Ivete Sangalo faz discurso poderoso e emocionante ao receber prêmio no “Domingão do Faustão”: “Brasil é um país racista e homofóbico”

A rainha do Brasil e dos nossos corações, Ivete Sangalo, foi homenageada no último domingo (27) com o Troféu Mário Lago, no “Domingão do Faustão”, da Rede Globo. O prêmio reconheceu os 25 anos de carreira da baiana, sua contribuição artística e conexão com o público brasileiro. Veveta não segurou as lágrimas durante seu discurso. “Eu tô muito emocionada, vixe, mas eu quero estar porque eu acho bom”, revelou a artista a Fausto Silva.

Mesmo com a voz embargada, Ivete aproveitou o momento solene para discursar sobre racismo, homofobia e igualdade de direitos. “Tão difícil isso tudo que estamos passando na pandemia. Essa expectativa, essa ansiedade de que tudo se resolva logo…. (…) Embora seja um momento muito difícil, eu acho que alguma coisa aprendemos nessa pandemia e acho que a maior dela é perceber o outro. Não há como passar por isso e chegar num resultado positivo se a gente não olhar o prisma do outro, a vida do outro e se colocar no lugar do outro”, avaliou Ivete.

“Tentei ao máximo fazer, através das minhas lives, uma conexão com a necessidade de muitas pessoas e conseguimos através do público muito participativo, muito colaborador. Fico muito lisonjeada porque estamos tratando de uma carreira, de uma vida … E é através do amor das pessoas, do público, dessa nossa sociedade nossa brasileira, que eu recebi então essa ‘estada’ na vida das pessoas, através da música. Somos conhecidos pelo mundo pela nossa alegria e simpatia. Eu reconheço isso e sou muito agradecida por isso, mas eu acho que há de ter um reconhecimento, também, das nossas falhas como sociedade”, disse ela.

“O nosso país é o que mais mata homossexuais no mundo. O Brasil é um país racista, homofóbico, de feminicídio e de ataques às minorias, que não são minorias”, reforçou a artista. “Esse perfil doente, equivocado, é pautado todo na ideia da desigualdade. O poder dessas pessoas parte da ideia da desigualdade. Sabendo todos eles que somos todos iguais em direitos. Cada um de nós tem uma personalidade, uma maneira de ser, de viver, gostos… Mas nos direitos nós somos iguais. Cabe a nós nos olharmos para que a gente continue vibrando essa alegria que estamos aqui, para que tenha notícia boa, mas consciente de que os indivíduos têm que ser respeitados de forma igual. É isso o que a gente quer”, discursou.

“Agradeço muito pelo fato de ser uma pessoa reconhecida, famosa, mas sou uma mãe. E o meu filho pode correr na rua sem camisa. Para mim, seria terrível não deixar meu filho andar na rua porque poderia ser alvejado por uma bala… Ou um filho meu ser homossexual e não poder ser feliz, simplesmente por isso”, disse a cantora. “Me perguntam muitas vezes o que eu vou ensinar para minhas filhas sobre esse mundo machista. Esse mundo que usou o argumento da pandemia para aumentar o número de mulheres assassinadas, sob o argumento de que os homens não tinham entretenimento… todo argumento é viável para aquele que não respeita, para aquele que não se coloca, que se sente inferior a mulher e desconta nela todo esse poder de ódio”, reforçou.

“Eu não ensino às minhas filhas, ensino ao meu filho”, revelou Ivete. “Eu ensino ao meu filho que ele tem que entender o seu próprio poder, mas ele precisa respeitar o poder de iniciativa, de criatividade, de existência do outro. Seja uma mulher, seja um homem, quem quer que seja”, finalizou.

Amizade de longa data

Além do discurso marcante, a cantora aproveitou para agradecer ao apresentador, Fausto Silva. Consagrada a maior campeã do “Melhores do Ano” – pois já levou 12 outros troféus para casa -, Veveta se mostrou grata por todo o apoio recebido pelo comunicador, no início de sua carreira solo.

“Eu não imaginava um dia estar aqui com essa homenagem tão linda”, disse Ivete. “Eu fico muito emocionada porque a nossa história se confunde muito, né Fausto? (…) Eu tive a oportunidade conhecer meu ídolo da televisão, uma pessoa que eu quero um bem enorme e a partir daí você me mostrou que você estava aqui com um propósito, também. Além de ser apenas um comunicador, você queria ser um cara que ia fazer diferença na vida de muitas pessoas e eu sou uma dessas pessoas”, afirmou ainda.

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“Quando eu liguei para você eu falei ‘Fausto, eu tô saindo pra carreira solo e eu preciso muito do seu apoio’ e você, bicho, você foi determinante naquele momento”, continuou. Os dois ainda demonstraram toda a conexão que compartilham com um ‘dueto’ – Fausto soltou a voz, sem conseguir conter a empolgação durante a apresentação dos maiores sucessos da carreira da baiana.

Ao lado de Ivete, o apresentador cantou e dançou e a internet, claro, foi à loucura! Confira reações:

Homenagem à Nicete Bruno

O “Domingão do Faustão” também contou com uma homenagem à atriz Nicette Bruno, que faleceu aos 87 anos por complicações da Covid-19. Em um discurso que gerou lágrimas dos telespectadores e internautas, Faustão relembrou a importância da atriz para os admiradores e para a televisão brasileira.

“Uma atriz extraordinária, todo mundo sabe do talento no cinema, no teatro, na televisão. Só que, para nós que convivemos com ela, ela e Paulo Goulart deram uma outra lição de vida: além do sucesso, além da realização profissional, esses dois conseguiram construir uma bela história de dignidade, de amor à família”, disse ele.

“Com certeza, no nosso coração sempre haverá espaço e jamais esqueceremos essa família que já tem netos, bisnetos e que vai dar ainda muita alegria. Do céu, Paulo Goulart e Nicette Bruno vão agora vibrar com as conquistas de seus herdeiros”, finalizou o apresentador.