culpado já está preso. Mas você, como pai, por tudo o que você passou, porque você teve que lutar muito pra conseguir justiça. Você ainda acredita na justiça brasileira depois de tudo o que você passou? Porque você teve que lutar muito”, recordou ele.
“Marcus, eu não acredito. Até pelo fato de você ter que lutar pelo óbvio, pelo que a gente tem que considerar que é básico. É o respeito, a vida. E eu acho que, quando alguém tira a vida de outra pessoa, eu não desejo que essa pessoa perca sua vida. Mas que ela pague em vida e que a justiça seja feita”, explicou Carlinhos.
Em seguida, ele desabafou sobre a condenação de Medeiros. “E também acho que você dá uma métrica ou um valor numérico de pena. ‘Ah, 16 anos’. Pra perda que eu tive, 16 anos pro cara que atirou no meu filho, eu acho um absurdo. Eu não sei nem se ele está solto por bom comportamento. Porque depois que ele foi condenado, eu coloquei uma pedra em cima disso e segui com a minha vida. Eu não quis mais saber”, completou o coreógrafo.
Ele destacou que, apesar do responsável estar pagando pelo crime, não o perdoou. “Eu acho que quem tem que perdoar é Deus. E eu acho que a justiça é muito falha. Primeiro porque ela é demorada. Segundo porque as pessoas envolvidas, nem todas foram punidas. Existiu um mandante, o ‘corno’, vamos dizer assim. Existiu o cara que estava pilotando a moto e o que estava na garupa e atira. Só foi preso quem apertou o gatilho. O irmão dele que cedeu a arma, que sabia que a arma era pra eliminar um grupo. Não era só o Dudu, era todo o grupo. Ele ia matar os caras do grupo de samba do meu filho, mas quando chegaram encontraram o Dudu logo na entrada”, pontuou Carlinhos.
O dançarino recordou como se deu o processo na época e citou o caso da vereadora Marielle Franco. “Eu fico pensando até que ponto, agora vendo o caso da Marielle, a gente vê a dificuldade de acreditar na Justiça. Porque quando acharam o criminoso… Eu me lembro que eu ia na delegacia de homicídios quase todos os dias para saber como estava o processo. Até que na época, o delegado chegou pra mim e disse: ‘Vá pra casa, não precisa vir aqui, nós estamos trabalhando. Quando eu prender o culpado, você será o primeiro a tomar conhecimento. Fique tranquilo'”, acrescentou.
“Não deu outra. 5h30 da manhã eu recebo uma ligação do delegado envolvido no caso da Marielle. Era ele. Aí já passa um filme na minha cabeça. Será que ele, na época, contribuiu para que os outros não fossem [presos]? Será que ele apurou o caso direito e penalizou um só, por que o outro era mais forte? Ou por que o outro era do bando? Nossa, agora com o caso da Marielle…”, indagou ele.
“Eu me vi naquela situação. Apareceu na televisão a mãe e a irmã da Marielle. Ele fez isso comigo, ele me recebeu, falou pra não me preocupar. E não resta a menor dúvida, ele me liga da porta… Antes das 6h, eles já estavam invadindo a casa do cara e com o cara preso. E do local ele me ligou: ‘Eu estou aqui, acabando de prender o culpado. Estou indo pra delegacia com ele. Se você quiser ir lá’. Eu levantei, eu e Raquel, tomamos banho, me arrumei e fomos pra delegacia conversar com ele”, narrou Carlinhos.
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