A apresentadora do “RuPaul’s Drag Race Brasil”, Grag Queen, deu um depoimento sobre quando foi submetida à “cura gay”, com detalhes chocantes da “terapia” que sofreu na adolescência. O vídeo integra o “Projeto Fim da Cura”, e foi compartilhado com exclusividade, com o hugogloss.com.
No relato, Grag surgiu fora de sua personagem e com seu verdadeiro nome, Grégory Mohd. Ele começou explicando que sua mãe era chamada na escola e questionada sobre a sexualidade do filho. “A teoria de que eu não pertencia, de que eu era errado e de que eu tinha que ser modificado, entrou na minha cabeça. E como todo hábito, a lavagem cerebral é feita. Não existia ele é gay, homossexual, não é uma opção. Você tem um demônio dentro de você e tem que expulsar ele. Uma criança com 10, 11 anos, com a responsabilidade de um demônio dentro de si para expulsar”, contou.
Grégory revelou que foi levado a um pastor para iniciar o “tratamento”, e deu detalhes das práticas abusivas que eram realizadas: “Eu tinha que ficar de jejum de sete horas, tinha que beijar meninas, namorar meninas para ir contra esse ‘demônio'”. Ele relatou ainda que os jovens eram submetidos a eletrochoques. “Eles molhavam nossa boca e cabeça, enquanto a gente levava choque tinha que repetir expressões como: ‘Eu não sou gay’ e ‘Eu nego a mim mesmo'”, relembrou.
O cantor também contou que eles assistiam a depoimentos de mulheres trans que tinham destransicionado e virado pastores: “Eles mostravam elas, mostravam que tinham tirado os peitos e diziam ‘olha como é possível você ter sua família, como você pode ser livre do homossexualismo'”.
“E essa cura nunca chegou para ninguém. Mas faz você acreditar que precisa ser mudado, precisa ser concertado”, contou, explicando que sofreu porque sempre queria cantar na igreja. “Eu sou cantor. Eu queria muito cantar na igreja. Enquanto eu não era curado, eu não ia cantar na igreja”, lamentou. O artista continuou o relato dizendo que conseguiu se livrar dessas práticas após sair de casa: “Mas eu ainda não me amava. Ainda não pertencia a um lugar. Esse óculos que é colocado na gente, de incapaz, de doente, ele segue na nossa cara, independente de onde a gente olhe”.
“Me dá tanto repúdio, é como se pegasse toda a minha história e colocasse em um quadro clínico, de uma pessoa que está doente. Tentaram me curar de viver a liberdade de ser eu”, declarou, acrescentando que se tornar uma drag queen foi o “resgate da sua liberdade”.
A apresentadora do “RuPaul’s Drag Race Brasil” conta que passou por momentos muito difíceis, e que quer usar sua voz para ajudar outras pessoas. “Me sentia pressionada a mudar quem eu era, e isso me causou muita dor e sofrimento. Quero usar minha voz para ajudar outras pessoas que estão passando pelo mesmo que eu passei, e para que ninguém mais precise sofrer por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero”, declarou.
Grag finalizou o depoimento pedindo a criminalização dessas práticas. “Temos que criminalizar esses atos, foi criminoso o que fizeram comigo, me senti abusado mentalmente. Me sinto lesionado até hoje. Ninguém tem o direito de mudar a nossa biologia de ser livre”, concluiu. Assista ao depoimento completo:
A drag queen é embaixadora do “Projeto Fim da Cura”, que tem o objetivo de combater as chamadas “terapias de conversão”, práticas pseudocientíficas e prejudiciais que visam mudar a orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa. A campanha busca denunciar essas práticas, conscientizar o público sobre seus perigos e pressionar por sua criminalização.
Faz parte do projeto também um curta-metragem que compara os métodos torturantes do passado, como os utilizados no Sanatório Pinel nas décadas de 1930 e 1940, com a tortura psicológica vivida por pessoas LGBTQIAPN+ que se submetem à terapia de conversão. Assista:
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