O que importa é ouvir a voz que vem do coração… Essa frase é da música icônica “Canção da América”, de Milton Nascimento, mas poderia muito bem ser usada para resumir a sua relação com o filho, Augusto Kesrouani Nascimento. Nesta quinta-feira (31), o único herdeiro da “voz de Deus” conversou com a coluna UOL Tab sobre o relacionamento pessoal e profissional que mantém com o artista, que em 2017 decidiu escutar o seu coração e adotar o rapaz.
Durante o bate-papo, ele relembrou como os dois se conheceram. Milton tinha o costume de visitar um casal de amigos de Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, e Augusto estava nessas ocasiões porque conhecia o filho do casal. “A primeira vez que o encontrei, achei ele de uma antipatia…”, falou ele no modo sincerão, ao relembrar a época de sua adolescência.
No entanto, a má impressão logo passou depois que os dois se encontraram mais algumas vezes. “Ele é muito fechado, mas ficou sabendo que eu não tinha relação com meu pai biológico e ficou curioso. Lembro de um dia ele chegar pra mim e dizer: ‘Se você fosse meu filho e não falasse comigo, acho que eu me matava’. Aquilo me marcou. Foi a primeira vez que senti um carinho paterno”, revelou ele.
A princípio, a relação de Augusto com o músico incomodou sua família. “Imagina um adolescente apresentando um pai ao invés de uma namorada”, brincou ele. “Com o passar do tempo, minha mãe entendeu que não era uma coisa leviana, que não estávamos brincando de pai e filho”. De acordo com o advogado, sua mãe, Sandra, e Milton são amigos e mantém contato por telefone. A relação de proximidade é tanta que o cantor até passa os feriados festivos com a família.
Augusto disse que quando estavam no processo de adoção, o artista pedia para que ele o levasse sempre que possível a Juiz de Fora. O astro chegou a dormir no dormitório estudantil do rapaz. “Teve um dia que a gente não tinha nada em casa e ele jantou miojo. Aí falei: ‘Acho que é melhor você se mudar pra cá’. Ele topou mudar, eu achei uma casa. Não dava”, contou.
Os dois são pai e filho oficialmente na Justiça há cinco anos e a certidão, inclusive, foi emoldurada e fica na cabeceira do quarto do cantor. Augusto foi quem idealizou a turnê de despedida do pai e trabalha gerenciando a carreira do artista. No entanto, ele disse que no início se incomodava com os comentários feitos sobre o seu relacionamento com Milton. “Recebo comentários bonitos, mas tem alguns que ainda falam ‘está na cara que são namorados’. No início me incomodava, mas hoje, foda-se. Hoje ele está no hype, a gente viaja junto, está ganhando dinheiro e muito bem. O show é a pontinha do iceberg da nossa vida. Tem uma parte que ninguém sabe”, afirmou.
“Tem gente que acha que eu não tenho mãe”, reclamou ele. Na entrevista, Augusto fez questão de destacar a importância dos seus pais na sua vida. “É minha grande referência. Sempre que tenho dúvida de alguma coisa, ligo para ela e pro meu pai”, disse. Já sobre o seu pai biológico, ele preferiu deixar a relação no passado: “Era uma pessoa que não tinha nada a ver comigo, uma relação que não me fazia bem”.
O filho da estrela da MPB ainda recordou um momento que marcou o relacionamento dos dois, quando Milton precisou ser internado após se submeter a um cateterismo. “Vim correndo de carro pro hospital. Ele estava sozinho. Quando me viu, abriu o maior sorriso do mundo. Naquele momento, eu vi que eu era insubstituível. Foi um momento muito importante nosso. De ele sentir de fato família e amparo. De que pode acontecer qualquer coisa porque o Augusto estava ali”, disse.
Segundo a coluna, pessoas próximas contam que o artista sempre quis ser pai. Ele chegou a ter um “filho de coração” chamado Pablo Ferreira, que foi homenageado na música Pablo, mas perdeu contato com ele durante o regime militar. “Essa história o marcou”, disse Augusto. O rapaz era filho da comerciante de objetos de arte Cáritas, com quem o artista se relacionou nos anos 1960. “Ele se casou três vezes e nunca concretizou esse sonho. Foi quando ele mais chegou perto de ser pai”, relatou ele.