Nesta segunda-feira (5), teve início o julgamento de Daniel Alves, acusado de estuprar uma mulher em uma boate de Barcelona em 2022. O atleta está detido desde o dia 20 de janeiro de 2023, na Espanha. Com uma série de medidas protetivas, a mulher que o denuncia deu uma declaração de 1h15. Outras 28 testemunhas serão ouvidas ao longo de três dias, além do próprio Daniel. As informações são do UOL.
No depoimento, a jovem confirmou seu primeiro relato, de que foi estuprada e agredida pelo brasileiro no banheiro de uma área VIP da discoteca Sutton, em 30 de dezembro de 2022. O Ministério Público pede nove anos de prisão para o lateral, enquanto a defesa da moça solicitou 12 anos, mas ainda não há previsão para a sentença final. Até lá, Daniel Alves permanecerá em prisão preventiva. Esta foi a primeira vez que ele apareceu publicamente desde que foi preso. Caso condenado, ele pode se tornar a primeira celebridade condenada pela lei do “só sim é sim” no país. Assista:
Começa o julgamento de Daniel Alves na Espanha por estupro pic.twitter.com/RDxRNz3o5l
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) February 5, 2024
Acompanhada de psicólogos, a jovem depôs na mesma sala em que Alves estava, mas os dois não tiveram contato visual. Para impedir que ela tivesse dados e imagens expostos, todos que assistiam presencialmente foram retirados da sala e o sinal de streaming interno disponível para jornalistas foi interrompido. A voz e a imagem da mulher também foram alteradas, para evitar que os arquivos da Justiça espanhola tenham elementos que permitam identificá-la.
A defesa do brasileiro ainda tentou um acordo com os advogados da mulher antes do julgamento, segundo fontes ouvidas pela TV espanhola Telecinco. As conversas chegaram a ser protocoladas, mas a divulgação de imagens da jovem pela mãe de Daniel Alves teriam atrapalhado as negociações. A Justiça de Barcelona havia proibido a difusão de informações sobre ela enquanto o processo corre. Segundo o “El Periódico”, a mulher vai processar Lucia Alves.
Uma amiga da denunciante, que estava na Sutton, também prestou depoimento. A jovem falou por cerca de meia hora e chorou ao relatar sua versão. “Nunca a tinha visto chorar assim na minha vida. Ela repetia: ‘Ele me machucou muito, ele me machucou muito’. No final, nós três choramos porque não sabíamos como reagir”, disse, referindo-se à denunciante e à prima dela, que estava com as duas naquela noite.
“Ela queria ir embora e eu disse para ela não ir, que ela tinha que denunciar”, lembrou. “Eles não vão acreditar em mim”, teria insistido a mulher. Depois de muita conversa, porém, a amiga teria concordado em ir ao hospital fazer um exame de corpo de delito.
Segundo ela, Daniel Alves se aproximou delas com uma “atitude nojenta”, tocando em ambas. A moça disse, ainda, que o jogador não parecia estar embriagado, conforme a versão que a defesa pretende apresentar. A testemunha falou sobre as consequências do caso para a denunciante: “Ela perdeu muito peso, não se encontra mais com os amigos porque não confia em ninguém. Ela pensa que a estão seguindo, nunca está tranquila, acha que estão tentando fotografá-la. É difícil tirá-la de casa. Ela fica obsessiva com tudo”.
A amiga também respondeu a perguntas da advogada de Daniel Alves. A magistrada fez questionamentos sobre detalhes daquela noite, tentando encontrar contradições no depoimento. A frase “não me lembro” teria sido a resposta geral.
No início da sessão, a advogada Inés Guardiola afirmou que o jogador se diz vítima de um “tribunal paralelo” feito pela opinião pública. Segundo ela, a forma como a imprensa agiu internacionalmente permitiu a criação de julgamentos paralelos que podem interferir na sentença final dos magistrados.
A defesa ainda pediu a suspensão do julgamento devido a uma suposta violação dos direitos fundamentais do jogador ao privar o perito da sua parte de intervir no exame psicológico da vítima. O pedido foi negado. Ainda assim, na saída, Inés garantiu estar “muito satisfeita” e que seu cliente havia sido “muito corajoso” ao enfrentar o tribunal.
Seis testemunhas prestarão depoimento na primeira sessão, entre elas, a mulher que o acusa, e a mãe de Daniel. As outras 22 pessoas falam nesta terça-feira, 6 de fevereiro. Já a última sessão, no dia 7, será dedicada a trâmites periciais, que entregarão um relatório e as conclusões sobre o caso. O acusado, que pelo cronograma inicial falaria hoje, pediu para que seu depoimento fosse adiado para quarta-feira, depois que todos fossem ouvidos.
Relembre o caso
Daniel Alves foi detido no dia 20 de janeiro de 2023, na Espanha, após ser acusado de abuso sexual. Segundo a denúncia, que está na Justiça da Catalunha, uma mulher de 23 anos declarou que foi estuprada pelo jogador durante uma festa em Barcelona, no dia 30 de dezembro de 2022. Clique aqui para saber os detalhes.
Em agosto, a Justiça da Espanha o acusou formalmente pelo crime de agressão sexual. Perante a juíza, ele afirmou que não concordava com seu indiciamento. Daniel, entretanto, comunicou a decisão de não recorrer porque quer “agilizar” o processo para o julgamento acontecer o mais rápido possível.
Desde que foi detido, ele já mudou sua versão dos fatos pelo menos cinco vezes. Na primeira vez em que falou sobre o caso, ele afirmou que não conhecida a denunciante. Semanas depois, disse ter visto a espanhola na boate, mas negou qualquer envolvimento. Em abril do ano passado, ele disse à juíza que teve relações sexuais consensuais com a jovem, mas sem penetração. Alves disse que negou inicialmente, pois queria esconder a infidelidade da esposa, a modelo Joanna Sanz.
Em outro momento, ele admitiu que houve penetração, mas continuou reforçando que a relação com a moça foi consensual. Na versão mais recente, ele alegou que estava embriagado na madrugada em questão. Até a conclusão do julgamento, o brasileiro segue preso sem direito a fiança. A juíza do caso já determinou que Daniel Alves precisará pagar 150 mil euros (cerca de 798 mil reais) à jovem, para cobrir eventuais danos e prejuízos.