Em relato forte e importante, atriz Karen Junqueira revela ter sido estuprada aos 12 anos pelo pai de sua melhor amiga: “Sua filha dormia grudada em mim”

A atriz Karen Junqueira fez um forte relato nesta terça-feira (21), revelando que foi estuprada aos 12 anos, pelo pai de uma amiga. A artista – que interpretou Tuca em “Malhação” entre 2006 e 2007, e Jéssica na novela “Haja Coração” – lembrou como a ocasião dolorosa marcou sua vida, e contou que decidiu quebrar o silêncio em apoio a outras vítimas de violência sexual.

O depoimento de Karen foi escrito por ela mesma e publicado hoje pela revista Cláudia. “Aos 37 anos, decidi contar minha história. Senti necessidade de acalentar aquela menina que aos 12 anos sofreu abuso e ficou calada”, escreveu ela. Por conta da pandemia do coronavírus, a atriz retornou à sua cidade-natal, Caxambu (MG), quando infelizmente reencontrou seu agressor. “Tive que cruzar com a pessoa que me abusou, vivendo livremente como se nunca tivesse feito algo tão monstruoso”, mencionou.

“Eu congelei e sequer consegui abrir os olhos”

O estupro aconteceu na noite após uma festinha de sua amiga de infância. “Era aniversário da minha melhor amiga e acabei passando a noite na casa dela. Eu me lembro de cada detalhe. Estávamos juntas, lado a lado, dormindo na mesma cama. Era tarde da noite, usávamos o mesmo pijama branco estampado com palhacinhos vermelhos. Foi quando meu sono foi interrompido pelo pai dela”, iniciou Karen.

Karen Junqueira interpretou Jéssica em “Haja Coração”. (Foto: Reprodução/TV Globo)

“Naquele instante meu mundo parou. Eu congelei e sequer consegui abrir os olhos ou a boca para gritar. Lentamente, ele abaixou meu pijama e com seus dedos e língua começou a me tocar. Foram poucos minutos que se transformaram em uma eternidade massacrante”, continuou ela. O agressor nem sequer se importou com a presença da filha, que dormia ao lado de Karen. “Enquanto ele me abusava, sua filha dormia grudada em mim e eu escutava sua esposa tomar banho”, acrescentou.

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“Quando o chuveiro parou, ele rapidamente me vestiu o pijama e deixou o quarto. Eu me contorcia chorando e passei o resto da noite em claro, ainda estarrecida”, lembrou ela. Na época, Junqueira não entedia bem a situação e temia ter alguma culpa. “No dia seguinte, uma repulsa enorme tomou conta de mim. Fui embora e me afastei da minha melhor amiga na época. Senti muita vergonha de contar o ocorrido e ser culpada de alguma forma, afinal, aquela família era muito próxima dos meus pais. Minha cabeça não entendia”, explicou.

Karen ainda mencionou que comportamentos inadequados para com as crianças eram recorrentes na cidade: “Tinha sempre o ‘tio’ da banca que me oferecia uma bala e, quando ia pegar, apalpava meu seio”. Esses dilemas, frequentemente, nem chegavam aos pais… “São situações que, ainda criança, não se sabe discernir. Ainda mais quando o abusador é amigável. Não enxergamos a maldade e, por muitas vezes, esse assunto acaba não chegando ao conhecimento dos nossos pais. Mas o ‘tio’ da banca foi só o início”.

Karen revelou o caso à mãe apenas 10 anos depois

Foi só com a morte de seu pai, dez anos após o estupro, que Karen conseguiu se abrir com a mãe sobre o assunto. “Alertei que aquela pessoa não era amigo da família, e sim um pedófilo que me abusou. Pedi para que não tocasse mais naquele assunto comigo, pois me machucava. Um pacto silencioso começou entre nós duas. Ela não mencionou mais, me respeitou. Mesmo aquilo ficando em minha alma, sem expor, não cicatrizou sozinho”, refletiu.

Segundo a atriz, sua mãe chegou a questioná-la se a agressão realmente teria acontecido, ou se não passava de um “sonho”. “Ter que relembrar questionamentos da minha mãe me fez refletir profundamente a seriedade disso. É claro que ela não queria acreditar como alguém tão ‘legal e inofensivo’ poderia fazer tal coisa. Não quero julgá-la. Ela é apenas mais uma vítima do machismo estrutural que impera na sociedade. A submissão sempre esteve encruada dentro da minha casa”, avaliou Junqueira.

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Desejo de encorajar mais vítimas

Nem o passar dos anos pôde apagar as dores vividas por Karen. “O abuso que sofri me gerou muitas questões emocionais. Desconfiança excessiva e insegurança foram algumas delas. Durante muito tempo tive que procurar entender e restabelecer meu valor e lugar no mundo”, disse ela. “Eu conheço os sentimentos que os permeiam: culpa, medo e muita vergonha”, detalhou ela, sobre o que as vítimas desses crimes encaram.

Karen Junqueira espera poder motivar mais vítimas de violência sexual e doméstica a não se calarem. (Foto: Globo/Cesar Alves)

No entanto, hoje, Karen conseguiu ressignificar suas feridas: “Durante muito tempo a terapia me ajudou a enxergar a força que tenho. Decidi transformar feridas em combustível para seguir em frente. É uma longa estrada de erros e acertos comigo mesma”.

Com sua voz, ela espera contribuir para o fim do silêncio de tantas vítimas. “O objetivo deste relato é encorajar aos que foram abusados a não se calarem. Não podemos mais normalizar a cultura do estupro e do silêncio”, declarou. Inclusive, a atriz sente que seu relato já surtiu efeitos positivos: “Poder falar abertamente sobre isso está sendo uma libertação pra mim. Não tenho mais vergonha de me expor”.

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Pelas redes sociais, a atriz de “Chacrinha: O Velho Guerreiro” falou mais sobre o assunto e seu desejo de incentivar que mais mulheres denunciem, em vista do aumento no número de caso de violência doméstica. “Meu objetivo é encorajar, motivar a não se calarem. Denunciem! Quantas mulheres já conheceram com uma história parecida? Precisamos repensar as estruturas em que fomos criados, os preconceitos e as culturas destrutivas”, comentou.

No Instagram, ela ainda deixou seu apelo: “Só quem passou por isso sabe a importância do poder que a fala tem nesse lugar de dor. Como acho necessário e importante fazer parte desse movimento! Juntas somos melhores e podemos influenciar a cura coletiva e cessar abusos contra a mulher, seja no trabalho, em casa ou qualquer lugar. Não podemos mais nos silenciar”. Confira:

https://www.instagram.com/p/CC5_a-Rpgo2/

Leia o relato de Karen Junqueira na íntegra, clicando aqui.