Vivian Guglielmetti, esposa de Robson de Sousa, o Robinho, falou pela primeira vez sobre a condenação dele a nove anos, por estupro coletivo, em Milão, na Itália. Em entrevista ao portal Metrópoles, nesta segunda-feira (18), ela defendeu o ex-jogador e disse que ele estava sendo perseguido no país.
Robinho está preso na Penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo, desde março deste ano. Na ocasião, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) homologou a condenação italiana, e o atleta passou a cumprir pena no Brasil. A decisão também ocorreu após a publicação dos registros da polícia italiana no podcast do UOL, “Esporte Histórias – Os Grampos de Robinho”.
Um habeas corpus solicitado pela defesa dele no Supremo Tribunal Federal (STF) tenta reverter a prisão. Neste momento, a votação do júri está em 5 votos a 1 para manter Robinho detido. Diante das atualizações do caso, Vivian decidiu se pronunciar e disse que irá “lutar pela família”.
“Eu poderia estar em qualquer lugar hoje com os meus três filhos, sem querer saber desta história. Não, eu estou aqui. Eu vou lutar pela minha família, pelo meu casamento, pelos meus filhos. As minhas questões pessoais de marido e mulher, resolvi lá atrás. O erro foi a traição. Eu fui traída e hoje ridicularizada mundialmente. Mas escolhi lutar pela verdade”, afirmou.
Ela também apontou como a situação tem refletido entre os familiares. “É muito difícil para mim, por tudo isso que tem acontecido. É tudo muito pesado para nós. [Falo] pela honra da minha família, pela nossa dignidade, para a gente poder andar de cabeça erguida pela rua”, observou.
Apesar dos documentos expostos pelas autoridades, a mulher ressaltou que acredita na versão de Robinho. “Ninguém no Brasil sabe mais desse caso que eu”, cravou. “O Robinho foi condenado por áudios entre amigos, imorais, horrorosos. Só que isso não é um crime. A traição que houve comigo não é um crime. Está muito distante de ser um crime. Entre um ato imoral e um crime tem uma distância muito grande. Ele está há oito meses pagando por algo que não aconteceu”, disse ela.
Os áudios mencionados por Vivian foram obtidos pela polícia italiana por meio de escutas. Nas gravações, Robinho e alguns amigos chegam a dar diversos detalhes sobre o ato sexual. O material, inclusive, foi usado no julgamento que condenou o ex-jogador. A vítima é uma albanesa que tinha 23 anos na época. Ela afirmou que o atleta e quatro amigos dele se aproveitaram da embriaguez dela para estuprá-la. Segundo relato, a moça perdeu a consciência momentaneamente e acordou sendo abusada sexualmente, sem condição de reagir.
A noite na boate
Vivian contou que ficou responsável por preparar uma festa para Rudney Gomes, amigo de Robinho, de última hora. Ela chegou a ir na boate Sio Café, em Milão, onde permaneceu entre 22h e 1h10. Já o crime pelo qual o ex-jogador foi condenado teria ocorrido entre 1h59, quando a vítima apareceu dançando na pista, e 2h21, quando ela enviou mensagem a uma amiga dizendo que estava no carro.
“Era uma noite tranquila, de segunda-feira, chamada ‘serata braziliana’, em que os brasileiros tocavam pagode. Nas fotos, dá para ver casais de pessoas mais velhas. Não era aquela discoteca lotada de gente”, recordou Guglielmetti. “À 0h43, eu estou cortando o bolo e entregando para todo mundo. Ainda sentei para comer, eu lembro disso. Deu 1h, 1h10, eu falei: ‘Robinho, eu vou embora, hoje é segunda-feira, os meninos têm escola amanhã, você tem treino’. Ele falou: ‘Meus amigos só vão ficar cinco dias, deixa eu ficar mais um pouquinho’. Eu, não querendo ser a chata, falei: ‘Tá bom, não demora'”, descreveu.
