Nesta quarta-feira (24), Manoel Soares esteve presente no “Quem Pode, Pod“, apresentado por Giovanna Ewbank e Fernanda Paes Leme. O apresentador falou sobre a hiperssexualização do corpo negro na sociedade e relembrou a trajetória de vida de sua mãe, dona Ivanete.
Soares contou que sua progenitora, de 63 anos, foi comercializada como escrava durante os anos 1960, época em que morava no Recôncavo Baiano (BA). Ela chegou a ter uma das orelhas mutilada por seus “donos”. “A minha mãe é especial não por ser minha mãe, mas porque é a única pessoa que conheço que viveu a escravização e o Facebook na mesma vida”, disse.
“A gente está falando de uma mulher que foi vendida e comprada no Recôncavo Baiano, na década de 1960. Imagina que minha mãe foi vendida. E ela viveu essa escravização. Ela tem uma das orelhas cortada porque seus donos rasgaram a orelha dela. Ela tem um monte de traços de uma vida que a gente acha que é [passado]… E, ao mesmo tempo, ela está bombando no Face e no Instagram”, complementou.
Manoel também revelou situações de violência que ela viveu quando trabalhou como empregada doméstica, algum tempo depois: “Eu me lembro do patrão da minha mãe acochando ela. Me lembro da minha mãe chegando em casa chorando porque a mulher deu um monte de escovas [de dentes] usadas e disse: ‘É só você colocar na água quente e dá para eles [os filhos de Ivanete] usarem’. Minha mãe [chegou] em casa chorando, quebrando as escovas de dentes e no outro dia tendo que ir trabalhar”.
O comunicador ainda refletiu sobre a percepção que dona Ivanete tem sobre a fama que o rodeia por ser uma figura pública. Segundo ele, a mãe é sua fã em “um lugar que não tem nada a ver com a televisão”. “Noto que ela cultiva em mim a posição de líder do nosso clã e a televisão é um substrato disso tudo“, contou.
Hiperssexualização do corpo negro
Em outro momento da conversa, o comunicador expressou que, por muito tempo, hiperssexualizou as relações interpessoais por “acreditar” que essa era “a única forma” que tinha de se aproximar das pessoas. Tudo por conta do racismo estrutural. “Eu hiperssexualizei as relações que eu tinha. Qualquer relação. Durante muito tempo eu acreditei que a única forma que eu teria de me aproximar das pessoas era numa relação sexual, não estabelecia uma relação de amizade, tentava estabelecer uma relação de sexo”, declarou.
“É que me disseram que nós negros éramos ótimos tr*padores, que nós tínhamos p*u grande… Eu fui aprender a bloquear o processo de sexualização e de entender que mulheres bonitas e inteligentes podem ser minhas amigas, e a gente não precisa transar, há 10, 12 anos, porque a forma de comunicação que eu estabelecia era essa”, concluiu ele.
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