O padre paraibano Danilo César de Sousa Bezerra, de 31 anos, foi notificado extrajudicialmente por Gilberto Gil e Flora Gil após fazer comentários sobre a morte de Preta Gil durante uma homilia na Paróquia de São José, em Areial, na Paraíba. A equipe do hugogloss.com teve acesso exclusivo ao documento, que acusa o pároco de se referir de forma desrespeitosa às religiões afro-brasileiras ao mencionar a cantora.
O episódio ocorreu em 27 de julho, uma semana após o falecimento de Preta, vítima de câncer. Durante a celebração, o padre utilizou a morte da artista como exemplo em sua pregação e declarou: “Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”
As declarações resultaram no registro de três boletins de ocorrência contra o sacerdote. O caso foi encaminhado à Polícia Civil, que instaurou investigação.
REPÚDIO.
O que o padre Danilo César fez durante uma missa na Paraíba não é opinião, nem pregação é intolerância religiosa.
Ao dizer:
“Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”
ele zombou da fé de milhões de… pic.twitter.com/txLAL5VlhB— Beta Bastos (@roberta_bastoss) July 30, 2025
Notificação extrajudicial
Os familiares de Preta enviaram uma notificação acusando o padre de intolerância religiosa e de desrespeito à memória da artista. O documento afirma que, ao falar sobre a relação entre fé e sofrimento, Danilo César desqualificou religiões de matriz africana, chamando-as de “forças ocultas” e expressando desejo de que “o diabo levasse” seus praticantes.
“Em seguida, debochou da fé que atribui à cantora Preta Gil e ao seu pai, Gilberto Gil, ao ironizar a ausência de intervenção dos orixás numa supostamente desejada ressurreição da artista; ao fazê-lo, associou diretamente sua espiritualidade ao sofrimento, com tom e postura inapropriados”, diz a notificação.
O time jurídico de Gilberto e Flora destaca no texto o “enorme desrespeito” ao momento de luto vivido pela família, bem como à memória e à honra de Preta. Segundo eles, a conduta configura “violação à liberdade religiosa”, crime previsto no Código Penal com pena de dois a cinco anos de reclusão. A gravidade do caso, segundo a notificação, aumenta pelo fato de a fala ter sido proferida durante a função sacerdotal, podendo incentivar fiéis à intolerância.

O documento também ressalta que a homilia foi transmitida ao vivo pelo canal oficial da paróquia no YouTube, gerando “repercussão incalculável e potencial de eternização” do conteúdo, com impacto direto sobre comunidades religiosas de matriz africana.
“Passados mais de 15 dias do fato, não houve manifestação pública ou qualquer comunicado feito à família com intuito de retratação das graves ofensas. Com todo respeito, a omissão de Vossa Excelência Reverendíssima e de Vossa Reverência contribui para perpetuar o estado de desrespeito à família, à memória da Sra. Preta Gil e às religiões de matrizes africanas”, afirma a notificação.
Endereçado à Diocese de Campina Grande e ao padre Danilo César, o documento exige retratação pública e formal por meio do canal da paróquia. Gilberto e Flora também pedem a apuração e responsabilização eclesiástica do sacerdote, com adoção de medidas disciplinares no prazo de dez dias úteis.
A defesa da família encerra o texto afirmando: “Ressaltamos nossa confiança na atuação ética desta Diocese e acolhimento deste requerimento de adoção de providências e de retratação pública. Por oportuno, declaramos que a presente Notificação não representa renúncia às medidas judiciais cabíveis, de ordem cível ou criminal, relativas ao fato”.
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