“Eu lembro que ele chegou em casa mais ou menos meia hora depois. Eu tinha tomado um energético, porque estava lá desde as 15h. Na hora em que eu fui dormir, fiquei com meu coração acelerado. Fui dar uma caminhada na esteira. Eu estava angustiada, talvez até por causa da situação. O Robinho abriu a porta da academia e falou: ‘O que você está fazendo? Sai daí, vamos dormir'”, continuou.
A mulher, então, questionou a versão da vítima. “Ela alega que, em 22 minutos, ficou com falta de ar, desmaiou, acordou no camarim, que o Robinho e o Alex [Bita] estão em cima dela. Ela se veste, coloca a roupa toda, vai até o carro, troca de carro, esquece a bolsa”, ponderou.
Conforme Vivian, ela só foi informada do que acontecera em março de 2014, quando a polícia italiana foi até a residência do casal. “Eu estava deitada fazendo drenagem linfática. Coloquei meu roupão, me assustei. Era uma policial mulher e um homem. Ela foi para dentro do quarto comigo, sentou e falou: ‘Você sabe por que estamos aqui? O seu marido está sendo chamado para depor. Houve um episódio em janeiro de 2013… Tem uma moça alegando que foi violentada por eles'”, narrou.
Perdão
Guglielmetti mencionou que cogitou se separar de Robinho à época, mas mudou de ideia ao ser convencida por ele de que não houve estupro. “Eu cheguei em casa e falei: ‘Vou embora, vou pegar meus filhos e estou indo embora’. Ele: ‘Não, pelo amor de Deus. Meu erro foi ter te traído, não vou mais fazer'”, relatou.
Áudios expostos
Na entrevista, a esposa de Robinho também repudiou os áudios das escutas telefônicas anexados à investigação, e confessou ter ficado constrangida. “São horríveis aqueles áudios, são vergonhosos, são imorais. É triste. Me dava raiva porque eu sei quem é o Robinho, de levar as coisas sempre na brincadeira. Na minha percepção, ele tinha tanta tranquilidade de que ele não tinha feito nada, que ele brinca: ‘Ah, que se dane’”, criticou.
Ela ainda acredita que as mensagens foram trocadas em “tom de brincadeira de WhatsApp, de muito mau gosto, de sarro”. “Sempre falei que, para o Robinho, era tudo muito levado na brincadeira”, ressaltou.
Condenação de Robinho
O processo contra Robinho na Itália chegou ao fim em janeiro de 2022, com a condenação pela Suprema Corte do país. Com base na Lei de Migração de 2017, a Corte decidiu que o ex-jogador deveria cumprir pena no Brasil. Para Vivian, a decisão foi um “alívio”.
“Quando falaram de vir o processo para o Brasil, a gente teve um acalento. Caramba, é o nosso país, é o nosso povo. A Justiça brasileira vai ver isso daqui, vai analisar e ver o quanto a gente foi injustiçado na Itália. Não aconteceu. Não quiseram analisar o processo, não quiseram saber”, argumentou.
Ela também abordou as visitas que faz ao marido desde que ele foi preso. “Vou lá todas as semanas. Levo a comidinha dele, os produtos de higiene, os produtos de limpeza. Graças a Deus, ele tem uma cabeça muito boa. Eu, às vezes, vou para tentar acalmá-lo, e é ele quem me acalma”, revelou a mulher.
Por fim, Vivian esclareceu que conversa com os filhos sobre o ocorrido. “Eu converso muito com nossos filhos. O Robinho também. Eles vão em algumas visitas. Quando vamos todos, aí vira aquela bagunça. Ele entra naquele papel de pai total, eles brincam muito, conversam. Eu abri todo o processo para os meus filhos. Aconteceu isso, isso, isso. E eu falo para eles: vai ter um dia em que a gente vai ver a justiça de fato”, concluiu.
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