Jeff Bezos foi obrigado a alterar os planos de seu casamento com Lauren Sanchez, que teria três dias de festas em Veneza. O bilionário reservou espaços históricos por € 48 milhões (cerca de R$ 280 milhões), mas, diante de protestos, teve que transferir as celebrações para fora do centro da cidade.
A união de Bezos e Sánchez aconteceria de quinta a sábado, com presença confirmada de nomes como Leonardo DiCaprio, Mick Jagger, Oprah Winfrey, Kim Kardashian e outros famosos. A recepção principal estava marcada para sábado (28), na Scuola Grande della Misericordia. Antes disso, segundo o canal italiano Sky TG24, os convidados seriam recepcionados no iate de Bezos, atracado no porto veneziano.

Contudo, de acordo com a agência Reuters, os planos foram alterados e a cerimônia principal agora será realizada no Arsenale, um complexo do século XIV localizado fora do centro da cidade.

A mudança veio à tona após manifestações do movimento “No Space for Bezos” (‘Sem espaço para Bezos’). O grupo é formado por uma coalizão de organizações que acusam o bilionário de privatizar áreas públicas, atrapalhar a mobilidade dos moradores e levantar preocupações ambientais.
Alice Bazzoli, uma das ativistas, enfatizou que o alvo dos protestos é a “privatização e exploração” da cidade: “Ele basicamente vai tratar toda a cidade como um salão de festas privado, como se os cidadãos não existissem”.
Veneza sofre há anos com os impactos do turismo em massa. Milhões de visitantes vão à cidade para admirar sua arquitetura medieval e os canais, o que encarece o custo de vida para os moradores e gera, em sua maioria, empregos temporários e mal remunerados.
Os manifestantes denunciam que o evento “coloca em risco o patrimônio mundial” e transforma Veneza em um “playground para os super-ricos”. Outra integrante do grupo, Federica Toninelli, reforçou: “Isso não é o que Veneza precisa. Não é o que uma cidade que já sofre com o turismo excessivo precisa”.
Os protestos também expõem problemas mais amplos, como a escassez de moradia acessível e o esvaziamento do centro histórico. “Queremos nossa cidade ainda mais invadida por turistas, oligarcas e pessoas que compram e privatizam tudo? Ou queremos serviços, empregos, saúde, escolas, universidades? Queremos viver como cidadãos comuns ou vender tudo para o maior lance?”, questionou Bazzoli.

Protestos
Além do “No Space for Bezos”, outros grupos aderiram aos atos, incluindo o Greenpeace e o coletivo britânico Everyone Hates Elon (“Todos odeiam o Elon”), que criticam a atuação global de bilionários como Bezos. Faixas com o nome de Bezos riscado foram estendidas pela cidade, inclusive nas proximidades da basílica de San Giorgio Maggiore.
Na segunda-feira (23), ativistas desses grupos exibiram um grande banner na Praça de São Marcos com uma imagem de Bezos rindo e a frase: “Se você pode alugar Veneza para seu casamento, pode pagar mais impostos”. A frase faz referência às disputas fiscais da Amazon com governos europeus.
Outro protesto estava previsto para sábado (28), dia da cerimônia, com o objetivo de bloquear os canais com barcos, manifestantes e até crocodilos infláveis para impedir a chegada dos convidados.

No entanto, com a transferência da festa para o Arsenale, uma área cercada por água e inacessível por terra quando as pontes são erguidas, os planos mudaram. Agora, os manifestantes farão uma marcha com o lema “Sem Bezos, sem guerra”, também no sábado.
“Sentimos como se tivéssemos vencido. A iniciativa dos crocodilos teria passado uma imagem ruim da cidade — por isso o local foi alterado, mesmo que as autoridades aleguem que foi por causa da guerra”, disse um dos ativistas, que preferiu não se identificar.
Segundo a imprensa italiana, as manifestações não teriam sido o único motivo para a mudança de local. Preocupações com a segurança também pesaram na decisão, especialmente após o envolvimento dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã. Ivanka Trump, filha do presidente Donald Trump, chegou a Veneza na terça-feira (24) e deve participar da cerimônia. Por conta disso, o esquema de segurança foi reforçado, principalmente nas proximidades do bairro judeu da cidade.
Autoridades se manifestam
Em resposta às críticas, as autoridades locais negaram qualquer impacto negativo à população. Segundo elas, os táxis aquáticos funcionarão normalmente e apenas 200 pessoas foram convidadas para o casamento.
O prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro, também minimizou os protestos: “Aquelas 20 pessoas que colaram cartazes estão claramente tentando se promover às custas dele”. Brugnaro também disse estar “honrado” por Veneza sediar o evento: “Mais uma vez, a cidade mostra que é um palco de relevância mundial”.
Cerca de 200 convidados são esperados para o casamento, e estima-se que até 95 jatinhos particulares aterrissarão no aeroporto de Veneza ao longo da semana.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques