Anos atrás, a atriz Evan Rachel Wood já havia falado publicamente sobre os abusos que teria sofrido de um ex, sem revelar o nome do agressor. Porém, na manhã de hoje (1º), Wood utilizou o Instagram para divulgar a identidade do responsável pelos atos – o músico Marilyn Manson.
“O nome do meu agressor é Brian Warner, também conhecido mundialmente como Marilyn Manson”, afirmou Evan na publicação. “Ele começou a me aliciar [grooming] quando eu era adolescente e abusou horrivelmente de mim durante anos. Eu fui submetida a uma lavagem cerebral e manipulada até a submissão”, continuou a mensagem.
O termo “grooming”, utilizado pela atriz em seu desabafo – conhecido no Brasil como corrupção de menores – descreve o processo no qual o abusador constrói um relacionamento, conquista a confiança e cria uma conexão emocional com uma criança ou jovem para que possa manipulá-los, explorá-los e abusar deles futuramente.
O relato de Wood continuou com um desabafo sobre o que ela vem sentindo desde o fim do relacionamento com o cantor. “Cansei de viver com medo de retaliação, calúnia ou chantagem”, declarou. De acordo com o post, a intenção da atriz é expor o perigo ao qual mulheres estariam expostas ao se envolverem com Manson. “Estou aqui para expor este homem perigoso e convocar as muitas indústrias que o capacitaram, antes que ele arruíne mais vidas”, alertou ela. “Estou com as muitas vítimas que não ficarão mais caladas”, finalizou.
O relacionamento
Evan Rachel Wood, que hoje estrela “Westworld”, da HBO, afirmou ter conhecido o roqueiro quando tinha apenas 18 anos. O relacionamento de Evan e Manson veio à público em 2007, quando a atriz completou 19 anos. O cantor, na época, tinha 38. O envolvimento do casal foi tão sério que ambos chegaram a ficar noivos, porém, o namoro chegou ao fim em 2010, antes que pudessem realmente trocar alianças.
Em 2009, antes de se separarem, Manson fez declarações horripilantes sobre desejos de agredir a então noiva em um artigo para a revista Spin. “Eu tenho fantasias todos os dias sobre quebrar o crânio dela com uma marreta”, disse ele. Em 2020, quando questionado por um jornalista sobre a declarção chocante, um representante do cantor afirmou que o comentário era “obviamente uma entrevista de uma estrela do rock teatral promovendo um novo álbum, e não um relato factual.”
Essa não é a primeira vez que a atriz fala sobre a violência que sofreu, mas a primeira vez que nomeia o responsável pelo crime. Em 2018, a atriz testemunhou perante o Subcomitê Judiciário da Câmara da Califórnia como parte de um esforço para obter aos sobreviventes de agressão sexual uma Declaração de Direitos que foi aprovada em todos os 50 estados dos Estados Unidos.
Na época, a atriz revelou que havia sido estuprada. “Minha experiência com violência doméstica foi a seguinte: abuso mental, físico e sexual tóxico que começou devagar, mas aumentou com o tempo, incluindo ameaças contra minha vida, gaslighting (forma de abuso psicológico com intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória e sanidade) e lavagem cerebral, acordando com o homem que alegava me amar estuprando o que ele acreditava ser meu corpo inconsciente”, disse ela durante a audiência.
No ano seguinte, em 2019, a cantora testemunhou perante legisladores da Califórnia em nome da Lei de Phoenix, legislação que alterou o estatuto de limitações para crimes envolvendo violência doméstica.
Mais vítimas se pronunciaram contra o cantor
As revelações de Evan causaram furor na web e, em demonstração de solidariedade, pelo menos outras quatro mulheres divulgaram as próprias acusações contra Manson. Nos depoimentos, compartilhados por Evan em seus Stories no Instagram, as vítimas do artista detalharam experiências angustiantes que incluem agressão sexual, abuso psicológico e físico, coerção, violência e intimidação.
Wood também postou quatro experiências de outras mulheres em seus Stories no Instagram – as outras vítimas são Ashley Walters, Sarah McNeilly, Ashley Lindsay Morgan e Gabriella. Nas postagens, todas as quatro afirmam que vem sofrendo de Transtorno de Estresse Pós-Traumátido (PTSD, em inglês) após suas respectivas experiências com Manson.
Nos prints, Ashley Walters escreveu: “Continuo a sofrer de PTSD e a lutar contra a depressão. Mantive contato com algumas pessoas que passaram por seus próprios traumas, sob o controle dele [Manson]. Enquanto todos nós lutávamos, como sobreviventes, para continuar com nossas vidas, eu continuava ouvindo histórias perturbadoramente semelhantes às nossas próprias experiências. Ficou claro o abuso que ele causou; ele continua a infligir a muitos e eu não posso ficar parada e deixar isso acontecer com os outras. Brian Warner precisa ser responsabilizado.”
Já Sarah McNeilly revelou o medo que sente de entrar no radar do cantor novamente. “Eu tenho medo de trazer qualquer holofote sobre mim para evitar cair em sua mira novamente. Como resultado da maneira como ele me tratou, sofro de problemas de saúde mental e PTSD que afetaram meus relacionamentos pessoais e profissionais, minha autoestima e objetivos pessoais”, escreveu ela. “Eu acredito que ele estraga a vida das pessoas. Eu apoio tudo o que tem e tudo virá. Quero ver Brian responsabilizado por sua maldade”, finalizou.
Ashley Lindsay Morgan revelou que, além do Transtorno de Estresse Pós-Traumático, desenvolveu outros distúrbios psicológicos. “Tenho terror noturno, PTSD, ansiedade e, principalmente, TOC [Transtorno Obsessivo Compulsivo] incapacitante. Eu tento constantemente tirá-lo [Manson] de mim”, escreveu ela sobre a experiência horrenda.
Wood também compartilhou o depoimento de uma mulher chamada Gabriella. “Levei cinco anos para falar e dizer que estava em um relacionamento abusivo. Fui diagnosticado com PTSD e ainda sofro com pesadelos. Eu bloqueei muitas das memórias, mas os sentimentos permanecem e se manifestam de várias maneiras”, diz a publicação. “A razão pela qual finalmente estou compartilhando esta experiência traumática é para minha cura e porque cansei de ficar em silêncio. Não acredito que seja justo alguém não ser responsabilizado por suas ações horríveis. Eu não sou uma vítima. Eu sou um sobrevivente”, finalizou.
Fantasmas do passado
Segundo o The Hollywood Reporter, essa não é a primeira vez que acusações de estupro e violência sexual foram feitas contra Marilyn Manson. De acordo com reportagem do veículo, meses após o movimento #MeToo começar a “purgar” e expor agressores na indústria do entretenimento, um relatório policial contra o cantor foi arquivado.
No documento, são citados crimes sexuais não especificados que teriam sido cometidos por Manson em 2011. Em 2018, o Ministério Público de Los Angeles anunciou que se recusava a prosseguir com o processo contra ele devido à falta de evidências.
Na época, o advogado de Manson, Howard E. King, disse ao The Hollywood Reporter: “As alegações feitas à polícia foram e são categoricamente negadas pelo Sr. Warner e são completamente delirantes ou parte de uma tentativa calculada de gerar publicidade. (…) Qualquer alegação de impropriedade sexual ou prisão naquele ou em qualquer outro momento é falsa.”
Apesar de terem negado as acusações semelhantes do passado, até o momento, Manson e seus representantes não se pronunciaram sobre as novas declarações das vítimas.