Filho de Cid Moreira descreve abusos que teria sofrido do jornalista, episódios de masturbação e expulsão de casa por ciúmes

Roger Felipe Naumtchyk, filho adotivo do comunicador, contou que os assédios denunciados começaram quando ele era adolescente

O filho adotivo de Cid Moreira (1927 – 2024), Roger Felipe Naumtchyk, de 47 anos, relatou ter sido abusado sexualmente pelo apresentador. Em entrevista à coluna Gente, de Valmir Moratelli, da revista Veja, nesta terça-feira (8), ele descreveu as supostas violações e contou que teriam começado quando ainda era adolescente. O cabeleireiro também disse que se juntou ao irmão, Rodrigo Razendev Simões Moreira, de 54, filho biológico do comunicador, para brigar na Justiça pelo direito à herança.

Roger foi morar com Cid aos 14 anos, por intermédio da tia, Maria Ulhiana Naumtchyk, com quem o ex-âncora do “Jornal Nacional” era casado. Segundo ele, os abusos começaram logo cedo e o processo de adoção formal foi apressado para evitar especulações. Em uma entrevista à Caras, porém, o apresentador sempre negou as acusações, afirmando que o herdeiro estava o “perseguindo” e “inventando histórias que nunca aconteceram”.

“Vim para o Rio [de Janeiro] em 1990, tinha 14 anos quando vim para passear. Cid era casado com uma tia minha. Já o conhecia há anos, ele ia lá no Rio Grande do Sul visitar minha família. Em 1990, quiseram me trazer ao Rio para ficar uns dias, passar uma semana. Só que ele gostou de mim e quis que eu trabalhasse como seu secretário. Naquele momento, para minha família de situação humilde, parecia uma grande oportunidade. Ainda mais ele sendo uma pessoa importante”, recordou Roger.

“Depois de uns dois meses morando com ele, voltando para dentro de casa, me deparei com ele fora da sauna completamente nu. Aquela situação me deixou em choque, a gente está falando em 1990. Eu era ingênuo em relação a isso. Subi logo ao escritório. Pouco tempo depois, ele começou a dar uns gritos na sauna e desci correndo, achei que ele tivesse se machucado. E aí vi que ele estava se masturbando”, descreveu, em seguida.

Conforme o cabeleireiro, as supostas atitudes de Moreira eram “corriqueiras”. “Todos os funcionários ouviam. Algum tempo depois, comecei a fazer a sauna com ele a seu pedido. Era 24 horas com ele, se ele ia para a Globo, eu ia também. Eu era sua sombra, considerado o carregador de malas. Na Globo, falavam que eu era o ‘garotão do Cid’. Mas ele me tratava como filho”, observou.

Roger e o pai, Cid Moreira. (Foto: Reprodução/Record)

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“Até que um dia, nessas saunas, ele pediu para que eu passasse a ajudá-lo na masturbação. Nessa época, para mim, aquilo não era estupro ou assédio. Não considerava um abuso, nem imaginava o que era aquilo. Só agora, mais recente, entendi que fui abusado. Um tipo de estupro”, declarou o filho adotivo.

Roger disse que não entendia que havia algo errado até então. “Fui virgem até quando deixei a casa dele, em 2004, sem contato sexual nem com homem nem com mulher. O único relacionamento que tive foi com meu atual, até hoje. E foi aí a gota d’água, onde assumi esse relacionamento. Ele tentou camuflar toda a situação que tinha acontecido. Antes, quando começou a acontecer [o abuso], ele colocou essa coisa como se fizesse parte do meu trabalho”, afirmou.

“Para mim, o fato tinha que ter penetração. Não imaginava que aquilo ali já se concretizava um abuso sexual. Estava tão condicionado com aquilo, que não me machucava, não me violentava, eu bloqueava. Tanto que bloqueei isso durante muito tempo, muito tempo mesmo. Isso dificultou minha vida em relação à parte de sexo, até hoje. Tenho um bloqueio com isso, me causa traumas até hoje”, confessou o profissional de beleza.

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Roger também revelou com que frequência aconteciam os supostos abusos. “Às vezes três vezes por semana, às vezes a semana passava e não acontecia nada, às vezes aconteciam quatro vezes por semana. A gente sempre ficava no mesmo quarto [de hotel]. E nunca iam desconfiar. Se o filho é teu, é normal. Agora, se ficar no quarto com um garoto de 15 anos, pode gerar uma desconfiança. Era assim”, detalhou.

Os episódios acabaram anos depois, segundo a coluna.[Rompemos] por conta dos ciúmes dele, quando eu quis assumir um relacionamento. Parece que é mais fácil esquecer ou dizer ‘não’, do que ter que abrir isso e jogar o balde”, apontou ele. O herdeiro, então, entregou a justificativa que Cid teria usado à época.

