No início de dezembro, a cantora Claudia Leitte foi acusada por internautas de discriminação após alterar a letra da música “Caranguejo” durante uma apresentação. Depois de o Ministério Público da Bahia (MP-BA) abrir um inquérito para investigar o caso, os compositores da canção também se manifestaram. Hoje (16), Durval Luz e Nino Balla, autores da música, anunciaram que pretendem processar a cantora por intolerância religiosa.
Em entrevista ao portal LeoDias, Durval ressaltou que a canção é um sucesso interpretado por diversos artistas, como Ludmilla, Timbalada e Ivete Sangalo. “Já mandei todos os documentos para meu advogado (…) O Nino Balla, que também é compositor, está comigo (…) Fizemos a ‘Caranguejo’ na época do Babado Novo, lá no começo, em Campina Grande [Paraíba]. A ideia do refrão inclusive é minha. Gravamos nos primeiros discos. É um sucesso eterno”, destacou.

Durval afirmou que nem a banda Babado Novo, nem os compositores foram consultados sobre a mudança na letra feita por Claudia Leitte, que substituiu o trecho “Saudando a rainha Iemanjá” por “Só louvo meu rei Yeshua (Jesus, em hebraico)” em suas apresentações. “Fiquei meio sem entender (…) Na época [da mudança], não teve a mesma repercussão, até porque nem se tinha tanta informação como hoje (…) Ela não falou nada, nem conversa, nada mesmo, autorização, nada formalizado no papel”, apontou o compositor.
Durval, que também é evangélico, afirmou que seguirá com o processo por intolerância religiosa junto à Justiça da Bahia. A ação será movida em conjunto com Nino Balla e deve ser protocolada após o fim do recesso do judiciário, em fevereiro. Ele destacou que a motivação do processo vai além da mudança na letra, incluindo a falta de solicitação formal para a alteração.
O compositor também reforçou seu respeito às religiões de matriz africana, que inspiram muitas composições do Axé. “Eu sou batizado, evangélico, mas não tenho nenhum preconceito ou intolerância religiosa, até porque a música cita Iemanjá. Além disso, por eu ser tocador de Axé, nascido na Bahia, não tenho como desassociar as letras dessas influências”, afirmou.
Durval fez questão de destacar sua descendência e a responsabilidade de preservar a cultura de seus ancestrais. “Eu sou preto, sou neto de escravos, readquirido pela lei do ventre livre, que antecedeu a Lei Áurea. Eu faço parte disso e não posso me desassociar deste debate por conta da minha religião, seja evangélica, católica. Tanto que fiz canções com outras temáticas que colocam Iemanjá”, concluiu.

Inquérito
A atitude de Claudia Leitte gerou polêmica nas redes sociais e chamou a atenção do MP-BA, que instaurou um inquérito para apurar um possível ato de racismo religioso cometido pela artista.
Após a repercussão, Claudia se pronunciou em uma coletiva de imprensa nos bastidores do Festival Virada Salvador, no Réveillon. A cantora afirmou que o tema precisa ser tratado com “seriedade” e não de forma “superficial”. “Eu acho que esse assunto é muito sério. Daqui do meu lugar de privilégios, racismo é uma pauta para ser discutida com muita seriedade, não de forma tão superficial. Eu prezo muito pelo respeito, pela solidariedade, pela integridade. A gente não pode negociar esses valores de jeito nenhum, nem colocar isso dessa maneira, jogado ao tribunal da internet. É isso”, declarou.
Assista:
Claudia Leitte evita polêmica sobre mudança de letras de músicas em meio a denúncia de intolerância religiosa
🎥 Alana Dias / Bahia Notícias pic.twitter.com/v9DdG8vizn
— Bahia Notícias (@BahiaNoticias) December 30, 2024
A cantora não cantou “Caranguejo” no festival. Clique aqui para saber mais sobre o caso.