O julgamento de Daniel Alves entrou no último dia nesta quarta-feira (7). A sessão está sendo dedicada a trâmites periciais, que entregarão um relatório e as conclusões sobre o caso, além do depoimento do atleta. Ele é acusado de estuprar uma mulher em uma boate de Barcelona em 2022. Segundo o g1, no Tribunal de Justiça da Catalunha, os médicos confirmaram ter encontrado DNA do jogador dentro do corpo da denunciante.
As análises foram coletadas em fevereiro do ano passado, quando o processo ainda seguia em segredo de Justiça. Já naquela época, a imprensa espanhola afirmou, com base em fontes da investigação, que os exames da jovem haviam indicado restos de sêmen de Daniel. Os médicos confirmaram a informação durante o depoimento.
A psicóloga que fez o acompanhamento da jovem, também disse que ela desenvolveu um “sintoma pós-traumático”. “Ficava muito nervosa quando escutava [alguém] falar português. Também apresentou estado emocional negativo persistente e alteração no sono. Uma série de sintomas que se desencadeiam e podem ser vistos na entrevista de que ela tinha uma situação pós-traumática”, relatou.
“Quando estamos com uma paciente que sofre com sintomas pós-traumáticos tão variados, é alguém que tem a sensação de perder o controle da vida e das emoções. Não estar tomando medicação não significa que não tenha uma síndrome pós-traumática. Muitos não querem tomar para não estarem sob efeito de remédios. Um dos indicadores da condição de vítima é sentir culpa por algo que de fora está claro”, completou a psicóloga forense.
Um perito contratado pela defesa afirmou que a falta de lesões íntimas na denunciante, o faz pensar que a relação sexual “não foi tão traumática” quanto ela diz ser. “Ela conta uma história sobre tapas, agarrões no pescoço… Não vemos nenhum ferimento em nenhuma parte do corpo. Ela disse que sentiu um nível intenso [de dor] ao urinar. Na minha experiência pessoal, quando ela nos conta que foi uma relação dolorosa, é muito estranho que não encontremos nada. A ausência até mesmo de inchaço me faz pensar que a relação sexual não foi tão traumática”, disse.
A psicóloga forense da defesa reiterou que os testes feitos com a jovem foram “superficiais”, além de apontar uma ligação maior dos sintomas com um transtorno de ansiedade do que com estresse pós-traumático.
Quanto às alegações de que não houve lesões, os especialistas que analisaram o caso declararam que 70% das vítimas de abuso sexual não apresentam machucados. Com isso, não é possível usar o argumento como justificativa de que a relação teria sido consensual. “Estamos também acostumados a ver casos de violência em que não há lesões físicas. Nesse caso, não encontramos nenhuma lesão, mas não podemos dizer que não tenha nenhuma agressão”, afirmou o médico.
A defesa do atleta pretende usar o argumento de que Daniel estava “embriagado demais” e teve suas “faculdades alteradas” quando tudo aconteceu. A versão foi reforçada pela modelo Joana Sanz, esposa dele, em depoimento nesta terça-feira (6). O médico forense que acompanhou o estado psicológico de Alves confirmou que ele não está acostumado a beber e, consequentemente, suas capacidades cognitivas e motoras foram afetadas.
Caso a versão da embriaguez seja aceita, isso pode garantir uma redução de pena em cerca de três anos. O Ministério Público pede nove anos de prisão, enquanto a defesa da moça solicitou 12 anos, mas ainda não há previsão para a sentença final da juíza Isabel Delgado Pérez. Daniel Alves nega as acusações.
De acordo com a publicação, a Justiça de Barcelona analisa prolongar o julgamento até quinta-feira, 8 de fevereiro, caso a fala do ex-lateral da Seleção Brasileira se estenda mais que o esperado. Ele chegou ao local algemado e escoltado por cinco policiais.
Versões
Desde que foi detido, Alves mudou sua versão dos fatos pelo menos cinco vezes. Na primeira vez em que falou sobre o caso, ele afirmou que não conhecia a denunciante. No depoimento à polícia, ele declarou ter entrado no banheiro junto com a espanhola, mas negou ter havido qualquer relação entre os dois. Já em abril do ano passado, ele disse à juíza que teve relações sexuais consensuais com a jovem, mas sem penetração.
O lateral afirmou que negou inicialmente, pois queria esconder a infidelidade da esposa. Mais tarde, ele admitiu que houve penetração, mas continuou reforçando que a relação com a moça foi consensual. Na versão mais recente, ele alegou que estava embriagado na madrugada em questão.
O julgamento
No primeiro dia (5), a mulher que o denuncia deu uma declaração de 1h15, confirmando o relato de que foi estuprada e agredida pelo brasileiro no banheiro de uma área VIP da discoteca Sutton, em 30 de dezembro de 2022. Outras duas mulheres o acusaram de apalpá-las na mesma noite. Já a defesa, representada pela advogada Inés Guardiola, mencionou que Daniel Alves se diz vítima de um “tribunal paralelo” feito pela opinião pública.
No dia seguinte (6), Joana Sanz foi ouvida pela Justiça espanhola, relatando que o marido chegou em casa “visivelmente alterado” naquela noite. Robert Massanet, um dos sócios da boate, também prestou depoimento. Ele revelou que encontrou a denunciante chorando e compartilhou o que, segundo ela, aconteceu no banheiro do local. O gerente da boate e o chef Bruno Brasil, que estava com o jogador, já falaram na audiência. Clique aqui para saber os detalhes.