[Disse] que eu não poderia trabalhar com ele na gravação da Bíblia, que tinha que sair de casa e ir para o salão de beleza, que combinava mais. E Fátima [Sampaio, viúva de Moreira] disse que eu não poderia continuar nos trabalhos da Bíblia, porque sendo gay mancharia a imagem do Cid. Fui mandado para fora de casa, até a minha cama ele tirou”, disse.

Cid Moreira morreu em 3 de outubro, aos 97 anos (Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo)

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“Perdi meus dois imóveis, tinha um estúdio de gravação, onde gravávamos os CDs da Bíblia, que ele construiu para mim. Fui tirado do apartamento com uma juíza dentro da casa. Fátima vendeu o apartamento e comprou uma casa para ela. Mesmo assim deixei tudo isso para lá e fui viver minha vida, mas muitos ataques continuaram acontecendo”, enfatizou.

Em seguida, ele revelou o sentimento em relação ao pai após os abusos denunciados. “Sinceramente? Pena, porque ele tinha um problema, vício por sexo. Isso foi o que ocasionou que Fátima também conseguisse manipulá-lo durante todo esse tempo”, soltou. Roger também foi questionado se o apresentador era gay, mas não confirmou.

“Não posso afirmar isso, porque nunca vi nada fora o que acontecia comigo. Ele tinha relacionamento com a minha tia, só que ela passava às vezes 24 horas fora de casa, era dona de salão de beleza. Nunca vi outros relacionamentos. Ele se satisfazia com aquilo e eu. Na primeira vez que aconteceu, fiquei em choque, mas passei a considerar um trabalho”, pontuou.

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Processo de adoção

O cabeleireiro também mencionou a questão de sua adoção na maioridade. “Não sei [porque ocorreu desta forma]. Tinham muitos burburinhos. A adoção se concretizou em 2001 e continuei a morar com ele. Era tratado como filho desde sempre, mas o documento oficial só saiu em 2001, quando já tinha 25 anos. Fiquei morando lá com ele até 2006. Os abusos pararam de acontecer em 2000, mais ou menos”, relatou.

O herdeiro acrescentou que não contou para o irmão nenhuma das situações. “Não tinha contato com Rodrigo, nunca participou da casa, Cid sempre detestou ele. O único contato que Cid teve com ele foi aos 2 anos e um outro com 9. Cid sempre odiou ele, mas nunca soube o porquê. Ele não ficava falando sobre ele, só sabia que ele não gostava. Tinha comentários de que ele era gordo, vagabundo, que não trabalhava. Conheci o Rodrigo recentemente, em 2021. E mesmo agora, a gente tem vidas diferentes”, explicou.

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Conversa final

Roger Felipe ainda expôs sua reação ao descobrir a morte de Cid Moreira, e entregou uma última conversa que queria com o pai. “Trabalho demais, às vezes 12 horas num dia. Faço alongamento de cabelo para produções de filmes e novelas. Agora estou fazendo ‘Mania de Você’ (…) Quando descobri seu falecimento, foi uma surpresa. Fiquei sabendo na estrada para São Paulo, porque a Fátima estava escondendo ele durante esses dias todos no hospital”, disse.

“Tinha tanta coisa que gostaria de ter falado para ele. Com certeza gostaria de falar daqueles abusos. Para mim, é uma coisa encerrada, não é algo que alimento com ódio. As pessoas falam: ‘Você tem ódio dele porque ele era abusador?’. Não, não tenho ódio. Mas é óbvio que me causou algo, hoje em dia sou meio assexuado”, analisou.

Na sequência, Roger citou como Fátima teria influenciado na relação dele com Cid. “Era um direito nosso ter esse contato com ele, mas a Fátima nunca permitiu. Ela tinha medo dessa aproximação. Em 2014, Cid me mandou um e-mail dizendo que queria me deserdar, que não queria que as pessoas soubessem que eu tinha contato com ele. Por que isso foi feito do nada? Qual o motivo?”, questionou-se.

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“Ele escreveu: ‘Não quero que saibam que tenho qualquer contato com você, tentei reverter essa adoção e não consegui. Mas vou fazer um documento assinado em cartório, atestado por médicos, que não estou senil, para deserdar você’. Foi meu último contato, por e-mail. Antes disso, foi em 2004, quando deixei sua casa”, informou.

Briga pela herança

Por fim, Roger abordou sua luta atual na Justiça pela herança do comunicador. “Isso é um direito. Na lei brasileira, não se pode tirar herdeiros do testamento”, cravou, referindo-se ao desejo de anular o testamento para ter acesso aos bens. “Quem está lutando sempre foi e é a Fátima. Ela vai tentar todas as manobras possíveis, porque o interesse dela sempre foi financeiro, ficar com o dinheiro dele”, concluiu.

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