Anos após sair da TV Globo, a jornalista Veruska Donato abriu o jogo sobre o diagnóstico do burnout e como lida emocionalmente com a saída da emissora. A ex-repórter contou ao UOL, nesta terça-feira (16), que ainda sofre com a doença e tem pesadelos frequentes.
Em 2021, ela foi desligada do quadro de funcionários da Globo após permanecer mais de 70 dias afastada ao ser diagnosticada com Síndrome de Burnout, distúrbio emocional provocado por estresse crônico no trabalho. A jornalista revelou que estava em um cruzamento da Avenida Brasil, em São Paulo, e não se lembrava para onde deveria ir. Na época, ela ligou para o chefe e desabou. “Nos dias seguintes, eu fui passar o meu crachá [na catraca da emissora] e comecei a chorar. Era uma tristeza, uma tristeza. Eu falava: ‘O que está acontecendo? Eu gosto de ser jornalista, eu gosto de ser repórter. O que está acontecendo comigo?‘”, relembrou.
Veruska explicou que ainda sofre após o episódio. “Tenho pesadelos com a Globo quase toda semana. Tenho pesadelos horríveis […] Sonho que estou contratada, trabalhando na empresa ainda, e aí, quando chego com o meu material para botar no ar, eles dizem: ‘Não, mas você não trabalha mais aqui’. É tudo muito confuso. Fico sem casa, começo a passar fome, não arrumo mais emprego em lugar nenhum, porque é mais ou menos isso que aconteceu“, declarou.
A jornalista entrou com um processo trabalhista contra a emissora. “Eu queria que as pessoas soubessem, eu queria que soubessem por mim que não foi legal. Eu queria que as pessoas soubessem que eu sofri. Eu sofri. Doía você se achar incompetente. Dói, depois de tantos anos, e você beirando os 50, porque quando eu saí de lá eu tinha 49. Eu fiz por dor, porque doeu”, disse.
No início da carreira, ela conta que precisou mudar seu visual para se adequar ao padrão estético da empresa: “Me levaram a um cabeleireiro no Rio de Janeiro. Ele cortou meu cabelo aqui [indicando cabelo curto]. Eu chorava, porque eu não queria. Essas etiquetas de como se vestir, como se comportar, sempre existiram“, lamentou.
Ela explica que demorou para enxergar a exigência do canal de TV. “Espero que a situação clareie para muitas mulheres. Estou falando isso exatamente para dizer que demorei muitos anos para descobrir que a Globo exigia tanto desse padrão, dessa estética, que eu adoeci”, declarou, acrescentando que recebeu críticas da chefia por conta de sua “flacidez, ruga e gordura fora do lugar”.
Três anos depois, a emissora foi condenada pela Justiça do Trabalho por impor um “padrão de beleza” e contribuir subjetivamente para a “existência da doença do trabalho“. Em nota ao hugogloss.com, a TV Globo enviou um posicionamento sobre o caso. Confira:
“A Globo não comenta casos sub judice, mas reitera que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa. Além disso, também oferece treinamentos constantes para manter um ambiente de trabalho saudável e um sistema de compliance eficiente, que apura criteriosamente todos os relatos que chegam à Ouvidoria, punindo comportamentos contrários ao Código de Ética, inclusive com desligamentos. Nosso sistema de compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias”.
Veruska deixou São Paulo no fim de 2021 e voltou a morar em Campo Grande (MS), sua cidade natal, com a filha. Ela chegou a apresentar um programa na afiliada da Record por dois anos, e hoje atua como assessora de imprensa da prefeitura local.
Assista à reportagem do UOL com a jornalista: